Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, e autoridades do banco central dos Estados Unidos começam a debater quando e como desacelerar o programa de compra de ativos (Al Drago/The New York Times/Bloomberg)
Da redação, com agências
Publicado em 6 de julho de 2021 às 07h00.
Bancos centrais começam a ensaiar a retirada do estímulo emergencial injetado para combater a recessão global causada pela pandemia.
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e autoridades do banco central dos Estados Unidos começam a debater quando e como desacelerar o programa de compra de ativos, enquanto o Banco Popular da China já busca frear o crescimento do crédito. Brasil, México, Turquia, República Tcheca e Rússia aumentaram as taxas de juros e outros começam a detalhar publicamente como podem retirar o apoio.
O giro global ainda será gradual. O Banco Central Europeu e o Banco do Japão devem continuar apoiando suas economias. E mesmo bancos centrais que começam a sinalizar aperto da política monetária apostam que o recente avanço da inflação passará em breve e têm se comprometido a evitar a turbulência dos mercados financeiros. Mas a trajetória da variante delta pode mudar essa visão e a demanda.
Os balanços patrimoniais continuarão se expandindo, embora em ritmo mais lento, e os juros se manterão perto de mínimas históricas.
Confira o guia trimestral da Bloomberg com as previsões para alguns bancos centrais:
Federal Reserve
Powell iniciou o debate sobre a redução das compras mensais em massa de títulos pelo Fed e poderia usar a reunião em Jackson Hole, de 26 a 28 de agosto, para sinalizar que uma decisão está próxima.
Embora as autoridades monetárias não planejem aumentar os juros antes de 2023, no mês passado sete entre 18 membros projetaram uma elevação em 2022 das taxas atuais, próximas de zero, em meio à ansiedade com a aceleração da inflação.
Dados recentes sobre a economia dos EUA têm sido voláteis, com gargalos de oferta afetando os preços, enquanto a criação de empregos tem decepcionado. Autoridades dizem que os dados refletem problemas na reabertura da economia e esperam ter uma leitura mais clara em setembro.
Banco Central Europeu
O BCE se comprometeu a manter as condições de financiamento para governos, empresas e famílias “favoráveis” até que a crise do coronavírus termine. Atualmente, está comprando títulos sob o Programa de Compras de Emergência na Pandemia (PEPP, na sigla em inglês) de 1,85 trilhão de euros (US$ 2,2 trilhões) em ritmo elevado, guiado por juros negativos e empréstimos de longo prazo ultrabaratos aos bancos.
O PEPP deve durar pelo menos até o final de março de 2022. No entanto, com a previsão de inflação abaixo da meta um pouco menor que 2% por pelo menos os próximos dois anos - e com uma revisão da estratégia que deve terminar em breve -, a instituição deve iniciar o debate sobre o que deve substituí-lo.
Banco da Inglaterra
A taxa de inflação do Reino tem se acelerado, mas o BOE resiste às crescentes expectativas de que pode ter que reduzir o ritmo de estímulo. Em junho, autoridades alertaram contra o “aperto prematuro” que poderia ameaçar a recuperação, observando que um aumento dos preços acima da meta de 2% pela primeira vez em quase três anos provavelmente será temporário.
Por enquanto, autoridades do BOE lideradas por Andrew Bailey estão focadas em garantir a recuperação, absorvendo trabalhadores desempregados e sob licença atingidos pelas medidas de combate à pandemia de coronavírus, entre as mais rigorosas da Europa.
Banco Popular da China
Com a rápida recuperação durante a pandemia, o banco central da China adotou uma posição mais neutra, mantendo os juros inalterados e fornecendo liquidez suficiente aos mercados financeiros para atender à demanda. Com a economia bem encaminhada para ultrapassar a meta de governo de crescimento ‘acima de 6%’ este ano, o PBOC tem se concentrado no controle de riscos financeiros ao frear a expansão do crédito. A inflação ao consumidor tem se mantido sob controle até agora, e o rápido aumento dos preços aos produtores foi impulsionado principalmente pela alta das cotações das commodities, que o governo busca esfriar.
Banco Central do Brasil
O BC tem elevado a taxa básica em ritmo acelerado diante da recuperação econômica e previsões de inflação que permanecem acima da meta neste ano e no próximo. O Copom elevou a Selic em 0,75 ponto percentual em cada uma das três últimas reuniões e sinalizou que um aumento de um ponto percentual pode ocorrer em agosto.
O Copom descartou planos de manter parte do estímulo monetário em vigor e agora diz que pretende levar a taxa básica até o nível considerado neutro. A curva de juros futuros embute apostas de que a Selic deve terminar o ano acima de 7%, sob o impacto da crise hídrica que eleva os custos da eletricidade e pressiona ainda mais a inflação anual, que já está perto do maior nível em cinco anos.
Banco Central da Rússia
O Banco da Rússia aumentou a taxa básica para 5,5% em junho, elevando o total de aumentos neste ano para 125 pontos-base. Com a inflação bem acima da meta de 4%, a presidente do banco central russo, Elvira Nabiullina, diz que outro aumento da taxa é muito provável em julho, já que a inflação sobe no ritmo mais rápido em mais de quatro anos.
Os esforços do governo para segurar os preços com limites administrativos tiveram pouco efeito, e a inflação deve começar a desacelerar apenas no terceiro trimestre.
O aumento de casos de Covid-19 na capital a níveis recordes levou autoridades a reimpor algumas restrições, o que aumenta os riscos e potencialmente limita o espaço para novas altas dos juros.
Banco Central da África do Sul
A sinalização do banco central da África do Sul de que aumentos dos juros são inevitáveis foi justificada pelo crescimento econômico melhor do que o projetado no primeiro trimestre, pelas maiores expectativas de inflação desde o início do ano e pelas discussões globais sobre o aperto monetário.
A inflação no maior nível em 30 meses em maio não deve antecipar o primeiro aumento da taxa do final de 2021 ou início de 2022, porque estava em linha com as previsões. No entanto, isso pode levar o banco central a elevar ligeiramente as projeções de inflação na próxima reunião do comitê de política monetária em julho.
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