Economia

Avanço de Bolsonaro no 1º turno tira pressão para alta de juros

Os riscos inflacionários, tanto pelas eleições quanto pelas dificuldades dos emergentes, agora caíram, diz economista-chefe da SulAmérica Investimentos

Banco Central com ipê roxo na frente (Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Agência Brasil)

Banco Central com ipê roxo na frente (Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Agência Brasil)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 12 de outubro de 2018 às 08h00.

Última atualização em 12 de outubro de 2018 às 08h00.

Ainda recentemente, há duas semanas, o Banco Central estava ponderando a possibilidade de um aumento da taxa de juros no futuro próximo. Os resultados das eleições de domingo podem ter mudado esse cenário.

O candidato presidencial de extrema-direita, Jair Bolsonaro, ficou a um passo da vitória no primeiro turno e se tornou o favorito para vencer o segundo. Os investidores vieram abraçá-lo em parte por causa de suas propostas para reduzir o déficit orçamentário e privatizar as empresas estatais.

Como resultado, os ativos brasileiros se valorizaram, incluindo o real, o que significa menor pressão inflacionária e espaço para manter, por mais tempo, a taxa básica de juros em nível recorde de baixa.

"Isso tira a faca do pescoço do Banco Central", disse Tony Volpon, ex-diretor do BC e atual economista-chefe do UBS Brasil. "A baixa do dólar provavelmente vai ajudar o Banco Central a postergar a alta dos juros."

Sob a condução de Ilan Goldfajn, o BC foi elogiado por controlar a inflação e reduzir a taxa a Selic. Nos últimos meses, Ilan resistiu à forte pressão para apertar a política monetária, em meio a um nervosismo de investidores sobre as eleições no Brasil e uma fuga de mercados emergentes, que trouxe custos mais altos para empréstimos da Argentina à Rússia.

Riscos em queda

Na ata da última reunião do Copom, em setembro, o BC sinalizou que está pronto para apertar a política monetária caso a pressão inflacionária se agrave.

No documento, os diretores argumentaram que, dadas as perspectivas desafiadoras enfrentadas pelos mercados emergentes e a incerteza sobre as futuras políticas econômicas do Brasil, deveriam estar prontos para remover gradualmente os estímulos monetários.

Os riscos de aceleração da inflação, tanto pelas eleições quanto pelas perspectivas adversas para as economias emergentes, agora diminuíram, de acordo com Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.

A eleição de um Congresso amplamente direitista aumentou as chances de Bolsonaro conseguir aprovar políticas que agradem ao mercado. O próprio partido do candidato - o PSL - viu suas cadeiras aumentarem de 8 para 52 deputados federais, tornando-se a segunda maior bancada partidária na Câmara.

"Com os riscos mais baixos vindo de eleições, o BC poderia agora manter a taxa em 6,5% por um período mais longo para se concentrar na economia enfraquecida", disse Rosa, o economista que mais tem acertado prognósticos para a Selic em pesquisas da Bloomberg. "O Banco Central olha para as expectativas de inflação, e com um real mais forte e taxas de juros mais baixas, essas expectativas podem cair e permanecer bem ancoradas."

O Banco Central não quis fazer comentários.

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