Economia

Bens de consumo ficarão ainda mais caros no mundo todo

A Unilever aumentou os preços em 4% no último trimeste, o maior salto desde 2012. Nestlé, Procter & Gamble e Danone também fazem alerta sobre alta

 (Leandro Fonseca/Exame)

(Leandro Fonseca/Exame)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 24 de outubro de 2021 às 08h58.

Última atualização em 24 de outubro de 2021 às 08h58.

Consumidores em todo o mundo logo vão se deparar com preços ainda mais altos nos produtos de uso diário. Várias empresas, incluindo a gigante de alimentos Unilever e a fabricante de lubrificantes WD-40, fizeram o alerta esta semana, diante das dificuldades em suas cadeias de suprimentos.

A fabricante do sabonete Dove e do picolé Magnum aumentou os preços em mais de 4% em média no último trimestre, o maior salto desde 2012, e sinalizou que os preços continuarão elevados no ano que vem. Nestlé, Procter & Gamble e Danone, que dominam as prateleiras dos supermercados do planeta, fizeram avisos semelhantes.

“Esperamos pelo menos mais 12 meses de pressões inflacionárias”, disse o CEO da Unilever, Alan Jope, em entrevista à Bloomberg Television. “Estamos em um ambiente inflacionário que só ocorre uma vez em duas décadas.”

As empresas estão enfrentando uma difícil combinação de desafios na cadeia de suprimentos e custos mais elevados de energia, matérias-primas, embalagens e transporte. Em sua maioria, as fabricantes de bens de consumo que divulgaram resultados esta semana se declararam confiantes em sua capacidade de limitar o impacto de longo prazo na lucratividade. Isso significa que a dor será sentida no bolso dos consumidores às vésperas das festas de fim de ano.

Nos EUA, a inflação é a maior desde 2008. Em todas as economias desenvolvidas, os desequilíbrios entre oferta e demanda por causa da pandemia elevaram a inflação em 12 meses para mais de 4%. É apenas a segunda vez que isso acontece nas últimas duas décadas.

No Reino Unido, o custo de proteção contra a inflação ao longo da próxima década atingiu na sexta-feira o maior nível em 25 anos.

A volta do poder de imposição de preços é uma mudança radical na economia global e um novo desafio para os bancos centrais após anos de cumprimento das metas de inflação. As autoridades monetárias tentam descobrir se precisam acelerar a retirada de estímulos em economias abaladas pela pandemia ou manter o arcabouço atual porque os aumentos de preços são temporários.

Repasse para o consumidor

“Esta é uma história consistente em todo o mundo”, disse Jennifer Lee, economista sênior da BMO Capital Markets. “Os consumidores têm de se resignar agora.”

As empresas costumam elevar preços gradualmente, por isso o início de um período inflacionário é o que mais prejudica os lucros. Se as companhias repassarem os aumentos de custos rápido demais, os consumidores migram para produtos mais baratos da concorrência ou adiam compras. Algumas companhias têm preços definidos por contratos, por isso as famílias podem demorar mais para sentir o aperto.

“Não dá para repassar aumentos de um dia para o outro”, disse o CEO da Nestlé, Mark Schneider, à Bloomberg TV esta semana. “Mas agora essa medida está em andamento.”

Em geral, os preços da Nestlé subiram 2,1% no terceiro trimestre, o aumento mais rápido em pelo menos cinco anos.

Consumidores nos mercados emergentes enfrentam os maiores índices de inflação, como demonstraram os resultados da Nestlé. A gigante suíça fabricante do café Nespresso e das pizzas congeladas DiGiorno elevou os preços nesses países em 2,6% nos primeiros nove meses do ano, o triplo do reajuste aplicado nos mercados desenvolvidos. Schneider espera queda de margens devido ao tempo necessário para repassar custos mais altos. As margens devem voltar a melhorar em 2022.

“O que vemos no âmbito da inflação é que a situação vai piorar, então é claro que estamos trabalhando nos preços para compensar a maior parte disso”, disse Schneider.

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