Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 16 de setembro de 2025 às 06h00.
O Comitê de Política Monetária (Copom) inicia nesta terça-feira, 16, a reunião para discutir a taxa básica de juros (Selic) em um cenário de expectativa de que os juros sejam mantidos em 15% ao ano. Na avaliação de economistas e analistas de mercado, a decisão deve ser unânime pela terceira reunião consecutiva. O anúncio oficial será feito na quarta-feira, 17.
A manutenção da taxa já é amplamente prevista pelo mercado, apoiada pelas sinalizações do Banco Central de que a Selic permanecerá neste patamar por um período prolongado, visando garantir a convergência da inflação para a meta.
Em evento realizado no final de agosto, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que a taxa de juros deverá continuar elevada por um "período prolongado", pois a convergência da inflação para a meta está em andamento, mas de forma gradual.
Diante disso, o mercado deve acompanhar atentamente as sinalizações do Banco Central no comunicado, que poderão indicar o futuro da política monetária.
O consenso entre relatórios consultados pela EXAME aponta que o Banco Central não deverá indicar cortes no curto prazo, mantendo a projeção de redução da Selic apenas para o ano que vem.
Em relatório enviado aos clientes, o economista-chefe do Itaú BBA, Mario Mesquita, destacou que a decisão refletirá uma combinação de cautela diante de um ambiente externo ainda incerto e a avaliação de que os efeitos defasados da política monetária continuam em curso.
Mesquita explicou que, desde a última reunião, os dados econômicos evoluíram de maneira ambígua em relação à política monetária, justificando a manutenção da taxa de juros em um nível restritivo.
"De um lado, o real se apreciou, em um ambiente externo mais favorável, com um dólar mais fraco globalmente e as perspectivas de retomada do ciclo de afrouxamento monetário pelo Federal Reserve, o que ampliaria o diferencial de juros a favor do Brasil. Por outro lado, a dinâmica das contas externas continua se deteriorando, com um aumento expressivo do déficit em conta-corrente, que segue se distanciando da média histórica, embora com impacto moderado sobre o câmbio", afirmou.
Gabriel Galípolo: Presidente do Banco Central já sinalizou que a taxa de juros permanecerá alta por um período prolongado (Raphael Ribeiro/BC/Flickr)
Sobre as possíveis sinalizações de próximos passos, o economista destacou que o cenário de desaceleração econômica, alinhado às expectativas do Boletim Focus para a inflação deste ano, permite que a autoridade monetária aguarde um longo período para qualquer movimento de flexibilização.
"Mantemos nossa expectativa de início do ciclo de cortes apenas no 1º trimestre de 2026. No entanto, reconhecemos que os riscos aumentaram para um corte antecipado ainda em 2025, caso ocorra uma valorização mais expressiva da taxa de câmbio ou uma desaceleração mais acentuada da atividade", disse.
Nos últimos meses, a economia tem mostrado sinais de desaceleração, com quedas nos dados mensais de atividade econômica, como o IBC-BR, e no PIB do segundo trimestre. Apesar disso, o mercado de trabalho segue resiliente, o que contribui para o aumento da renda.
Em relatório, a Warren Investimentos destaca que os ganhos reais de rendimento no mercado de trabalho continuam sustentando a renda, o que contribui para uma evolução marginalmente desfavorável dos preços, especialmente em itens sensíveis à demanda.
Isso leva a uma piora qualitativa do IPCA, com núcleos pressionados e aumentos em itens como energia elétrica, alimentos e vestuário. "A trajetória [da taxa de juros] continuará dependendo dos dados", afirmou a Warren.
Por isso, a consultoria projeta que o ciclo de cortes da Selic comece apenas na primeira reunião de 2026, prevista para janeiro, com redução de 25 pontos-base.
Em comunicado, os economistas do C6 Bank observam que a melhora nas perspectivas de inflação e na desaceleração da economia sugerem que a Selic permanecerá estável nas próximas reuniões, mas isso pode abrir espaço para eventuais mudanças.
Dessa forma, o Comitê pode ajustar ligeiramente sua comunicação, afirmando que "o cenário exige uma política monetária em patamar significativamente contracionista por um período prolongado (ao invés de 'bastante prolongado') para garantir a convergência da inflação à meta".
"O Copom deve manter os juros estáveis em 15% até o fim de 2025. No entanto, com o recente alívio nas expectativas de inflação e a possibilidade de cortes de juros no exterior, acreditamos que pode haver espaço para flexibilização dos juros no primeiro trimestre do próximo ano", conclui o banco em seu relatório.