Posto de combustível: gasolina não foi reajustada pela Petrobras, mas está defasada em relação ao mercado internacional (Sergio Moraes/Reuters)
Carolina Riveira
Publicado em 10 de maio de 2022 às 06h00.
Última atualização em 10 de maio de 2022 às 11h15.
O aumento da Petrobras no preço do óleo diesel em suas refinarias passa a valer a partir desta terça-feira, 10. O reajuste foi anunciado ontem, após dois meses sem que a estatal subisse os valores praticados.
O preço médio de venda do diesel para as distribuidoras da Petrobras subirá em 8,8%, de R$ 4,51 o litro para R$ 4,91 o litro.
Em nota sobre o aumento, a Petrobras mencionou "a elevação dos preços do diesel no mundo inteiro, com a valorização deste combustível muito acima da valorização do petróleo".
Empresas no setor de transportadoras de cargas e caminhoneiros serão as principais afetadas, assim como empresas de transporte coletivo de passageiros. O aumento dos custos de logística também deve impactar indiretamente outros setores da economia e a inflação.
A última alta do diesel nas refinarias da Petrobras havia sido em 11 de março, quando o combustível subiu 25%.
O aumento do diesel da Petrobras vale somente para a venda em suas refinarias, que respondem por 70% do diesel vendido no Brasil. (O um terço restante é ofertado por outras refinarias privadas ou trazido ao país por importadoras a preços de mercado.)
Até que o insumo chegue aos postos, são adicionados outros fatores como preço do biodiesel (que compõe 10% do diesel final no Brasil), tributos, margem de lucro da cadeia e outros custos.
Assim, com os custos de produção hoje elevados em toda a cadeia, o aumento ao consumidor deve ser superior aos R$ 0,40 anunciados pela Petrobras.
O valor do diesel praticado na bomba está em média R$ 6,630/litro, segundo a última pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), na semana até 7 de maio. Foram encontrados postos com diesel acima de R$ 8 o litro.
Na teoria, levaria alguns dias até que o novo diesel vendido mais caro nas refinarias chegasse ao consumidor. Mas os combustíveis têm passado por sucessivas altas em meio à volatilidade dos preços.
No acumulado de 12 meses até meados de abril, o preço final do diesel teve alta de 52% na métrica do IPCA-15 (prévia da inflação oficial), medido pelo IBGE.
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O aumento de hoje também não cobre toda a defasagem do diesel em relação aos preços internacionais. A diferença chegou na abertura de mercado desta terça-feira a 10%, segundo relatório da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).
Antes do aumento, a defasagem estava ontem em 17%. Na semana passada, com a alta volatilidade, chegou a ser de 25%.
Sem um reajuste no mercado interno, corria-se o risco de importadores não conseguirem comprar diesel no mercado internacional a preços competitivos internamente, gerando possibilidade de desabastecimento.
"Isso significa que o equilíbrio de preços com o mercado é condição necessária para o adequado suprimento de toda a demanda, de forma natural, por muitos fornecedores que asseguram o abastecimento adequado", disse a Petrobras em nota.
Desta vez, somente o diesel foi reajustado.
Mas o preço da gasolina também terá de subir em breve para que a Petrobras mantenha a paridade com o mercado internacional. O preço da gasolina praticado nas refinarias no Brasil tinha defasagem de 19% no último relatório da Abicom na segunda-feira.
O último reajuste da Petrobras no preço da gasolina também foi em 11 de março, quando o combustível subiu 19%.
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A alta dos combustíveis e seus impactos na inflação geral têm elevado a pressão na direção da Petrobras e do governo federal contra a PPI, Política de Paridade de Importação. O modelo faz com que os preços praticados pela Petrobras no Brasil acompanhem os do mercado internacional e é usado desde 2016, no então governo Michel Temer (MDB). A PPI foi mantida quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) assumiu o cargo.
Na semana passada, Bolsonaro, que disputará a reeleição em outubro, disse em transmissão em suas redes sociais que um novo aumento no preço da Petrobras iria "quebrar o país" e classificou o lucro da empresa como um "estupro".
A Petrobras teve lucro de R$ 44,6 bilhões no primeiro trimestre, divulgado na quinta-feira, 5. A estatal pagará aos acionistas, incluindo a União, dividendos totalizando R$ 48,5 bilhões (que incluem saldos acumulados do último trimestre).
"A Petrobras não é insensível à sociedade brasileira, principalmente, em momentos atípicos", respondeu o presidente da estatal, José Mauro Coelho, em conferência de resultados com analistas na sexta-feira, horas após a declaração de Bolsonaro.
O executivo afirmou que a estatal vem "acompanhando os preços de mercado, não repassando essa volatilidade de imediato". "Mas, claro, em determinado momento reajustes devem ser feitos para que a gente mantenha a saúde financeira da companhia", disse.
*A reportagem foi atualizada às 11h13 para incluir a defasagem calculada do diesel nesta terça-feira, 10.