Bolsa de Nova York: Banco Mundial vê recessão em alguns países como inevitável (Matteo Colombo/Getty Images)
Da redação, com agências
Publicado em 7 de junho de 2022 às 13h17.
Última atualização em 7 de junho de 2022 às 13h32.
O Banco Mundial cortou nesta terça-feira, 7, a projeção de crescimento da economia global neste ano. Segundo novo relatório da instituição, a previsão para o produto interno bruto (PIB) caiu para 2,9%, ante os 4,1% que haviam sido projetados em janeiro, antes do início da guerra na Ucrânia.
Para 2023, a estimativa caiu de alta de 3,2% para 3%. Para 2024, a projeção é dos mesmos 3%. Ao todo, só a escalada nos preços de energia com a guerra pode fazer o crescimento do PIB ser reduzido em 0,8 ponto percentual no acumulado entre 2022 e 2023.
Com a guerra se mostrando mais duradoura (o conflito já supera três meses), o Banco Mundial aponta que o risco de um cenário de estagflação como o ocorrido nos anos 1970 não está descartado.
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"A guerra na Ucrânia, os lockdowns na China, as interrupções na cadeia de suprimentos e o risco de estagflação estão prejudicando o crescimento. Para muitos países, a recessão será difícil de evitar", disse o presidente do Grupo Banco Mundial, David Malpass.
Nos anos 1970, a estagflação global foi desencadeada sobretudo por choques na oferta de petróleo. O período teve guerras no Oriente Médio com os conflitos de países árabes e Israel, além do consequente embate entre EUA e a recém-criada Opep, organização dos países exportadores de petróleo.
A redução da oferta devido às guerras e às decisões da Opep levaram os EUA à inflação recorde, na casa dos dois dígitos, em período que ficaria conhecido como "grande inflação". O Banco Central americano, o Fed, teve de subir juros e o resultado foi de uma combinação entre estagnação, desemprego e inflação ainda alta.
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O Banco Mundial apontou em seu relatório que há traços parecidos entre os dois cenários, o dos anos 1970 e o atual. Com o início da guerra, o preço do petróleo no mercado internacional superou US$ 100 e levou a inflação generalizada em todo o mundo.
No relatório, o Banco Mundial aponta que o preço do petróleo deve seguir em US$ 100 por algum tempo e cair a partir de 2023, mas lentamente. Os preços, para a instituição "vão permanecer muito acima do previsto anteriormente, e bem acima da média dos últimos cinco anos."
Por outro lado, a entidade internacional considera que o avanço dos preços de commodities é mais contido hoje do que naquela época, que instituições financeiras estão mais sólidas e os bancos centrais têm mandato mais claro pela estabilidade de preços.
O Fed, por exemplo, já iniciou processo de alta de juros, até então quase zerados. (A inflação nos EUA está na casa dos 8%, alta para os patamares do país.) Nos anos 1970, as entidades monetárias foram criticadas por demorar a agir para conter a inflação.
O Banco Mundial acredita que a inflação deve moderar no ano que vem, mas ainda acima das metas dos BCs.
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Ao mesmo tempo, o documento adverte que o cenário inflacionário pode causar uma acentuada desaceleração da economia global e, como consequência, deflagrar crises financeiras em mercados emergentes, como o Brasil.
A expectativa atual de bancos e casas de análise é que o Brasil termine o ano com taxa Selic perto de 14% e inflação pouco abaixo de 10% em meio à crise global. O cenário de juros e inflação alta devem colocar um freio na recuperação pós-covid-19 no Brasil e no mundo, podendo levar a recessão em alguns países, como alerta o Banco Mundial, além de avanço da pobreza.
O Banco Mundial disse defender a importância de medidas globais e nacionais para mitigar as consequências econômicas da guerra.
Para a instituição, serão necessárias ações para limitar o impacto da crise nos grupos mais vulneráveis, atenuar os efeitos da escalada de preços de petróleo e alimentos, aumentar alívio de dívidas e expandir a vacinação global contra o coronavírus, que ainda está abaixo do ideal em países mais pobres.
"Contra o cenário desafiador de maior inflação, crescimento mais fraco, condições financeiras mais apertadas e espaço limitado para a política fiscal, os governos precisarão priorizar os gastos para o alívio direcionado para as populações vulneráveis", argumenta.
Apesar disso, o Banco Mundial escreveu no documento que os países, mesmo com a crise nos preços, devem evitar políticas que causam distorções — como controles de preços, subsídios e restrições a exportações.
(Com informações do Estadão Conteúdo)