Economia

BCs precisarão repensar estratégia diante da queda do dólar

O ano passado foi o pior para a moeda americana desde 2003

O recuo do dólar pode desacelerar o crescimento econômico e a inflação em outras partes do mundo (mars58/Thinkstock)

O recuo do dólar pode desacelerar o crescimento econômico e a inflação em outras partes do mundo (mars58/Thinkstock)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 6 de janeiro de 2018 às 08h01.

Última atualização em 6 de janeiro de 2018 às 08h01.

São Paulo - A desvalorização do dólar pode fazer o trabalho dos bancos centrais. O ano passado foi o pior para a moeda americana desde 2003. Para analistas do Bank of New York Mellon e do Crédit Agricole, com depreciação adicional, talvez os bancos centrais não precisem apertar tanto a política monetária quanto planejam agora.

O argumento é que, ao forçar a valorização de outras moedas, o recuo do dólar pode desacelerar o crescimento econômico e a inflação em outras partes do mundo, abrindo espaço para os juros permanecerem baixos.

“Um dólar mais fraco potencialmente pode causar impacto sobre outros bancos centrais”, disse Mohit Kumar, estrategista-chefe de juros do Crédit Agricole, em Londres. “De uma perspectiva mais ampla, uma moeda mais forte equivale a apertar a política monetária.”

O estrategista sênior de câmbio do BNY Mellon, Neil Mellor, distribuiu um relatório a clientes nesta semana afirmando que “apreciação cambial notável tem potencial para eviscerar previsões de retomada da inflação, o que indica possibilidade de congelamento dos planos iniciais de mudança da política monetária”.

Com o euro já próximo do maior valor em três anos em relação ao dólar, uma queda adicional da moeda americana pode ter implicações para a retirada do plano de estímulos do Banco Central Europeu.

O presidente do BCE, Mario Draghi, já atuou para conter a disparada do euro, alertando, em setembro, que a volatilidade cambial pode prejudicar a estabilidade de preços.

“É difícil ver o BCE acelerando o ritmo de retirada de estímulos se o euro continuar subindo”, estrategista global de renda fixa do Société Générale. “O risco é nunca atingirmos velocidade para escapar.”

Moedas asiáticas

Em 2017, o yuan teve seu melhor desempenho desde 2008, enquanto o iene registrou o maior ganho em relação ao dólar desde 2011. O won, da Coreia do Sul, teve a maior alta desde 2004 e a rúpia indiana teve seu melhor ano desde 2010.

O fortalecimento dessas moedas já “faz o aperto da política monetária que deixaria as autoridades asiáticas à vontade”, disse Rob Subbaraman, economista-chefe para mercados emergentes da Nomura Holdings, em Cingapura.

A valorização cambial tende a conter a inflação porque barateia os produtos importados e encarece as exportações. Se os preços não subirem, o risco para os bancos centrais é que políticas flexíveis criem bolhas nos mercados de ativos e retirem a munição dessas instituições para combater a próxima crise.

“Se houver fraqueza do dólar que implique força para moedas de mercados emergentes, isso significa que os bancos centrais de países emergentes não precisam ser tão agressivos ao colocar o pé no freio”, disse Dwyfor Evans, responsável por estratégia macroeconômica na região Ásia Pacífico da State Street Global Markets, em Hong Kong.

Ainda assim, a depreciação do dólar pode motivar o banco central dos EUA, o Federal Reserve, a elevar os juros mais rápido do que o previsto atualmente, forçando uma resposta por parte dos bancos centrais asiáticos, disse Rajiv Biswas, economista-chefe para Ásia Pacífico da IHS Markit, em Cingapura.

“Apesar da atual fraqueza do dólar, os bancos centrais da Ásia provavelmente continuarão preocupados com os riscos de inflação acima do esperado e com um aperto mais rápido do que o previsto pelo Fed”, ele disse.

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