Economia

Bandeira amarela em setembro é criticada por especialistas

A mudança levantou o alerta de que o critério adotado para definir a bandeira deveria mais uma vez ser aprimorado

Contas: o sistema de bandeiras funciona acrescentando uma taxa à tarifa se os custos são maiores (choness/Thinkstock)

Contas: o sistema de bandeiras funciona acrescentando uma taxa à tarifa se os custos são maiores (choness/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 25 de agosto de 2017 às 21h03.

São Paulo - O estabelecimento da bandeira tarifária amarela para o mês de setembro, anunciado nesta sexta-feira, 25, surpreendeu boa parte do setor elétrico e levantou o alerta de que o critério adotado para definir a bandeira deveria mais uma vez ser aprimorado.

Criado em 2015 para sinalizar ao consumidor o custo real de geração de energia, de maneira a contribuir para o consumo consciente da eletricidade, o sistema de bandeiras funciona acrescentando uma taxa à tarifa se os custos são maiores.

Normalmente, o custo aumenta quando são acionadas mais termelétricas para compensar a menor geração hidrelétrica decorrente do baixo nível dos reservatórios ou do menor volume de chuvas.

Embora a bandeira tenha passado da vermelha para a amarela entre agosto e setembro, a situação dos reservatórios das hidrelétricas do País ainda inspira atenção, enquanto a hidrologia permanece desfavorável, com a continuidade de uma previsão de chuvas abaixo da média histórica em todo o País.

Por isso, a perspectiva para o preço da energia permanece elevada. Na média nacional, a previsão é de afluências em 80% da média histórica em setembro.

Com isso, ao final do próximo mês a expectativa do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é que o nível dos reservatórios caiam a patamares entre 57,5% no Sul e apenas 8,7% no Nordeste.

"A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) seguiu a regra, e é bom aplaudir a postura da agência de seguir um critério objetivo, que está associado ao custo do sistema. Mas a situação real mostra que cabe um aprimoramento, que deveria ser levado em conta o armazenamento (das hidrelétricas)", disse o diretor de pesquisas da comercializadora Compass, Gustavo Arfux.

O superintendente de Gestão de Clientes do grupo Delta Energia, Reinaldo Ribas, também salientou que a regra estabelecida foi seguida, mas considerou que o resultado acaba confundindo os consumidores, que acabam recebendo a mensagem que a situação melhorou quando na prática continua delicada.

"A situação continua ruim, não melhorou, e por conta de uma regra definida há algum tempo, foi estabelecida a bandeira amarela, mas fundamentalmente não tem razão para isso. O ideal para mostrar um sinal de preço seria a vermelha", afirmou.

O presidente da Associação Brasileira de Pequenas Centrais Hidrelétricas e Centrais Geradoras Hidrelétricas (Abrapch), Paulo Arbex, também defendeu a manutenção da bandeira vermelha, de maneira a sinalizar com a necessidade de poupar água e recuperar os reservatórios das usinas.

O critério atualmente utilizado para definir a bandeira leva em conta o custo variável unitário (CVU) da térmica mais cara a ser despachada no próximo mês.

Se esse valor for inferior a R$ 211,28/MWh, a bandeira ficará verde, sem custo adicional na conta de luz; se ficar entre esse valor e os R$ 422,56/MWh, ficará amarela (que adiciona R$ 2 a cada 100 KWh).

Superando tal custo, atinge a bandeira vermelha, que tem dois patamares: o primeiro até R$ 610/MWh, com taxa de R$ 3 para cada 100 KWh, e o segundo acima desse limite (R$ 3,50 a cada 100 Kwh).

A térmica mais cara a ser despachada na próxima semana será a Mauá B3, que tem um CVU de R$ 411,92/MWh, determinando a bandeira amarela.

Vale lembrar, porém, que o Custo Marginal de Operação (CMO) para a primeira semana de setembro, considerado o custo ótimo de operação do sistema, está em patamar superior a esse CVU, em R$ 445,86/MWh.

Os especialistas explicaram que a diferença entre a térmica mais cara despachada e o CMO representa o valor da água.

Isso porque o modelo utilizado para calcular o CMO considera custo mínimo global, que neste caso identificou que a geração hidrelétrica adicional, apesar da pouca água nos reservatórios, é mais econômica do que acionar a próxima térmica da lista.

"O despacho de térmicas termina em R$ 411/MWh e o restante do custo operacional representa quanto vale a água. Se tivesse uma térmica com custo de R$ 449,05, ela seria despachada, mas não tem", explicou Ribas.

Acima das térmicas com CVU de R$ 411/MWh, estão usinas com custo marginal de R$ 466/MWh.

Acompanhe tudo sobre:ContasEnergia elétricameios-de-pagamento

Mais de Economia

Benefícios tributários farão governo abrir mão de R$ 543 bi em receitas em 2025

“Existe um problema social gerado pela atividade de apostas no Brasil”, diz secretário da Fazenda

Corte de juros pode aumentar otimismo dos consumidores nos EUA antes das eleições

Ministros apresentam a Lula relação de projetos para receber investimentos da China