Economia

Barbosa é "Matrix Reloaded" na Fazenda, diz Goldman Sachs

Novo ministro da Fazenda teve papel na "Nova Matriz Econômica" de Mantega e traz seu fantasma de volta para a pasta, diz nota do banco americano

Cena do filme "Matrix": banco americano fez uma brincadeira com a "nova matriz econômica" brasileira (Divulgação/Divulgação)

Cena do filme "Matrix": banco americano fez uma brincadeira com a "nova matriz econômica" brasileira (Divulgação/Divulgação)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 22 de dezembro de 2015 às 10h15.

São Paulo - Nelson Barbosa representa a ameaça de uma "Matrix Reloaded" no Ministério da Fazenda, de acordo com nota do banco Goldman Sachs.

A referência ao segundo filme da trilogia Matrix é uma brincadeira com o termo "Nova Matriz Econômica", como ficou conhecida a política implementada nos últimos anos da era Guido Mantega.

Os primeiros anos do governo do Partido dos Trabalhadores foram marcados pela bem-sucedida manutenção do chamado tripé macroeconômico: superávit primário para pagar os juros da dívida, metas de inflação e câmbio flutuante.

Após a crise de 2008, o tripé passou a ser flexibilizado em favor de expansão fiscal, juros mais baixos e desvalorização do câmbio, além de políticas de proteção comercial, conteúdo nacional e substituição de importações, enquanto o teto da meta de inflação virava o centro.

É esta a chamada "Nova Matriz Econômica", hoje amplamente reconhecida como responsável pelas pioras do resultado fiscal e outros desequilíbrios macroeconômicos que levaram ao cenário atual de recessão.

O papel de Barbosa

É incerto até que ponto Barbosa concorda com cada ponto da Nova Matriz, mas é fato que ele estava ao lado de Mantega durante todo o processo como Secretário de Política Econômica (2008-10) e Secretário Executivo do Ministério da Fazenda (2011-2013).

"O ministro Barbosa é considerado como parte da escola "desenvolvimentista" do pensamento econômico (oposta a escola monetarista liberal/ortodoxa) e tem visões de certa forma heterodoxas de política econômica", diz a nota do Goldman assinada por Alberto Ramos, co-diretor do Centro de Pesquisa para América Latina do banco.

Depois de sair do governo, Barbosa tentou fortalecer suas credenciais fiscais e se afastar dos elementos mais perversos da Nova Matriz, como a contabilidade criativa advogada pelo ex-secretário do Tesouro, Arno Augustin.

Mas como ministro do Planejamento no início do segundo governo Dilma, Barbosa defendeu metas fiscais menores ou em bandas, em oposição à postura mais rígida do agora ex-ministro Joaquim Levy.

"Extrapolando das declarações públicas mais recentes, esperamos que o Ministro Barbosa e a presidente Dilma vão favorecer um caminho de ajuste fiscal mais lento e gradual. Vemos isso como uma estratégia arriscada, já que em nossa avaliação, a consolidação fiscal continua na linha de frente da necessária agenda de rebalanceamento macro, e o pilar fundamental para restaurar a confiança e estabilizar a economia", diz a nota do Goldman.

Reação

É o medo da volta da heterodoxia que fez o mercado reagir mal à entrada de Barbosa. O dólar fechou ontem em alta de quase 2%, acima de 4 reais pela primeira vez em mais de dois meses e meio.

A bolsa registrou perdas mesmo depois de uma teleconferência em que Barbosa garantiu a investidores que o rumo da política econômica seria mantido e defendeu propostas polêmicas para a base petista, como uma idade mínima de aposentadoria. 

"Vemos como crítico que nos próximos dias, o ministro e a presidente garantam, e não só retoricamente, que o governo continua comprometido em entregar um ajuste fiscal significativo, que deveria idealmente ser centrado no anúncio e aprovação de profundas reformas fiscais que poderiam melhorar o preocuopante cenário fiscal de médio prazo e a trajetória da dívida pública", diz a nota.

O maior risco, segundo o Goldman, é que a possibilidade de impeachment faça com que a presidente Dilma sucumba à tentação do populismo fiscal para satisfazer movimentos sociais e partidos que permanecem dando seu apoio.

Acompanhe tudo sobre:Ajuste fiscalBancosbancos-de-investimentoEconomistasEmpresasEmpresas americanasGoldman SachsGoverno DilmaGuido MantegaJoaquim LevyMinistério da FazendaNelson BarbosaPersonalidadesPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileiros

Mais de Economia

Contas externas têm saldo negativo de US$ 5,88 bilhões em outubro

Mais energia nuclear para garantir a transição energética

Boletim Focus: mercado reduz para 4,63% expectativa de inflação para 2024

Lula se reúne hoje com Haddad para receber redação final do pacote de corte de gastos