Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 5 de novembro de 2025 às 06h00.
O Comitê de Política Monetária (Copom) decide nesta quarta-feira, 5, a taxa de juros no Brasil. A expectativa do mercado é de manutenção da Selic em 15% ao ano pela terceira vez consecutiva.
Segundo economistas consultados pela EXAME, a expectativa é de que a taxa seja mantida e que o comitê dê mais indicativos sobre o início do ciclo de corte de juros.
Na última decisão, a autoridade monetária reforçou a perspectiva de que o ciclo de corte deve começar a partir de 2026, ao afirmar que deve perseguir o centro da meta de inflação.
Em relatório, Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú BBA, afirma que a decisão de manutenção deve refletir a combinação entre a necessidade de cautela em um ambiente externo ainda incerto e a leitura de que os efeitos defasados da política monetária permanecem em curso.
A avaliação do economista é que os dados de atividades confirmam a tendência de desaceleração da economia, com uma estabilização do mercado de trabalho, mesmo perto da mínima histórica da taxa de desemprego.
A inflação, segundo ele, tem apresentados dados benignos, com queda das expectativas de longo prazo no Boletim Focus.
"No front de inflação, as medidas de núcleo apresentaram alguma melhora e as surpresas vistas nas últimas divulgações de IPCA devem levar a inflação a encerrar o ano mais próxima da banda em torno da meta. Adicionalmente, houve queda relevante das expectativas de inflação para prazos mais longos", afirma.
O Boletim Focus apresentou nova melhora nas expectativas para o IPCA. A mediana das projeções de 2025 caiu de 4,56% para 4,55%, mantendo a trajetória de desinflação gradual, próxima do teto da meta -- que é de 3% com uma faixa de tolerância de 1,5% a 4,5%. As expectativas para 2026 e 2027 também caíram nos últimos boletins.
Mesquita diz que, apesar disso, a inflação segue distante do objetivo de política monetária do Banco Central.
"Por esses motivos, acreditamos que o Copom deve até mencionar alguma melhora na inflação corrente, mas não mudará a sua sinalização de manutenção de juros no patamar de 15% a.a. por período bastante prolongado diante da desancoragem das expectativas, da resiliência do mercado de trabalho e das projeções de inflação acima da meta", diz o economista.
Em relatório, o banco Daycoval afirma que a melhora do quadro inflacionário e a desaceleração da economia não são suficientes para garantir o início do ciclo agora, mas o comunicado pode trazer uma mudança de tom do Copom, que indicará que a redução da Selic comece no próximo ano.
"Em nossa avaliação, para que o BC possa ganhar mais graus de liberdade, o termo 'bastante' em 'período bastante prolongado' e o trecho 'não hesitará em retomar o ciclo de ajuste' deveriam ser retirados da comunicação. Caso sejam mantidos, entendemos que a probabilidade do início de corte de juros ocorrer após janeiro de 2026 se torna majoritária", diz.
Os economistas do C6 Bank foram na mesma linha e afirmaram que o Comitê pode fazer pequenos ajustes na comunicação, reconhecendo uma melhora no cenário, mas deve manter o tom de cautela.
"Considerando o recente alívio nas expectativas de inflação e a possibilidade de cortes de juros no exterior, acreditamos haver espaço para flexibilização dos juros no primeiro trimestre do ano que vem. Nossa expectativa é de que o ciclo de cortes da Selic comece em março, com a taxa de juros terminando 2026 em 13%", afirma.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na véspera da reunião que se fosse o presidente do Banco Central votaria pela queda da taxa de juros, que está em 15% ao ano.
Haddad afirmou que a economia está melhor do que quando o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu o mandato e que não há motivos para que a Selic permaneça tão alta.