Economia

Baixo crescimento e inflação próxima do teto marcam economia

No Relatório de Inflação, divulgado na semana passada pelo Banco Central, a estivativa de crescimento era de 0,2%, e inflação de 6,4%


	No Relatório de Inflação, divulgado na semana passada pelo Banco Central, a estivativa de crescimento era de 0,2%, e inflação de 6,4%
 (Bruno Domingos/Reuters)

No Relatório de Inflação, divulgado na semana passada pelo Banco Central, a estivativa de crescimento era de 0,2%, e inflação de 6,4% (Bruno Domingos/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 29 de dezembro de 2014 às 20h54.

Um crescimento próximo de 2% e uma inflação de 5,97%. Essas eram as estimativas das instituições financeiras, em janeiro deste ano, para a economia brasileira em 2014. Mas, segundo as perspectivas mais recentes, o país vai encerrar o ano com crescimento próximo de zero e com a inflação próxima ou até acima do teto da meta, de 6,5%.

No fim de novembro, o Ministério da Fazenda reduziu para 0,5% a previsão oficial de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país e aumentou a projeção de inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 6,45%.

No Relatório de Inflação, divulgado na semana passada pelo Banco Central (BC), o órgão estima crescimento ainda menor, 0,2%, e inflação de 6,4%. Mesmo assim, as projeções oficiais para o PIB podem ser consideradas otimistas diante das previsões do mercado.

Na edição mais recente do boletim Focus, do Banco Central (BC), as instituições financeiras apostam em crescimento de 0,14% da economia. Para a inflação, a estimativa dos analistas de mercado está em 6,38%, um pouco abaixo das previsões oficiais.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) só divulgará o índice oficial de inflação de 2014 no início de janeiro e o crescimento do PIB em março. Até lá, caberá à nova equipe econômica pôr em prática o ajuste fiscal que prevê o corte de gastos do governo para elevar o superávit primário – economia para pagar os juros da dívida pública – para 1,2% do PIB.

O plano pretende restaurar a credibilidade das contas públicas depois que a queda nas receitas e a alta dos gastos levaram o governo a abolir a meta de superávit primário para 2014 com a ajuda do Congresso.

Os fatores que poderiam recuperar a economia não se concretizaram. O programa de concessão de rodovias, portos e ferrovias, que impulsionaria os investimentos, sofreu atrasos. A Copa do Mundo impulsionou o turismo, mas praticamente paralisou a indústria e as exportações.

Como resultado, o PIB caiu no primeiro e no segundo trimestre, fazendo o país entrar em recessão técnica. No terceiro trimestre, o país voltou a crescer, mas em ritmo insuficiente para reverter o fraco desempenho do PIB no ano.

Além do baixo crescimento, o brasileiro teve de enfrentar mais um ano com inflação próxima do teto da meta. A seca no Centro-Sul refletiu-se nos preços dos alimentos, principalmente da carne, e nas tarifas de energia.

Além disso, a disparada do dólar, que acumula alta de mais de 13% em 2014, trouxe impacto sobre os produtos importados e com matérias-primas importadas. Como resultado, o IPCA está, desde agosto, acima do teto da meta. Em novembro, o índice estava em 6,56% no acumulado de 12 meses.

Para segurar a inflação, o Banco Central passou a reajustar a taxa Selic – juros básicos da economia – sucessivamente desde outubro. Atualmente, a taxa está em 11,75% ao ano, no maior nível desde outubro de 2011. Mesmo assim, a autoridade monetária reconhece que o dólar e os preços administrados continuarão a pressionar a inflação em 2015. O IPCA só deve convergir para o centro da meta (4,5%) a partir de 2016.

A combinação de baixo crescimento e de alta inflação teve efeitos atingiu o caixa do governo. Inicialmente, a Receita Federal projetava crescimento real – acima da inflação – entre 3% e 3,5% da arrecadação em 2014. No entanto, de janeiro a novembro, as receitas estavam 0,99% abaixo do registrado no mesmo período de 2013 descontando a inflação. O próprio Fisco admite que a arrecadação deve encerrar o ano com a primeira queda real desde 2009, auge da crise econômica.

Sem receitas suficientes para cobrir os gastos, o governo passou a economizar menos e a registrar resultados negativos nas contas públicas. De janeiro a novembro, a União, os estados e os municípios acumulam déficit primário de R$ 19,6 bilhões, o pior resultado desde o início da série histórica em 2001.

Para não descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal, o governo teve de conseguir a aprovação, no Congresso, de uma emenda à Lei de Diretrizes Orçamentárias autorizando o abatimento da meta fiscal dos gastos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da perda de arrecadação com as reduções de tributos, medida que na prática acaba com a obrigação de qualquer esforço fiscal para 2014.

Em meio à crise econômica, a única variável com desempenho positivo em 2014 foi o mercado de trabalho. O desemprego continuou baixo. Em novembro, a taxa nas seis principais regiões metropolitanas do país ficou em 4,8%, praticamente estável em relação a novembro do ano passado (4,6%).

Pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), que mede o desemprego em todo o país, a taxa encerrou o terceiro trimestre em 6,8%, também com estabilidade em relação ao mesmo trimestre de 2013 (6,9%).

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