Rio de Janeiro - O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, endureceu nesta sexta-feira o discurso do combate à inflação, afirmando que o BC está totalmente comprometido com a tarefa de trazer a inflação a 4,5 por cento no fim de 2016 e que fará o que for necessário para tanto.
Em discurso de encerramento do seminário anual de metas para inflação da autarquia, no Rio de Janeiro, Tombini repetiu diversas vezes o termo vigilante para descrever a atual condução da política monetária pelo BC, dando sinais de nova elevação dos juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a despeito da fraqueza da economia.
"A inflação, o Banco Central está totalmente comprometido com trazê-la para o nível de 4,5 por cento em dezembro de 2016", disse a jornalistas, após o fim do evento. "Esse é o compromisso do Banco Central e diante desse compromisso nós faremos o que for necessário para atingir essa meta", completou.
Na última reunião do Copom, o BC elevou a Selic em 0,5 ponto percentual, a 13,25 por cento ao ano, dando sequência ao ciclo de aperto monetário iniciado em outubro para debelar a alta de preços na economia.
Apesar do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ter ficado pela primeira vez no ano abaixo de 1 por cento em abril, na comparação mensal, em 12 meses o índice bateu em 8,17 por cento, nível mais alto em mais de 11 anos e bem acima do teto da meta do governo de 6,5 por cento.
Diante desse quadro, economistas vêm sucessivamente elevando sua projeção para a inflação de 2015, calcados sobretudo no impacto para a economia do ajuste de preços administrados e alta do dólar ante o real.
Em pesquisa Focus do BC divulgada na segunda-feira, a estimativa para o IPCA no ano chegou a 8,31 por cento.
RECADO
Em seu discurso, Tombini assinalou primeiramente que a política monetária "foi, está e continuará vigilante" para assegurar que os efeitos dos ajustes de preços sobre a inflação fiquem circunscritos ao curto prazo.
Ao longo de sua fala, ele disse ainda ser "imprescindível" que a política monetária se mantenha vigilante, em sintonia com o conjunto da política macroeconômica, e que, como os avanços alcançados no combate à inflação ainda se mostram insuficientes, "faz-se necessário manter a política monetária vigilante".
Com o anúncio do contigenciamento de gastos não obrigatórios do governo marcado para esta sexta-feira, Tombini avaliou que "uma política consistente implementada com rigor ao longo do tempo favorece o trabalho do BC de atingimento da meta de inflação".
Segundo duas fontes do governo, os cortes no Orçamento da União de 2015 a serem anunciados na tarde desta sexta-feira somarão quase 70 bilhões de reais.
Tombini avaliou que a tempestividade e a consistência do conjunto de medidas tomadas pelo governo para atingir o superávit primário de 66,3 bilhões de reais este ano, correspondente a cerca de 1,1 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), ajudará a criar uma percepção positiva sobre o ambiente macroeconômico do país no médio e no longo prazo, fortalecendo a visão de maior sustentabilidade do balanço do setor público e assegurando uma trajetória favorável para a dívida pública.
Texto atualizado às 16h34
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1. Vítimas do dragão
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1/8 (Getty Images)
São Paulo - Em 2009, o jornalista Clóvis Rossi
perguntou a
Henrique Meirelles como ele havia convencido Lula a aumentar os juros dias após sua posse em 2003. O então presidente do Banco Central respondeu: "Disse a ele que, no Brasil, a
inflação dispara sempre que atinge os dois dígitos." Por enquanto, não estamos neste patamar, mas a situação é tudo menos confortável. Na semana passada, o
IBGE divulgou que o Brasil teve em janeiro sua maior
inflação mensal
em mais de uma década. Tudo indica que a taxa deve
fechar 2015 acima dos 7%, estourando o teto da meta - o que não acontece desde 2003. Economistas esperam que
mesmo com a recessão, o índice só vá começar a ceder em 2016. Mas pelo menos por enquanto, a distinção dos dois dígitos fica com dois vizinhos latino-americanos, duas nações africanas e dois países que estão basicamente em guerra um contra o outro. Veja a seguir qual deve ser a inflação anual nestes 6 países na mediana de economistas ouvidos pela Bloomberg e quais são as raízes do fenômeno em cada um deles:
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2. Venezuela
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2/8 (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
Inflação estimada para 2015: 72,3% (pesquisa de nov/2014)
O que está acontecendo: o
pacote de camisinhas de 2 mil reais é só o último exemplo do quão longe chegou o caos econômico na
Venezuela, um dos
piores países do mundo para se fazer negócios. Anos de estímulo da demanda combinados com uma desorganização total do setor produtivo e uma moeda desvalorizada levaram a prateleiras vazias; e nada estimula a inflação mais do que a escassez. A recente queda do preço do petróleo arrasou com as finanças do governo e só piorou a situação, já que faltam recursos para comprar importados. Enquanto isso, o presidente Nicolas Maduro continua culpando forças ocultas pelos desequilíbrio econômicos, que tenta resolver com medidas "criativas" como controle de preços,
tomada de empresas e
cadastro biométrico para compra em supermercados.
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3. Argentina
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3/8 (Reprodução/Facebook)
Inflação estimada para 2015: 22,5% (pesquisa de jan/2015)
O que está acontecendo: nossos vizinhos portenhos não hesitaram nem um pouco em aumentar gastos e imprimir dinheiro mesmo durante períodos de bonança. O resultado foi um peso desvalorizado e uma inflação que deve resistir ao segundo ano seguido de recessão na
Argentina. As respostas de
Cristina Kirchner se resumiram a aumentar o controle do setor privado, tentar segurar a saída de dólar, instituir controles de preços e maquiar as estatísticas oficiais, que já não são consideradas válidas pelas instituições privadas.
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4. Ucrânia
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4/8 (Reuters)
Inflação estimada para 2015: 17,5% (pesquisa de dez/2014)
O que está acontecendo: instabilidade política, a perda da
Crimeia e o separatismo violento no leste empurraram a
Ucrânia para uma grave crise econômica. A queda de produção industrial e desvalorização de sua moeda, em especial, contribuíram para a maior taxa de inflação em 14 anos. Outro fator (este em comum com o Brasil) é o aumento dos preços de energia, resultado da decisão do governo de cortar subsídios que existiam há décadas.
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5. Gana
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5/8 (SXC.Hu)
Inflação estimada para 2015: 13,2% (pesquisa de nov/2014)
O que está acontecendo: a economia de
Gana vem crescendo bastante nos últimos anos, mas isso acelerou a demanda e pressionou a inflação. Uma moeda em desvalorização e um governo com problemas fiscais também não estão colaborando. A boa notícia é que a tendência é de queda: o
petróleo mais barato ajuda a segurar os preços, e a taxa projetada pela Bloomberg está no centro da meta do governo (13% com tolerância de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo).
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6. Rússia
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6/8 (Andrey Rudakov/Bloomberg)
Inflação estimada para 2015: 13% (pesquisa de jan/2015)
O que está acontecendo: a Rússia
está em um momento difícil, para dizer o mínimo. Em 2014, o país se viu atingido por uma tempestade dupla: de um lado, sanções ocidentais para pressionar
Vladimir Putin a deixar a Ucrânia em paz; do outro, uma queda brutal dos preços de petróleo, principal fonte de divisas do governo. O resultado foi uma recessão violenta e uma depreciação forte do rublo. A alta dos juros não foi capaz de conter o processo, e algumas das reações de Putin - como proibir a importação de alimentos da Europa - só pioraram o problema. A solução para acalmar os ânimos foi
diminuir o preço mínimo da vodca, que está agora em R$ 14,64 por litro.
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7. Egito
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7/8 (Amr Abdallah Dalsh/Reuters)
Inflação estimada para 2015: 10,6% (pesquisa de dez/2014)
O que está acontecendo: o
Egito é um dos países do mundo que
mais subsidiam energia suja. A redução deste apoio é importante para melhorar a situação fiscal do governo, mas leva a aumentos de preços no curto prazo. O Banco Central também vem cortando os juros, priorizando o crescimento ao invés do controle da inflação. A economia do Egito é muito dependente do
turismo e está patinando com toda a turbulência política desde a derrubada de Hosni Mubarak no início de 2011.
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8/8 (Getty Images)