O presidente do BCE, Mario Draghi: ele disse que o programa de compra de títulos de mais de 1 trilhão de euros está progredindo de maneira tranquila (Arne Dedert/AFP)
Da Redação
Publicado em 3 de setembro de 2015 às 11h50.
Frankfurt - O Banco Central Europeu (BCE) cortou suas projeções de inflação e crescimento econômico da zona do euro nesta quinta-feira, e seu presidente, Mario Draghi, disse que a situação pode ficar ainda pior.
Draghi prometeu reforçar ou prolongar o programa de compra de títulos do banco se o cenário realmente acabar piorando mais, apesar de ele ter dito que ninguém no Conselho argumentou a favor de tal medida agora.
O BCE, que manteve as taxas de juros inalteradas em uma decisão amplamente prevista, disse que as chances de não atingir a meta de inflação no médio prazo cresceram devido aos preços baixos de petróleo, ao crescimento mais fraco na China e outros mercados emergentes e à apreciação do euro.
Draghi disse que o programa de compra de títulos de mais de 1 trilhão de euros está progredindo de maneira tranquila, ainda que lentamente, e que o Conselho está pronto e disposto para adotar mais medidas de política monetária, mas que decidiu que seria prematuro fazer isso agora.
"Particularmente (o Conselho) recorda que o programa de compra de ativos oferece flexibilidade suficiente em termos de ajuste de tamanho, composição e duração do programa", afirmou ele em entrevista à imprensa.
Em uma pequena mudança ao programa de estímulo --também conhecido como "quantitative easing" (QE)-- o banco concordou em aumentar a fatia de qualquer emissão de bônus soberanos que pode comprar para 33 por cento ante 25 por cento, desde que isso não dê a ele uma minoria com poder de veto entre os detentores de bônus.
O BCE projetou que a inflação ficará em meros 0,1 por cento neste ano, 1,1 por cento em 2016 e 1,7 por cento em 2017, em comparação a 0,3, 1,5 e 1,8 por cento nas projeções de junho respectivamente.
O banco reduziu sua projeção de crescimento da zona do euro para 1,4 por cento em 2015, 1,7 por cento no ano que vem e 1,8 por cento em 2017, ante estimativas de junho de 1,5, 1,9 e 2,0 por cento respectivamente.
As projeções, entretanto, foram compiladas com base em dados colhidos antes de 12 de agosto e não levaram em conta a mais recente e forte deterioração econômica na China, que representa "riscos às próprias projeções", disse Draghi.
No entanto, ele afirmou que o Conselho tende a pensar que o cenário de inflação mais fraca deve-se a "efeitos transitórios", mas que irá monitorar todos os fatores relevantes.
Draghi confirmou durante a entrevista coletiva que o BCE cortou a assistência emergencial de liquidez (ELA, na sigla em inglês) para os bancos gregos pela segunda vez em duas semanas.
O BCE lançou o programa de estímulo de 60 bilhões de euros por mês em março para impulsionar os preços ao consumidor após um pequeno período de deflação.
O programa tem previsão de ser executado até setembro de 2016, mas Draghi indicou claramente que ele pode ser prorrogado.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) argumentou na quarta-feira que o BCE deve considerar prorrogar o programa de estímulo, citando a elevação nos riscos à economia global devido a uma combinação de ameaças, incluindo a desaceleração na China e a crescente volatilidade nos mercados.
A maioria dos analistas que participaram de pesquisa da Reuters espera que o BCE eventualmente prorrogue ou aumente suas compras de ativos.
Três quartos disseram que o banco simplesmente não tem mais ferramentas e que ajustar o programa de estímulo, que tem previsão de ser executado até setembro do ano que vem, é sua única opção viável.
"Mesmo que pareça muito cedo para esperar que anunciem mais 'quantitative easing', o presidente do banco central deveria considerar uma retórica mais 'dovish' para evitar que as expectativas de inflação caiam mais", disse o Crédit Agricole em nota para clientes.