(Andre Coelho/Bloomberg/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 9 de dezembro de 2020 às 18h37.
Última atualização em 9 de dezembro de 2020 às 19h46.
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu manter, pela terceira vez consecutiva, a taxa básica de juro (Selic) a 2% ao ano, menor patamar da história, nesta quarta-feira, 9.
A decisão, tomada por unanimidade, veio em linha com o esperado pelo mercado, que estava na expectativa para saber que sinalizações o comitê daria para o futuro.
"Um ponto a destacar nesse comunicado que está diferente dos anteriores é que, nos últimos dois, o BC colocava que, se houvesse necessidade, poderia reduzir de forma residual a taxa, e a gente entendia que poderia haver cortes. Isso não apareceu hoje", diz Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos.
Nesse sentido, o BC diz em ata que, apesar de as últimas leituras de inflação terem vindo acima do esperado, mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, "mas segue monitorando sua evolução com atenção, em particular as medidas de inflação subjacente".
A ata traz que, em seu cenário básico para a inflação, o BC vê risco nas duas direções: se por um lado, o nível de ociosidade da economia puxa os preços para baixo - o que tende a se agravar, caso os impactos da pandemia não se dissipem -, por outro, um prolongamento de políticas fiscais de resposta à pandemia ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco.
Nesta terça-feira, quando o Copom deu início à reunião o IBGE anunciou que a inflação oficial media pelo IPCA subiu 0,89% em novembro, a maior para o mês em cinco anos. Em 12 meses, a taxa foi de 3,92% para 4,31%, ficando acima da meta de inflação para 2020, de 4%.
Em sua 235ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 2,00% a.a.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.
Por um lado, o nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado, notadamente quando essa ociosidade está concentrada no setor de serviços. Esse risco se intensifica caso uma reversão mais lenta dos efeitos da pandemia prolongue o ambiente de elevada incerteza e de aumento da poupança precaucional.
Por outro lado, um prolongamento das políticas fiscais de resposta à pandemia que piore a trajetória fiscal do país, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco. O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.
O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica de juros em 2,00% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2021 e 2022.
O Comitê considera adequado o atual nível extraordinariamente elevado de estímulo monetário que vem sendo produzido pela manutenção da taxa básica de juros em 2,00% a.a. e pelo forward guidance adotado em sua 232ª reunião, segundo o qual o Copom não pretende reduzir o grau de estímulo monetário desde que determinadas condições sejam satisfeitas. O Copom avalia que essas condições seguem satisfeitas. Apesar da elevação desde a última reunião, em particular para o ano de 2021, as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, permanecem abaixo da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária; o regime fiscal não foi alterado; e as expectativas de inflação de longo prazo permanecem ancoradas.
O Copom avalia que, desde a adoção do forward guidance, observou-se uma reversão da tendência de queda das expectativas de inflação em relação às metas para o horizonte relevante. Além disso, ao longo dos próximos meses, o ano-calendário de 2021 perderá relevância em detrimento ao de 2022, que está com projeções e expectativas de inflação em torno da meta. A manutenção desse cenário de convergência da inflação sugere que, em breve, as condições para a manutenção do forward guidance podem não mais ser satisfeitas, o que não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros pois a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade. No cenário de retirada do forward guidance, a condução da política monetária seguirá o receituário do regime de metas para a inflação, baseado na análise da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.
*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.
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