Economia

BC vê PIB crescendo menos em 2013 e inflação perto de 6%

Banco Central continua calculando a inflação do país em níveis elevados e sem perspectiva de convergir para a meta tão cedo

Funcionário checa cédulas de real durante visita de imprensa à Casa da Moeda do Brasil, no Rio de Janeiro (Sergio Moraes/Reuters)

Funcionário checa cédulas de real durante visita de imprensa à Casa da Moeda do Brasil, no Rio de Janeiro (Sergio Moraes/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 20 de dezembro de 2013 às 15h14.

São Paulo/Brasília - Ao mesmo tempo em que vê a economia brasileira crescendo menos, o Banco Central continua calculando a inflação do país em níveis elevados e sem perspectiva de convergir para a meta tão cedo.

Ainda assim, deu sinais de que o atual ciclo de aperto monetário pode estar perto do fim, apesar de deixar a porta aberta sobre a intensidade desses ajustes.

Segundo o Relatório Trimestral de Inflação divulgado nesta sexta-feira, o BC manteve sua expectativa para o IPCA deste ano em 5,8 por cento pelo cenário de referência, que já leva em consideração a atual Selic em 10 por cento. Para 2014, houve pequena redução na estimativa, que passou a 5,6 por cento, ante 5,7 por cento, e calcula que em 2015, o indicador crescerá 5,4 por cento.

"Nossas projeções não apontam a inflação convergindo para a meta", disse o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo.

"A convergência pode se tornar mais provável adiante, à medida que a economia comece a responder às ações tomadas", acrescentou ele, referindo-se, entre outros, às elevações da Selic desde abril passado, quando o atual ciclo de aperto teve início.

No entanto, quando questionado se o BC ainda tinha muito trabalho a fazer em termos de política monetária, como defendeu em setembro, o diretor apenas repetiu, por pelo menos cinco vezes, que "o Banco Central está de olho na inflação".

Nos últimos meses, a inflação mostrou alguns sinais de arrefecimento, mas em dezembro, o IPCA-15 --prévia da inflação oficial-- surpreendeu ao acelerar a alta mensal a 0,75 por cento, fechando o ano em 5,85 por cento. A meta do governo é de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de 2 pontos percentuais para mais ou menos.


O BC, por meio do documento, voltou a repetir que os efeitos da política monetária nos preços ocorre com "defasagens" e que "deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação, como o observado nos últimos doze meses persistam no horizonte relevante".

"As estimativas indicam que o ciclo (de aperto) está próximo do fim, que não vai muito além. Mas não sabemos quando exatamente vai parar. O Banco Central deixou as portas abertas", afirmou o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal.

A inflação em níveis persistentemente altos vem dificultando os esforços do governo para impulsionar a economia, que no terceiro trimestre encolheu 0,5 por cento, no pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2009, abalada principalmente pela queda dos investimentos.

Atividade

Sobre atividade econômica, o BC reduziu a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deste ano a 2,3 por cento, ante 2,5 por cento previstos até então e manteve a indicação de que a atividade não vai acelerar em 2014. No relatório de setembro, a estimativa para até o segundo trimestre era de expansão de 2,5 por cento.

O BC ressaltou ainda que tomando-se como base o cenário de continuidade de expansão da atividade econômica, a "arrecadação tende a ganhar impulso" e voltou a afirmar que "a política fiscal pode se deslocar para a neutralidade no horizonte relevante para a política monetária".


"Quanto mais a política monetária for apoiada pela política fiscal, melhor para a inflação", afirmou o diretor do BC, acrescentando que o cenário para a política fiscal é de neutralidade apenas em 2015.

O governo tem sido fortemente criticado sobre a condução da política fiscal, sobretudo devido aos altos gastos. Em 12 meses encerrados em outubro, a economia fiscal foi de 1,44 por cento do PIB, distante da meta ajustada de 2,3 por cento para o setor público consolidado (governo federal, Estados, municípios e empresas estatais).

No relatório, o BC destacou ainda que a tendência vista nos mercados internacionais é de apreciação do dólar mas, ao mesmo tempo, o cenário é de maior crescimento global, "em particular de importantes parceiros comerciais do Brasil". Assim, a depreciação do real ajuda a deixar "a dinâmica da demanda externa mais favorável ao crescimento da economia brasileira".

Em sua apresentação, Carlos Hamilton também informou que "no horizonte relevante para política monetária, volatilidade de mercados tende a reagir ao início da normalização das condições monetárias nos EUA".

Na última quarta-feira, o Fed anunciou que iniciará em janeiro a retirada gradual dos estímulos, em 10 bilhões de dólares, passando para 75 bilhões de dólares.

"Mantemos nossa expectativa de que o Copom realize mais um movimento de alta da taxa Selic, em janeiro de 2014, levando-a a 10,25 por cento. A trajetória desenhada no cenário de referência para o IPCA... sustenta nossa expectativa de retomada do ciclo de alta da taxa Selic ao final do próximo ano", afirmou o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, em nota.

No mercado futuro de juros, os contratos de DIs eram negociados em alta, com os investidores divididos sobre o futuro da Selic: metade via mais uma alta de 0,5 ponto percentual em janeiro e a outra elevação mais modesta, de 0,25 ponto, segundo dados da Reuters.

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralCrescimento econômicoDesenvolvimento econômicoeconomia-brasileiraInflaçãoMercado financeiro

Mais de Economia

Estamos performando melhor, diz Haddad sobre descongelamento de R$ 1,7 bi do Orçamento

Free Flow: a revolução do transporte rodoviário no Brasil

Governo reduz contenção de despesas públicas de R$ 15 bi para R$ 13 bi e surpreende mercado

Benefícios tributários farão governo abrir mão de R$ 543 bi em receitas em 2025