Congresso: deputados e senadores estão insatisfeitos com seguidas decisões do STF que suspenderam o pagamento de emendas parlamentares (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 5 de dezembro de 2024 às 16h32.
Interlocutores do governo e do Congresso são unânimes em afirmar que a demora e as dificuldades para a votação da reforma tributária, do pacote fiscal de corte de gastos e das sabatinas de indicados para agências reguladoras e para o Banco Central (BC) decorrem do imbróglio em torno das emendas parlamentares. Os relatos foram apresentados à EXAME por parlamentares, técnicos do Congresso, da equipe econômica e da ala política.
Desde agosto, o pagamento das emendas foi suspenso por decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), e a expectativa dos parlamentares era que o fluxo de repasses seria reestabelecido após as eleições.
Passado mais de um mês do fim do processo eleitoral, os compromissos já firmados pelo governo com deputados e senadores não foram cumpridos, segundo os parlamentares e auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Quem acompanha o assunto afirmou que a pauta do Congresso só deslanchará após o pagamento dos compromissos já firmados.
Em meio ao impasse, o Palácio do Planalto solicitou ao Ministério da Fazenda o pagamento de R$ 7,8 bilhões em emendas parlamentares, dos quais mais da metade são verbas do Ministério da Saúde. Veja abaixo o detalhamento dos recursos:
A tendência é que os pagamentos comecem a ser feitos a partir da próxima sexta feira, 6, e sejam concluídos ao longo da próxima semana.
O pagamento das emendas parlamentares foi suspenso por decisão de Dino 1º de agosto. Na ocasião, ele determinou que as emendas de comissão e as chamadas 'emendas PIX' só deveriam ser pagas pelo governo federal quando houvesse "total transparência e rastreabilidade" dos recursos.
O Congresso aprovou um projeto de lei com novas regras para endereçar as determinações do magistrado, mas em nova decisão Dino definiu que os recursos das emendas de comissão e dos restos a pagar das antigas emendas de relator só podem ser executadas caso o parlamentar solicitante seja identificado nominalmente no Portal da Transparência. Além disso, a execução das emendas deve constar em outro portal, o Transferegov.
Para as transferências das "emendas Pix", Dino condicionou o pagamento à apresentação prévia de um plano de trabalho, contendo objeto e prazos para a obra que será contemplada com o dinheiro público. Esse plano, segundo a decisão, terá de ser aprovado pelo governo federal. No caso das emendas já empenhadas, foi estabelecido um prazo de 60 dias para apresentação do plano.
Diante da insatisfação dos parlamentares com a nova decisão de Dino, a Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou ao magistrado, na última terça-feira, 3, pedido de esclarecimento da decisão que definiu os critérios para a liberação do pagamento de emendas.
A AGU citou três pontos específicos da determinação judicial e pede para que sejam considerados pela Corte os critérios estabelecidos pela lei aprovada pelo Congresso que disciplina o pagamento das emendas.
Os pontos tratam da exigência prévia de plano de trabalho para as chamadas "emendas Pix" (transferências especiais), identificação nominal do parlamentar nas emendas de bancada e de comissão e de critérios para limite de crescimento de despesas com as emendas.
Em paralelo aos esforços do governo para tentar destravar o pagamento das emendas, a Câmara dos Deputados mandou recados claros para o governo na votação dos requerimentos de urgência de parte dos projetos do pacote de corte de gastos. Nas duas deliberações, os requerimentos foram aprovados sem uma votação expressiva — e muito próximas do número necessário para aprovação.
Em meio ao debate, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deixou claro que deputados e senadores estavam insatisfeitos com as decisões do Supremo. Sem citar Dino, ele afirmou na última quarta-feira, 5, que a decisão do STF causa “muita intranquilidade legislativa”. Lira ainda acrescentou que o governo não tinha, naquele momento, os votos necessários para aprovar as urgências dos projetos, diante da insatisfação dos parlamentares.
"Mas o fato de ter sido uma lei votada pela Câmara, pelo Senado, sancionada pelo presidente da República, e logo em seguida uma outra decisão remodelando tudo o que foi votado, causa muita, muita intranquilidade legislativa. Hoje o governo não tem voto sequer para aprovar as urgências dos PLs (projetos de lei)", disse.