Economia

BCE alerta para agravamento da crise da dívida

Presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, se mostrou pessimista com o momento econômico que a zona do euro vive neste instante

Draghi: "A situação piorou mais. Estamos em uma situação muito grave e não devemos ignorar este fato" (Ralph Orlowski/Getty Images)

Draghi: "A situação piorou mais. Estamos em uma situação muito grave e não devemos ignorar este fato" (Ralph Orlowski/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 16 de janeiro de 2012 às 20h13.

Estrasburgo - O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, advertiu nesta segunda-feira para o agravamento da crise da dívida na zona do euro e classificou a situação como 'muito grave', mas buscou minimizar a importância das avaliações das agências de classificação de risco.

Em seu primeiro discurso na Comissão de Assuntos Econômicos e Monetários do Parlamento Europeu como presidente do Conselho Europeu de Risco Sistêmico (CERS), Draghi se mostrou pessimista com o momento econômico que a zona do euro vive neste instante.

Ele lembrou que a crise já havia sido qualificada em outubro como 'sistêmica' pelo seu antecessor no cargo, Jean-Claude Trichet, mas ressaltou que a situação se agravou desde então.

'A situação piorou mais. Estamos em uma situação muito grave e não devemos ignorar este fato', afirmou Draghi, que pediu à zona do euro que aja com rapidez e com boa coordenação.

Para resistir a esta evolução, os políticos reagiram e os bancos centrais intervieram decididamente, ao relaxar as condições monetárias e, em particular, ampliar as possíveis garantias e o período das operações de liquidez.

Enquanto isso, acrescentou o presidente da entidade, os chefes de Estado e de governo da zona do euro decidiram assinar um tratado para um pacto orçamentário e uma melhor coordenação de suas políticas econômicas.

Ele ainda assim fez novas advertências. 'Decisões sem as ações correspondentes não são suficientes. É preciso prestar atenção à implementação das medidas na sequência correta'.

Primeiro, segundo Draghi, é preciso recuperar a confiança na dívida soberana e garantir que os mecanismos de emergência da União Europeia (UE) estejam operacionais e dotadas de um mandato efetivo e flexível.


Os compromissos adotados pelos líderes da zona do euro devem ser aplicados com rapidez e plenamente, sobretudo em relação ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) e ao Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE).

A ampliação das capacidades do FEEF pode facilitar a recapitalização de bancos em países não resgatados, mas somente se este pacote integral anticrise for implementado de maneira confiável pode haver novos esforços, destacou Draghi.

Em segundo lugar, segundo ele, a zona do euro necessita esclarecimentos sobre a robustez do sistema financeiro da UE.

O presidente do BCE ressaltou que a proposta da Autoridade Bancária Europeia (ABE) para restaurar a confiança na resistência dos bancos através da recapitalização não deve ser aplicada às custas da circulação adequada de empréstimos para a economia real ou exacerbar os pontos frágeis do mercado.

Em meio a todo este cenário de desconfiança, as agências de classificação de risco desempenham um papel significativo. Setenta e duas horas após a americana Standard & Poor's (S&P) reduzir a credibilidade da zona do euro ao rebaixar a nota de nove países do bloco, Draghi buscou reagir à medida: 'temos de aprender a funcionar sem dar tanto peso a suas avaliações'.

'Reguladores, investidores e bancos precisam ser mais independentes dessas avaliações. Essa é a atitude que o BCE já vem aplicando nos últimos anos', afirmou.

Pouco antes de entrar na comissão parlamentar nesta segunda-feira, Draghi recebeu a notícia de que a S&P tinha decidido rebaixar também a nota do FEEF - instrumento temporário de resgate da zona do euro. A agência resolveu tirar o chamado 'triplo A' do Fundo, situando-o em AA+.

'Em vez de se lamentar diante das avaliações ou dedicar-lhe muito tempo, convém tomá-las como uma informação a mais', declarou o economista italiano.

Ele buscou deixar claro, no entanto, que a medida da S&P 'tem consequências' que se refletem em um aumento do custo de financiamento do FEEF no mercado.

Por isso, Draghi afirmou que os países da zona do euro que ainda gozam da avaliação máxima 'AAA' por parte da S&P - Alemanha, Luxemburgo, Finlândia e Holanda - 'terão de aumentar suas contribuições' ao Fundo se quiserem que a entidade mantenha a mesma capacidade de intervenção que antes do rebaixamento.

O FEEF ainda conta com a nota máxima por parte das outras duas grandes agências de classificação de risco, Moody's e Fitch.

Para manter a mesma capacidade de empréstimo com as mesmas taxas de juros, 'são necessárias contribuições adicionais de países com triplo A', assinalou Draghi. Ele advertiu à zona do euro que 'a consolidação orçamentária deve ser acompanhada de crescimento e criação de emprego', uma das principais críticas da S&P. 

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