Economia

Bancos centrais terão de lidar com 'verdade incômoda' sobre inflação acima da meta, alerta FMI

Em entrevista ao FT, Gita Gopinath diz que as instituições precisarão tolerar um indicador mais alto para evitar turbulência financeira

A meta de 2% ao ano de inflação é perseguida por alguns países desenvolvidos. No Brasil, a meta para 2023 é de 3,25% ao ano (Samuel Corum/Bloomberg/Getty Images)

A meta de 2% ao ano de inflação é perseguida por alguns países desenvolvidos. No Brasil, a meta para 2023 é de 3,25% ao ano (Samuel Corum/Bloomberg/Getty Images)

Agência o Globo
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Publicado em 27 de junho de 2023 às 16h04.

Última atualização em 27 de junho de 2023 às 16h21.

Os principais bancos centrais do mundo terão de aceitar "uma verdade incômoda" sobre a inflação e aprender a conviver com o indicador acima da meta de 2% por mais tempo para evitar um período de turbulência financeira, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

A meta de 2% ao ano de inflação é perseguida por alguns países desenvolvidos. No Brasil, a meta para 2023 é de 3,25% ao ano.

Em entrevista ao "Financial Times", a vice-diretora-gerente do FMI, Gita Gopinath, falou sobre a difícil escolha dos BCs entre resolver o colapso financeiro ou aumentar custos dos empréstimos para “domar” a inflação.

"É nesse ambiente que você pode ver os bancos centrais ajustando sua reação e dizendo 'OK, talvez possamos tolerar que a inflação seja mais alta por mais algum tempo' ", disse.

Após conversa com o jornal britânico, Gita Gopinath discursou na Conferência Anual do Banco Central Europeu (BCE), em Portugal, nesta segunda-feira. Durante sua fala, ela afirmou que os BCs precisarão aceitar o que chamou de ’"verdade incômoda”. Gopinath falou ainda sobre o endividamento e vulnerabilidade de governos europeus quanto a crises financeiras.

Inflação da zona do euro

Segundo o FMI, a inflação na zona do euro chegou a 10,6% em outubro de 2022, após invasão da Ucrânia, que causou uma disparada nos custos da importação. A inflação chegou a recuar a 6,1% em maio, mas ela tem se mostrado mais persistente do que parece.

Ainda de acordo com o FMI, isso mantém a pressão sobre o BCE para aumentar os recentes aumentos das taxas de juro, embora a zona do euro tenha entrado em recessão no início do ano.

Mesmo diante do otimismo de investidores quanto à trajetória da inflação, Gopinath argumentou no discurso que as taxas podem se manter altas por mais tempo que o previsto, escreveu a Reuters.

Gopinath mencionou que os bancos centrais podem precisar ajustar sua política monetária diante da falta de espaço fiscal dos governos para responder aos problemas. No entanto, ela ressaltou que os BCs devem estabelecer uma "barreira alta" antes de aceitar uma inflação acima da meta, para evitar que a inflação se torne ainda mais arraigada.

"As tensões financeiras podem gerar tensões entre os preços dos bancos centrais e os objetivos de estabilidade financeira. Embora os bancos centrais nunca devam perder de vista seu compromisso com a estabilidade de preços, eles podem tolerar um retorno um pouco mais lento à meta de inflação para evitar o estresse sistêmico", disse Gopinath de acordo com a Reuters

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