Multidão de pessoas na região central do Rio de Janeiro, em 26 de agosto de 2020 (Fabio Teixeira / Agência Anadolu/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 28 de agosto de 2020 às 13h27.
Última atualização em 28 de agosto de 2020 às 13h56.
Em quase todos os estados brasileiros, o número de beneficiários do auxílio emergencial — distribuído pelo governo em meio à pandemia de covid-19 — já supera o de trabalhadores com carteira assinada.
O cenário se inverte apenas em Santa Catarina e no Distrito Federal, como mostra levantamento feito pelo Poder 360, com base em dados de julho disponíveis no Portal da Transparência.
Por região, a carteira assinada se concentra em Sul e Sudeste, enquanto o auxílio, Nordeste e Norte.
Há cerca de 40 milhões de empregos formais no Brasil e de 66 milhões de pessoas recebendo as parcelas de 600 reais. Isso significa que, para cada trabalhador com carteira assinada, há dois que recebem o auxílio.
Essa discrepância se dá em razão da enorme informalidade que existe no país, e que foi o grande desafio da equipe econômica para começar a distribuir os pagamentos.
"Metade da população ocupada no Brasil sempre esteve na informalidade. São cerca de 40 milhões de pessoas", diz Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Agora, segundo o levantamento do Poder 360, as pessoas recebendo o auxílio já correspondem a 68% da força de trabalho, formada por 96 milhões de pessoas, entre empregados e desocupados.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse diversas vezes que milhões de "invisíveis" foram mapeados quando veio a pandemia.
"Carteira assinada, no Brasil, pode ser considerado quase um bem de luxo, reservado a cerca de apenas um terço da população adulta", duz Duque.
Entre as razões desse cenário, está a alta oneração do trabalho formal e um valor relativamente alto do salário mínimo em relação à renda média da população, diz o economista, além da grande desigualdade de produtividade potencial entre os trabalhadores.
O impacto positivo do auxílio emergencial na renda dos mais pobres no Brasil já vinha impressionando especialistas, cujos estudos chegam a apontar alta de 70% na renda de famílias. O próprio IBGE alertou para esse efeito.
Esse resultado, porém, fala mais sobre a pobreza e a desigualdade extremas no Brasil do que sobre o tamanho da ajuda federal.
Sem o auxílio emergencial, informais teriam sido quase 2,5 vezes mais penalizados pela queda da atividade econômica do que os formais, segundo estudo da FGV que compara a renda de vários tipos de trabalhadores antes e depois do início da pandemia.
Com o auxílio, de forma geral, os trabalhadores brasileiros tiveram um ganho de 24% na renda. Para os informais, o aumento chega a 50%.