Economia

Banco Central da Argentina descarta desvalorização do peso

Presidente do Banco Central argentino, descartou a desvalorização do peso para melhorar a competitividade, por acreditar que medida provocaria mais inflação


	Pesos argentinos: para Alejandro Vanoli, a desvalorização do peso provocaria mais inflação
 (Diego Giudice/Bloomberg)

Pesos argentinos: para Alejandro Vanoli, a desvalorização do peso provocaria mais inflação (Diego Giudice/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 19 de outubro de 2014 às 13h02.

Buenos Aires - O presidente do Banco Central argentino (BCRA), Alejandro Vanoli, descartou a desvalorização do peso como medida para melhorar a competitividade, por acreditar que provocaria mais inflação, e negou que a emissão monetária seja um fator central na alta de preços no país, em entrevista publicada neste domingo.

"Houve uma tentativa muito clara de alguns setores que apostaram em uma nova desvalorização da moeda. Muitos bancos pretenderam instaurar uma cotação implícita, um valor de referência à margem do oficial", afirmou Vanoli, entrevistado pelo jornal "Página 12".

Vanoli assinalou que, pela expectativa de desvalorização, os produtores de grãos fizeram um "mau negócio" este ano ao não liquidar suas colheitas apesar dos níveis recorde de produção e dos preços internacionais altos.

"O primeiro (a fazer) é desacreditar essas expectativas. Estamos trabalhando desde os diferentes organismos de regulação para desarmar os fatores que estimulavam essas expectativas", disse Vanoli, que assumiu o BCRA no início do mês.

O presidente do BCRA explicou que em "um país que não seja Argentina" uma correção cambial pode ser um mecanismo para manter a competitividade, mas no caso de sua nação, uma desvalorização como a que "querem forçar os setores concentrados" viria acompanhada do aumento de preços, 'apesar dos esforços feitos pelo Estado para evitar abusos'.

O presidente do BCRA explicou que esse fenômeno já ocorreu na última desvalorização brusca do peso, em janeiro.

"O normal é que os produtos aumentem de preços de acordo com o componente importado. Aqui, por outro lado, o comportamento é como se tudo tivesse preço em dólares, e se a desvalorização é de xis %, tudo sobe xis %", criticou.

Além disso, segundo Vanoli, em muitos casos a oferta não acompanhou o ritmo de crescimento da demanda, o que "deu as condições para abusos nas margens de lucro".

Vanoli descartou também as críticas sobre a política de expansão monetária e assegurou que não têm um impacto central na inflação.

"A realidade mostrou que essas interpretações mecânicas do monetarismo são uma falácia. Na Argentina, a inflação é multicausal. Em nosso caso, a emissão monetária não é um fator central, porque o país tem um nível muito baixo do crédito, o que reduz a propagação da emissão de pesos em direção a uma maior circulação monetária", afirmou.

"A inflação tem causas reais e também por expectativas, mas não monetárias. Em uma economia altamente concentrada, grande parte das causas da inflação tem a ver com a capacidade de conduzir as margens de lucro dos grupos dominantes", acrescentou.

Também reiterou que o governo "não tem nenhum temor" de continuar usando as reservas de divisas do Banco Central para cumprir os compromissos de dívida internacional e apontou que entrará mais moeda estrangeira, ao contrário do que preveem os analistas que veem na liquidação das divisas um dos maiores alarmes para a economia argentina.

Vanoli apontou também que a decisão adotada nesta sexta-feira de limitar a antecipação dos pagamentos das importações e a repatriação do investimento estrangeiro direto é só uma medida de controle, já que a expectativa de desvalorização tinha gerado adiantamentos em trâmites que não fechavam com a operação, só fechavam a taxa de câmbio.

Por outro lado, destacou sua 'boa relação com o ministro da Economia', Axel Kicillof, e afirmou que estão na "na mesma sintonia".

Vanoli, ex-titular da Comissão Nacional de Valores, assumiu a presidência do BCRA no início de outubro, após a renúncia de Juan Carlos Fábrega.

Sua chegada, mal recebida pelo mercado, aconteceu em um momento de forte incerteza econômica derivada da pressão sobre a cotação do peso, a liquidação das reservas de divisas, a contração do PIB, a crise da dívida pelo litígio nos Estados Unidos com fundos especulativos e a inflação. 

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