Com as pressões das tarifas, a inflação dos serviços deve ficar praticamente estacionada e fechar 2015 em 8% (Marcos Santos/USP Imagens)
Da Redação
Publicado em 5 de junho de 2015 às 08h10.
São Paulo - A disparada das tarifas vem punindo duplamente o bolso do brasileiro este ano. Além de já ter imposto um gasto adicional de quase 50% entre janeiro e maio na conta de luz na cidade de São Paulo, a alta de preços de outros itens importantes como água e combustíveis deve adiar para 2016 a desaceleração da inflação de serviços.
O movimento ocorre apesar da retração no ritmo de atividade econômica e da demanda, que poderia brecar reajustes de preços dos serviços já neste ano.
Um estudo feito pela Tendências Consultoria Integrada mostra o tamanho do estrago que as tarifas devem provocar na inflação de serviços.
Sem o choque de preços administrados, a inflação de serviços - como cabeleireiros, restaurantes, lavanderias e hotéis, por exemplo -, que encerrou o ano passado acumulando alta de 8,3%, recuaria este ano para 7,1%. Com as pressões das tarifas, porém, a inflação dos serviços deve ficar praticamente estacionada e fechar 2015 em 8%, diz a consultoria.
"A expectativa de inflação desancorada e o choque de preços administrados vão retardar a desaceleração da inflação de serviços", diz a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências, que projeta alta menor, de 6,5%, para a inflação de serviços só em 2016.
Segundo ela, com a expectativa de inflação geral medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) na casa de 5,5% para o ano que vem - um ponto porcentual acima do centro da meta -, segundo pesquisa do Boletim Focus do Banco Central, aumentaram os obstáculos para uma desaceleração mais significativa dos preços dos serviços neste ano.
Além do choque dos preços administrados e da inércia inflacionária, Alessandra aponta outro fator que influencia a inflação de serviços: o desempenho do mercado de trabalho.
Na avaliação da economista, os efeitos do aumento da taxa de desemprego para segurar o reajuste dos preços dos serviços deve ser anulado neste ano pelo impacto do choque das tarifas e da inércia inflacionária.
E os reflexos da distensão do mercado de trabalho serão sentidos nos preços dos serviços em 2016.
Já o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, faz uma avaliação sobre a inflação de serviços semelhante à da Tendências, porém com intensidade diferente.
"A desaceleração dos serviços vai ocorrer ainda este ano. Mas a grande perda de fôlego deve acontecer em 2016, quando a inflação desse grupo pode chegar perto de 7%. É mais provável que, no encerramento deste ano, a inflação de serviços fique abaixo da de 2014", prevê Romão. Para 2015, o economista projeta alta de 7,7% da inflação de serviços.
Ele reconhece que houve, nos últimos meses, um aumento relevante de custos de energia e combustível, por exemplo, e que essa alta deve pressionar os preços dos serviços.
"Se eu sou prestador de serviços, vou tentar repassar esse aumento de custo para o preço. Só que há uma força contrária, que é a atividade econômica enfraquecida, que não chancela grandes repasses. É um jogo de forças."
Trabalho
Nesse jogo de forças, um fator crucial, diz Romão, é o desempenho do mercado de trabalho. A expectativa para este ano é de uma queda de 1,2% na renda, descontada a inflação do período.
Será a primeira retração real no rendimento em dez anos. A última vez que a renda caiu em termos reais foi em 2004 e coincidentemente o recuo também foi de 1,2%.
Neste ano, o cenário também não é favorável para o emprego. A LCA projeta que a taxa média de desemprego, que foi 4,8% no ano passado, suba para 6% ou mais em 2015.
A taxa média, segundo Romão, é a medida mais adequada para esse tipo de análise, porque elimina as influências sazonais.
"Entendo que essa perda real de rendimento do trabalhador, combinada com a alta do desemprego, contribua para que os serviços desacelerem ainda em 2015."
Aliás, o desemprego está entre os principais problemas enfrentados pelos brasileiros, segundo uma pesquisa feita pela consultoria Hello Research.
Segundo a enquete, que leva em conta respostas de múltipla escolha e ouviu mil pessoas em 70 cidades do País, 64% dos entrevistados apontaram o desemprego como problema, superado apenas pela inflação e pela qualidade dos serviços de saúde, com 89% das opiniões cada.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.