Banco Central: Ao anunciar rolagem dos swaps cambiais, o BC disse que poderá recalibrar o montante ofertado “conforme as condições de mercado” (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Ligia Tuon
Publicado em 17 de novembro de 2020 às 12h28.
Última atualização em 17 de novembro de 2020 às 12h31.
O mercado espera que o Banco Central intervenha com leilões de swaps cambiais no apagar das luzes de 2020 para evitar uma disparada do dólar com a redução do chamado overhedge -- a proteção extra dos ativos em moeda estrangeira dos bancos no exterior.
Com base nos balanços, analistas estimam que as instituições financeiras precisarão comprar cerca de US$ 15 bilhões até o final do ano para se adequar à nova regra tributária sobre investimentos internacionais. O valor poderá ser menor caso os bancos reduzam seus ativos no exterior.
“O BC tem atuado no mercado cambial para evitar disfuncionalidade. Como o volume vai ser muito significativo, é natural esperar que ele atue”, diz Iana Ferrão, economista do banco BTG Pactual. A atuação tende a ser por meio de swaps, pois é no mercado futuro que vai ocorrer a demanda, segundo ela.
Ao anunciar na segunda-feira à noite a rolagem dos swaps cambiais que vencem em janeiro, o BC fez uma mudança no texto e disse que poderá recalibrar o montante ofertado “conforme as condições de mercado”.
Para David Cohen, tesoureiro no banco Bocom BBM, esse pode ser um sinal de atuação relacionada ao overhedge. “É sutil, mas é uma mudança e em um vencimento que tem motivo para o mercado ficar em cima de cada minimudança como um potencial sinal.”
Em comunicado no dia 6 de novembro, o BC havia dito que não antecipa eventuais decisões sobre intervenção. Antes, o diretor de Política Econômica Fabio Kanczuk sugeriu, em evento, atuação no mercado no fim do ano diante das saídas relacionadas ao overhedge.
Se o Banco Central não atuar no mercado, o dólar poderá subir com o ajuste do overhedge somado às remessas típicas de fim de ano, como os dividendos das empresas multinacionais, diz Sergio Zanini, sócio e gestor da Galapagos Capital. A pressão cambial poderia contaminar a curva de juros, já afetada pelas rolagens do Tesouro em meio à alta da dívida pública.
O mercado trabalha com uma compra total de US$ 15 bilhões, diz Carlos Menezes, gestor de portfólio da Gauss Capital, estimativa também feita pelo BTG e outras casas. Também há possibilidade de o volume de ajuste ser menor, caso alguns bancos prefiram reduzir seus ativos no exterior ao invés de cortar o overhedge -- o que geraria efeito antecipado sobre a cotação do dólar, segundo Cohen.
Para Menezes, o mercado vai tentar antecipar esse fluxo em um cenário internacional “muito benigno” para emergentes. A vitória de Joe Biden nos EUA e a perspectiva de vacinas que reduzam a ameaça de uma segunda onda global da pandemia melhorou a percepção de risco nos mercados recentemente. “O BC não venderia dólar no patamar atual, mas sim se a cotação voltar às máximas. Talvez até dê saída para os bancos”, diz Menezes.
A redução do overhedge tornou-se necessária após o governo publicar no final de março uma medida provisória que muda a tributação de investimentos de bancos no exterior, com o objetivo de eliminar distorções.
Atualmente, a variação cambial dos investimentos dos bancos no exterior não afeta a tributação. Entretanto, a variação cambial do hedge para esses ativos é considerada para a cobrança dos impostos, o que acaba levando as instituições a fazerem uma proteção adicional.
A partir do ano que vem, passará a haver equidade no tratamento tributário dos dois casos, o que elimina a necessidade de overhedge. A mudança ocorrerá na proporção de 50% em 2021 e 100% a partir de 2022.
A diminuição de posições de overhedge implica compra de dólares, pois as instituições que detêm parte importante de patrimônio em moeda estrangeira no exterior fazem a proteção da variação cambial por meio de posições vendidas em dólar e compradas em real.
(Com a colaboração de Patricia Lara).