Economia

BC da Argentina decide elevar taxa básica de juros a 118% ao ano, além de desvalorizar o peso em 22%

Mudanças acontecem após as eleições primárias no país, que teve um candidato libertário como mais votado — o que preocupou investidores

Javier Milei: candidato foi o mais votado neste domingo, 13.  (Luis Robayo/AFP/Getty Images)

Javier Milei: candidato foi o mais votado neste domingo, 13. (Luis Robayo/AFP/Getty Images)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 14 de agosto de 2023 às 11h18.

Última atualização em 14 de agosto de 2023 às 11h27.

O banco central da Argentina decidiu desvalorizar o peso em 22% além de elevar a taxa básica de juros, conhecida como Leliq, em 21 pontos-base, para 118% ao ano até a eleição geral que acontece em outubro, segundo informou uma fonte oficial à Reuters. As mudanças acontecem após as eleições primárias no país, que teve um candidato libertário como mais votado — o que preocupou investidores.

Com as mudanças, um dólar passa a valer 350 pesos. O país, que atravessa uma forte crise, tem várias cotações de dólar. No mercado paralelo, o mais conhecido é o chamado dólar blue, que está cotado acima de 600 pesos.

Mais cedo, o ministro da Economia argentino Sergio Massa havia afirmado que as autoridades do país pretendiam atuar nesta segunda-feira para conter a volatilidade nos mercados, após as eleições primárias (PASO) do fim de semana.

A disputa foi vencida pelo deputado ultradireitista Javier Milei, com o grupo governista liderado pelo próprio Massa em terceiro, mas cenário ainda de equilíbrio entre três forças para as eleições de outubro.

Segundo alguns analistas locais, a vitória de Milei poderia significar pressão de alta extra para o dólar até a eleição. Leonardo Chialva, da Delphos, afirmou que a vitória poderia exacerbar a desconfiança gerada com o país em fundos do exterior. Ao mesmo tempo, o mesmo Chialva lembrou que o mau desempenho de Massa tende a agradar os mercados, que podem apostar por uma guinada mais à direita com Milei ou a segunda colocada nas primárias, Patricia Bullrich da coalizão do ex-presidente Mauricio Macri.

Títulos argentinos

Os títulos externos argentinos despencaram depois que o candidato populista que prometeu incendiar o banco central ganhou apoio surpreendentemente forte na eleição primária de domingo.

A dívida soberana do país vizinho, que já era negociada em níveis de estresse, liderou as quedas nos mercados emergentes nesta segunda-feira. Os títulos com vencimento em 2035 afundaram até 14%, para 27,6 cents por dólar, depois que o populista libertário Javier Milei foi o candidato que se saiu melhor na votação, que definiu oficialmente os concorrentes de cada partido para o pleito presidencial de outubro.

Foi uma mostra da enorme insatisfação do eleitor com o establishment político do país, tanto em relação aos governistas do partido peronista quanto à oposição pró-mercados.

Outros ativos também devem ser abalados. Alejo Costa, estrategista-chefe para Argentina do BTG Pactual em Buenos Aires, disse que o peso pode sofrer uma depreciação de até 14% nesta segunda-feira nos mercados paralelos. Durante a noite, as bolsas de criptomoedas mostravam o peso se enfraquecendo em até 15% em relação ao dólar.

“Os investidores gostam da mensagem econômica de Milei, mas temem a execução e o risco institucional, tendo em vista sua falta de poder no Congresso e seu estilo agressivo”, disse Costa.

O congressista fez campanha contra uma classe política que, segundo ele, administrou mal a economia durante anos, deixando o país cambaleando de crise em crise. A Argentina caminha para sua sexta recessão em 10 anos e lida com uma inflação que já ultrapassou 100% ao ano.

Milei diz que pode domar os aumentos de preços abandonando o peso e substituindo-o pela divisa americana — uma medida que muitos economistas dizem que desencadearia um caos financeiro.

Mas enquanto a falta de mais detalhes sobre a agenda de Milei assusta os principais economistas, os argentinos desesperados por traçar um novo rumo para o país não parecem muito preocupados com suas ameaças de “queimar” o Banco Central. Multidões vibram quando ele descreve os políticos como delinquentes, ladrões e criminosos que arruinaram a economia.

A coalizão de oposição de centro-direita da Argentina ficou em segundo lugar domingo à noite, com cerca de 28% dos votos, enquanto os peronistas, de esquerda, tinham 27% com quase 90% dos votos apurados.

“A mensagem é muito clara: o voto antiestablishment, de quem está farto, para punir a classe política, venceu”, disse Fernando Losada, diretor na Oppenheimer em Nova York.

Como Jair Bolsonaro no Brasil e Donald Trump nos EUA — com os quais Milei é frequentemente comparado — o argentino também tem visões sociais provocativas. Ele disse que eliminaria o recém-criado Ministério da Mulher e uma instituição governamental que luta contra o racismo, restringiria o aborto e facilitaria a compra de armas.

Analistas políticos avaliam que suas opiniões controversas sobre questões sociais podem dificultar a formação de coalizões e a aprovação de sua agenda.

A “leitura geral do mercado será negativa”, dadas as incógnitas sobre Milei, disse Patrick Esteruelas, chefe de pesquisa da Emso Asset Management em Miami. “Isso prolongará a incerteza.”

*Com informações do Estadão Conteúdo e Bloomberg. 

Acompanhe tudo sobre:Argentina

Mais de Economia

Morre Ibrahim Eris, um dos idealizadores do Plano Collor, aos 80 anos

Febraban: para 72% da população, país está melhor ou igual a 2023

Petróleo lidera pauta de exportação do país no 3º trimestre

Brasil impulsiona corporate venturing para atrair investimentos e fortalecer startups