Economia

Obstáculos para "jogar dinheiro do helicóptero" são maiores na Europa

Mesmo uma dose normal de gastos públicos parece ser uma medida extrema; países que querem gastar mais não podem, e os que podem, não querem

Dinheiro caindo no céu: vem estimulo por aí? (REB Images/Getty Images)

Dinheiro caindo no céu: vem estimulo por aí? (REB Images/Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 28 de setembro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 28 de setembro de 2019 às 08h00.

Há muita discussão sobre os bancos centrais e como estes podem trabalhar com os governos para proporcionar um impulso mais poderoso às economias em uma provável recessão.

Não espere que a Europa lidere a iniciativa.

O continente até poderia injetar algum estímulo. A gigante Alemanha enfrenta a pior retração da indústria em uma década.

Mas as barreiras para novas ideias, como os chamados “helicópteros de dinheiro” ou a Teoria Monetária Moderna (MMT, na sigla em inglês) - segundo a qual a política monetária deve financiar mais gastos do governo -, são maiores na Europa do que em qualquer outro lugar.

É uma pena, disse o Deutsche Bank em relatório sobre dívida global publicado na segunda-feira.

“Grande parte do debate intelectual sobre essas formas mais extremas de financiamento de dívida ocorreu nos EUA, mas as políticas são realmente mais aplicáveis na Europa”, escreveram analistas como Jim Reid. “Agora, parece um momento oportuno para a expansão fiscal europeia e até para políticas como as de helicópteros/MMT”, disseram.

Por enquanto, mesmo uma dose convencional de gastos do governo parece ser uma medida extrema na Europa, com suas rígidas regras orçamentárias. Os países que querem gastar mais não podem, e os que podem, não querem.

A falta de apoio fiscal fez com que o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, soasse cada vez mais exasperado. Em seus últimos dias no comando do BCE, Draghi tem transmitido uma clara mensagem aos governos: que a política monetária fez tudo o que podia.

Quando cortou as taxas de juros para um nível ainda mais negativo e retomou as compras de títulos este mês, Draghi disse que o Conselho do BCE - que ficou dividido sobre algumas dessas medidas monetárias - foi pelo menos unânime em relação a uma coisa: “A política fiscal deve se tornar o principal instrumento.”

Na segunda-feira, Draghi disse ao parlamento europeu que o BCE deveria estar aberto a um novo pensamento econômico. Ele citou a MMT e uma proposta para o helicóptero de dinheiro coescrita por seu orientador de tese de doutorado, o ex-vice-presidente do Federal Reserve, Stanley Fischer.

Quando se trata de política fiscal, a Europa não possui uma governança unificada. Não há uma autoridade que possa gastar e tributar em nome do continente.

Os orçamentos são administrados individualmente pelos países, e devem permanecer dentro dos limites estabelecidos pela União Europeia, que proíbe a impressão de euros para cobrir déficits. Essa é uma das razões pelas quais a MMT, que se concentra em países que têm suas moedas sob controle, não consegue atrair a mesma atenção conseguida nos EUA e no Japão.

Missão de Lagarde

Defensores de incentivos fiscais depositam esperanças no know-how político de Christine Lagarde, prestes a assumir a presidência do BCE.

“Em um mundo perfeito, ela deve pressionar bastante para que os políticos aumentem os gastos”, disse Dirk Ehnts, economista alemão que também defende a MMT e escreveu um livro baseado na nova teoria.

Draghi teve um sucesso limitado com seus próprios esforços, embora ainda esteja tentando.

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