Economia

Bancos centrais iniciam ciclo sincronizado de corte de juros pelo mundo

Europa, Estados Unidos e outras grandes economias sinalizam cortes nas taxas de juros, abrindo espaço para estímulos econômicos

Expectativa é que inflação fique dentro dos limites impostos pelo Banco Central do Brasil. (Leandro Fonseca/Exame)

Expectativa é que inflação fique dentro dos limites impostos pelo Banco Central do Brasil. (Leandro Fonseca/Exame)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 9 de setembro de 2024 às 06h28.

Os principais bancos centrais do mundo estão se encaminhando para um ciclo de afrouxamento monetário sincronizado, com a expectativa de cortes nas taxas de juros tanto na Europa quanto nos Estados Unidos nas próximas semanas. O Banco Central Europeu (BCE) deve reduzir sua taxa de juros na próxima quinta-feira, 12, seguido por um movimento similar do Federal Reserve, o banco central dos EUA, em 18 de setembro. Esse cenário indica que as grandes economias avançadas estão mudando seu foco para o estímulo ao crescimento econômico, após concluírem que os riscos inflacionários estão diminuindo. As informações são da Fortune.

O BCE já havia promovido uma redução nas taxas de juros em julho e, agora, os investidores aguardam sinais sobre novos cortes até o final do ano. A queda no crescimento salarial no segundo trimestre na zona do euro é um dos fatores que têm encorajado os formuladores de políticas a adotar uma postura mais branda em relação à política monetária. Já nos Estados Unidos, dados recentes mostram uma desaceleração no mercado de trabalho e uma inflação mais estável, o que fortalece a expectativa de cortes nas taxas de juros.

O cenário global aponta para um momento de transição nas políticas monetárias, com os bancos centrais ajustando suas estratégias para estimular o crescimento econômico, à medida que as pressões inflacionárias diminuem. No entanto, permanece a dúvida sobre até que ponto esses cortes nas taxas de juros podem sinalizar um ciclo mais profundo de afrouxamento monetário, capaz de reverter as condições restritivas das principais economias e impulsionar o crescimento.

Perspectivas para os Estados Unidos e Canadá

Nos Estados Unidos, o foco dos formuladores de políticas do Federal Reserve tem sido o mercado de trabalho, que continua a desacelerar. Dados recentes indicam que a criação de empregos ficou abaixo das expectativas, enquanto a inflação se estabilizou em torno de 3,2% ao ano. Esses fatores são vistos como sinais de que o Fed deve seguir adiante com sua primeira redução nas taxas de juros em setembro.

Christopher Waller, membro do Fed, já indicou que é hora de agir, destacando que o atual cenário econômico exige cortes nos juros para apoiar o crescimento. Outros dados importantes para a decisão do Fed incluem o índice de preços ao produtor e as solicitações de seguro-desemprego.

Enquanto isso, no Canadá, o líder do Banco do Canadá, Tiff Macklem, deverá discursar sobre as mudanças no comércio e nos investimentos globais do ponto de vista canadense, enquanto novos dados sobre a situação financeira das famílias canadenses são aguardados.

O cenário econômico na Ásia e Europa

Na China, os dados econômicos mostram uma demanda doméstica enfraquecida, com a inflação se mantendo em níveis baixos e os preços industriais continuando a cair. Espera-se que os números de agosto para a produção industrial e as vendas no varejo também mostrem uma desaceleração, enquanto os investimentos em imóveis caíram acentuadamente, pelo quarto mês consecutivo.

No Japão, o crescimento econômico do segundo trimestre pode ser revisado para cima, devido a investimentos robustos em capital. Já na Índia, os dados de inflação de agosto podem influenciar a decisão do Banco da Índia de cortar as taxas de juros em outubro, após sinais de desaceleração no crescimento dos preços.

O panorama monetário global também inclui decisões de política monetária no Paquistão e no Uzbequistão, que estão avaliando a necessidade de cortes adicionais nas taxas de juros para apoiar suas economias.

Impactos no Reino Unido e na zona do euro

No Reino Unido, os dados salariais e de produção industrial desta semana são aguardados com expectativa, uma vez que poderão influenciar a decisão do Banco da Inglaterra sobre a política monetária. Embora se espere uma desaceleração no crescimento dos salários, o ritmo anual de aumento continua mais que o dobro da meta de inflação do banco central, de 2%. Dados do produto interno bruto (PIB) de julho também deverão mostrar um crescimento modesto, enquanto o Banco da Inglaterra divulgará sua mais recente pesquisa sobre expectativas de inflação.

Na zona do euro, os números de produção industrial da Itália, Espanha e da região como um todo ajudarão a avaliar a condição da economia no início do segundo semestre. Com base no desempenho da Alemanha e da França, espera-se que a economia da zona do euro tenha iniciado a segunda metade do ano com fraqueza.

Na Alemanha, o ministro das Finanças, Christian Lindner, apresentará o orçamento de 2025 ao parlamento, seguido por declarações do chanceler Olaf Scholz e outros ministros do governo.

América Latina: inflação e decisões de política monetária

Na América Latina, os três maiores países da região — Brasil, México e Argentina — divulgarão seus dados de inflação de agosto esta semana. No México, espera-se uma desaceleração da inflação, o que pode abrir espaço para um novo corte na taxa de juros ainda este mês, com o objetivo de impulsionar a economia. No Brasil, a expectativa é de que a inflação tenha se mantido dentro do intervalo de tolerância do Banco Central, mas os riscos de alta nos preços, como o aumento dos gastos públicos e o crescimento econômico robusto, podem influenciar futuras decisões de política monetária.

Na Argentina, o foco estará nos dados de inflação, que, embora tenham mostrado desaceleração nos últimos meses, permanecem em níveis extremamente elevados, acima de 200% ao ano.

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