Economia

BC solta o câmbio. Prepare-se para dólar e juro mais altos

A sinalização de menor intervenção do BC no câmbio reverte a tendência recente de apreciação do real e pode representar a necessidade de alta maior dos juros


	Notas de dólar: “o BC tem de deixar o dólar andar”, diz especialista do Goldman Sachs
 (Getty Images)

Notas de dólar: “o BC tem de deixar o dólar andar”, diz especialista do Goldman Sachs (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 4 de maio de 2015 às 17h24.

A sinalização do Banco Central de menor intervenção no câmbio reverte a tendência recente de apreciação do real e pode representar a necessidade de alta maior dos juros.

Mas essa postura do BC não impede, e pode até ajudar, o país a ter um câmbio mais estável e juros menores no médio e longo prazo.

Caso mantenha ao longo do mês o volume de swaps cambiais do leilão desta segunda-feira, o BC deverá rolar apenas cerca de 80% dos US$ US$ 9,66 bilhões vencendo em 1/junho.

Como nesses leilões o BC vende dólar futuro, o volume menor significa menos alívio para o real e maior pressão de alta para a moeda americana.

A redução, ou mesmo o fim das intervenções do BC, vem sendo cobrada pelo mercado, que considera um real mais desvalorizado condição necessária para reduzir o déficit em conta corrente e estimular o crescimento.

“O BC tem de deixar o dólar andar”, diz Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs em Nova York.

Para Ramos, o dólar deveria subir ainda mais, para entre R$ 3,40 e R$ 3,60, para ajudar a ajustar a economia, mesmo que para isso o BC tenha de elevar mais os juros para segurar o repasse do dólar para a inflação.

Ramos prevê alta de mais 0,25 pp da Selic no Copom de junho, podendo ser +0,50 pp se o dólar seguir subindo e passar de R$ 3,30.

O economista, contudo, considera esse ajuste não apenas positivo como necessário.

Se o maior realismo cambial for acompanhado pelo ajuste fiscal, o resultado no médio e longo prazo poderá ser uma reversão da alta do dólar e dos juros, que vão se materializar assim que a economia se reequilibrar, com crescimento mais vigoroso.

O ajuste clássico de uma economia em recessão, observa Ramos, requer moeda desvalorizada e juros baixos.

No curto prazo, é a ausência do ajuste fiscal que faz com que o Brasil tenha de continuar com a distorção de seguir subindo os juros, mesmo com a atividade fraca, para manter a inflação sob controle.

A inflação brasileira, acima do nível dos maiores parceiros comerciais do País, é um dos motivos de a balança comercial ainda não ter reagido mesmo após a alta do dólar nos últimos anos. Isso porque a inflação eleva os custos, anulando parte dos ganhos de competitividade gerados pela alta do dólar.

O outro motivo é o fato de não apenas o real, mas também outras moedas, como o euro, o iene e o peso argentino, terem se desvalorizado, o que também anula parte da vantagem cambial dos exportadores brasileiros.

Quando se desconta o diferencial de inflação e a variação de uma cesta de moedas, a desvalorização do real, de cerca de 30% desde 2013, cai pela metade, para perto de 17%, diz Ramos.

Por isso, o ajuste cambial ainda é insuficiente, mesmo após o dólar atingir o patamar de R$ 3,00.

O economista do Goldman considera que o desajuste da economia brasileira é ainda maior do que o sugerido pelo déficit em conta corrente, de 4% do PIB.

Sem a recessão, que impede crescimento ainda maior dos gastos do País no exterior, o déficit seria muito maior, na casa de 6% do PIB.

Com a redução da oferta para rolagem dos swaps, o BC parece inclinado a diminuir esta distorção na economia associada ao câmbio, ainda que pagando o preço de juros mais altos no curto prazo.

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