Economia

Bancos digitais atraem argentinos da economia paralela

Os bancos digitais podem mudar a forma como que argentinos excluídos do setor financeiro fazem economias e se relacionam com a volatilidade da moeda local

Argentina: os depósitos bancários argentinos, como parte do produto interno bruto, são de apenas 18,8% (Javier Ghersi/Getty Images)

Argentina: os depósitos bancários argentinos, como parte do produto interno bruto, são de apenas 18,8% (Javier Ghersi/Getty Images)

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Reuters

Publicado em 8 de abril de 2019 às 16h23.

Buenos Aires — María Rosales, 39 anos, é uma entre milhões de argentinos excluídos do tradicional setor financeiro. A ex-operadora de cruzeiros perdeu seu emprego em 2015 e conta com a ajuda de sua família para se manter desde então.

Agora, suas economias estão sob a mira de um novo grupo de instituições financeiras: bancos digitais de olho em recursos que estão circulando na enorme economia paralela argentina.

O movimento pode abalar a forma como as pessoas fazem economias em um mercado marcado por forte dependência de dinheiro em espécie, escassez de poupança em bancos e pouca confiança em bancos tradicionais ou na volátil moeda local, que perdeu metade de seu valor em relação ao dólar no ano passado.

Os depósitos bancários argentinos, como parte do produto interno bruto, são de apenas 18,8 por cento, segundo um recente relatório da OCDE, que afirma que o país tem "escassez de poupança interna".

Isso se compara a quase 60 por cento no Brasil. No México, que também promove alternativas ao sistema bancário tradicional, é quase 30 por cento.

"Acreditamos que o banco digital será o caminho para desenvolver esse negócio a longo prazo", disse Stefano Angeli, presidente-executivo do Rebanking, um banco digital que vai começar operações no país em maio.

Além de empresas iniciantes, instituições financeiras internacionais estão tentando entrar no mercado de bancos digitais da Argentina. O Santander informou que seu banco digital será lançado no país em breve, enquanto o Itaú Unibanco disse no ano passado que estava analisando a abertura de contas apenas online na Argentina.

Quando Rosales ficou desempregada, seu ex-banco começou a cobrar para manter sua antiga conta aberta e ela não tinha documentos como comprovantes de salário ou contas de luz em seu nome necessários para abrir uma nova.

Em vez disso, ela se voltou para o banco digital local Wilobank, que promove acesso fácil a serviços bancários e lhe dá algum rendimento sobre suas economias - o que é importante em um país com inflação de 50 por cento ao ano.

"Você se torna um cliente em minutos sem ir a lugar nenhum", diz o Wilobank em seu site.

Lucas Llach, ex-vice-presidente do banco central da Argentina, que está concentrado em ampliar a inclusão financeira, disse que a mudança é lógica, com tantas pessoas incapazes de acessar os bancos tradicionais no país.

"Há uma população que não se sente bem-vinda (nos bancos tradicionais)", disse ele à Reuters, acrescentando que o advento dos bancos digitais pode ajudar o governo a tirar mais fundos da economia paralela.

"A tecnologia reduz os custos do setor bancário e, com essas novas tecnologias - onde tudo é digital -, torna-se lucrativo ter clientes de baixa renda."

O Wilobank afirma que atraiu 25 mil clientes nos seis primeiros meses de operação e espera atingir 100 mil até o final do ano e 300 mil em 2020.

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