Mario Draghi, presidente do BCE (François Lenoir/Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de agosto de 2012 às 12h13.
Frankfurt - O Banco Central Europeu (BCE) vai se preparar para comprar títulos italianos e espanhóis no mercado aberto, mas só agirá depois que os governos da zona do euro ativarem os fundos de resgate para fazer o mesmo, afirmou nesta quinta-feira o presidente da autoridade monetária, Mario Draghi.
Draghi indicou que qualquer intervenção do BCE não começará até setembro e dependerá de os países problemáticos nos mercados de títulos realizarem um pedido e aceitarem condições e supervisão severas.
Ele também indicou que o presidente do banco central alemão, Jens Weidmann, demonstrou reserva sobre a compra de títulos e que mais esforços serão necessários para convencer o Bundesbank a agir antes de uma votação final.
Em entrevista à imprensa após a reunião mensal do BCE, Draghi disse que o banco vai avaliar outras medidas "não-convencionais" para controlar a crise da zona do euro.
"O Conselho de Administração, dentro de sua responsabilidade de manter a estabilidade de preços no médio prazo e em observação de sua independência de determinar a política monetária, pode fazer operações diretas no mercado aberto de tamanho adequado para atingir seu objetivo", afirmou Draghi depois de o BCE ter mantido a taxa de juros da zona do euro em 0,75 por cento.
O banco já gastou 210 bilhões de euros comprando títulos sob seu agora dormente Programa de Mercado de Títulos (SMP, na sigla em inglês) desde maio de 2010, o que limitou o impacto, mas Draghi afirmou que o novo esforço será diferente em escopo e condicionalidade.
Qualquer ação do BCE depende de os governos da zona do euro usarem os fundos de resgate Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF, na sigla em ingl6es) e Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (ESM, na sigla em inglês) primeiro, disse ele.
"Os governos têm que estar prontos para ativar o EFSF/ESM no mercado de títulos quando existirem circunstâncias excepcionais do mercado financeiro e riscos à estabilidade financeira." Os mercados financeiros pareceram pouco impressionados com os anúncios, com alguns investidores tendo interpretado as declarações de Draghi na semana passada como um sinal de ação iminente, e não futura e condicional.
"É bastante decepcionante...Existe uma falta de ação, então ele basicamente passou a responsabilidade aos políticos", disse o estrategista do Knight Capital Ioan Smith.
Draghi estava sob intensa pressão de investidores, líderes europeus e mesmo dos Estados Unidos para confirmar nesta quinta-feira sua promessa de fazer o que for necessário para salvar o euro, reduzindo os custos de empréstimos e resolvendo a crise da dívida.
As declarações dele em Londres na quinta-feira passada, de que o BCE faria o que for preciso, dentro de suas responsabilidades, para proteger o bloco monetário de um colapso --"e acreditem, será o suficiente"--, já tinham aliviado tensões nos mercados de dívida.
PRESSÃO Outros países, especialmente os Estados Unidos, ampliaram a pressão sobre o BCE para agir, uma vez que a crise de dois anos e meio da zona do euro pesa sobre o crescimento global.
O Federal Reserve, banco central dos EUA, reduziu as expectativas entre alguns investidores na quarta-feira ao não adotar novas medidas imediatas para reavivar a economia. .
O Fed não ofereceu um novo estímulo monetário, embora tenha sinalizado de forma mais forte que mais compras de títulos podem acontecer para ajudar a recuperação da economia norte-americana.
Uma ação do BCE, entretanto, é impedida por regras da União Europeia (UE) que proíbem o banco de financiar governos. O BCE emitiu um parecer legal em março de 2011 descartando talvez a maior arma, que seria dar ao ESM direitos de acessar o BCE para recursos com o objetivo de aumentar seu poder de fogo.
O BCE também precisa encontrar uma maneira de convencer a Alemanha de qualquer medida. O Bundesbank emite alertas regulares de perigos inflacionários derivados de medidas não-convencionais, como compras de títulos, e os limites que os bancos centrais enfrentam.
Draghi disse que todos os membros do Conselho de Administração endossaram a declaração desta quinta-feira com uma exceção --referência ao presidente do Bundesbank, Jens Weidmann.
"A decisão de fazer o que for preciso para preservar o euro como moeda estável tem sido unânime", disse Draghi.
"Está claro e é sabido que o Bundesbank tem suas reservas sobre o programa de compra de títulos. A ideia é de que agora temos a orientação, o comitê de política monetária, o comitê de riscos e o comitê de mercados para trabalharem nessa orientação e então tomaremos uma decisão final e os votos serão contados." A declaração dele sugere que está preparado para vencer em número de votos o membro do BC alemão se necessário.