Economia

Banco Central piora projeção e espera queda de 6,4% do PIB em 2020

A alteração da projeção do PIB está associada a crise provocada pela pandemia de coronavírus

PIB do Brasil: expectativa do BC é mais pessimista que a da equipe econômica do governo (Ingo Roesler/Getty Images)

PIB do Brasil: expectativa do BC é mais pessimista que a da equipe econômica do governo (Ingo Roesler/Getty Images)

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Reuters

Publicado em 25 de junho de 2020 às 08h41.

Última atualização em 25 de junho de 2020 às 09h28.

O Banco Central piorou sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 a uma retração de 6,4%, ante crescimento zero calculado em março, refletindo o impacto profundo da crise com o coronavírus na atividade, conforme Relatório Trimestral de Inflação publicado nesta quinta-feira.

No documento, o BC também repetiu que, para a taxa básica de juros, um eventual corte à frente será "residual" e que essa decisão dependerá de uma avaliação dos impactos da pandemia, das medidas adotadas até aqui para incentivar crédito e apoiar a renda e da diminuição das incertezas quanto à trajetória das contas públicas.

A expectativa para o PIB é mais pessimista que a da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia, que ainda prevê um recuo de 4,7% para a atividade neste ano. Já economistas ouvidos pelo BC na mais recente pesquisa Focus estimaram um tombo de 6,50% para o PIB.

"A alteração da projeção está associada, essencialmente, ao avanço e à duração da pandemia da Covid-19 em território nacional, com a consequente adoção, a partir da segunda quinzena de março, de medidas de isolamento social no país", afirmou o BC.

"A magnitude desses dois fatores tem superado significativamente o que se esperava na data de corte do último RI", acrescentou.

O BC estimou que haverá "recuperação gradual nos dois últimos trimestres do ano", mas alertou que o nível de incerteza sobre o ritmo desse processo permanece acima do usual.

Do lado da oferta, a revisão mais acentuada foi feita pelo BC na expectativa para a indústria, que passou a -8,5% em 2020, contra -0,5% antes, com piora em todas as atividades do setor.

Para o setor de serviços, o BC agora vê recuo de 5,3% no ano, contra estabilidade projetada anteriormente. Já para a agropecuária, o crescimento esperado neste ano foi cortado a 1,2%, sobre 2,9% antes.

"Essa redução reflete menores expansões nos levantamentos para a safra de grãos e, principalmente, na estimativa para o desempenho da pecuária, em razão dos impactos da pandemia sobre a demanda interna e externa por proteínas", afirmou o BC.

Pelo lado da demanda, a autoridade monetária vê uma contração expressiva no consumo das famílias, de 7,4%, sobre crescimento de 0,8% calculado anteriormente.

Para os investimentos, o BC passou a enxergar uma variação negativa de 13,8% no ano, contra -1,1% no relatório anterior. Já a estimativa para o consumo do governo seguiu inalterada em +0,2%, com o BC destacando que, apesar da perspectiva de forte perda de receitas, "o governo deve preservar gastos essenciais em momento de crise".

O BC também empurrou para o território negativo suas contas para exportações e importações de bens e serviços em 2020, a -8,1% e -11,1%, respectivamente. Em março, as projeções eram de +0,9% e +0,6%.

"A redução na projeção para exportações resulta da expectativa de menor demanda externa, especialmente por bens manufaturados, em virtude de reavaliação da atividade econômica global", afirmou o BC.

"Já a diminuição na estimativa para as importações reflete a redução nas projeções de crescimento da atividade doméstica, em especial da indústria de transformação e da FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), com o consequente decréscimo nas aquisições de insumos e de máquinas e equipamentos, bem como a perspectiva de redução do consumo das famílias", completou.

Em relação à política monetária, o BC reforçou que o espaço remanescente para a utilização de política monetária é incerto e deve ser pequeno.

Na semana passada, o BC cortou a Selic em 0,75 ponto, à nova mínima histórica de 2,25% ao ano, ao mesmo tempo em que deixou aberta a porta para nova redução, condicionada à avaliação do cenário.

Inflação

O BC apontou que, no curto prazo, a inflação tende a mostrar alta, afetada pela subida dos preços internacionais de petróleo e pelos efeitos de postergação de reajustes de preços de itens administrados que usualmente ocorreriam ao longo do segundo trimestre do ano.

Segundo o BC, as medidas de inflação subjacente --que desconsideram preços mais voláteis-- indicaram os efeitos desinflacionários do surto de Covid-19.

"Nesse contexto houve significativo recuo das expectativas de mercado para a inflação ao consumidor em 2020 e 2021", frisou o BC, afirmando que, para este ano, a mediana das projeções aponta um IPCA abaixo do piso do intervalo de tolerância. Para o ano que vem, as projeções encontram-se na parte inferior desse intervalo.

A meta de inflação deste ano é de 4,0% e de 3,75% em 2021, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.

Nos quatro cenários colocados pelo BC no relatório, suas contas para a inflação em 2020 ficaram abaixo do piso da meta, variando de 1,9% a 2,4%. Para 2021, os cálculos da autoridade monetária para o IPCA variaram de 3% a 3,2%.

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