Posto de gasolina em São Paulo: combustíveis subiram mais de 30% nos últimos 12 meses (Leandro Fonseca/Exame)
Carolina Riveira
Publicado em 5 de maio de 2022 às 17h14.
Última atualização em 5 de maio de 2022 às 18h06.
Embora altos para o consumidor, os preços dos combustíveis praticados pela Petrobras estão defasados e precisariam aumentar novamente para manter a paridade com o mercado internacional, segundo os cálculos da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) nesta quinta-feira, 5.
A defasagem atual é de 17% no caso da gasolina e 25% no óleo diesel, com base nos preços de fechamento do mercado na quarta-feira, 4.
A expectativa das importadoras é de que um novo reajuste que cubra essa diferença possa ser anunciado "a qualquer momento", diz Sergio Araújo, presidente da Abicom.
O último aumento nos combustíveis foi feito pela Petrobras em 11 de março, há 55 dias. Na ocasião, a gasolina aumentou 19%, o diesel, 25%, e o GLP, usado no gás de botijão, subiu 16%.
Há muita atenção cercando a divulgação do balanço da Petrobras nesta quinta-feira, após o fechamento do mercado, além de uma coletiva sobre os resultados marcada para a tarde de sexta-feira, 6. A avaliação é que alguma sinalização sobre um novo reajuste possa ser dada nessa oportunidade.
"Considerando essas defasagens elevadas, o tempo que a Petrobras está sem dar reajuste, e os posicionamentos da nova direção, inclusive do novo presidente, sobre a necessidade de alinhamento dos preços - até para mitigar risco de desabastecimento -, o mercado todo está na expectativa de a qualquer momento a Petrobras anunciar esse aumento", diz Araújo.
Uma nova diretoria da Petrobras tomou posse após a demissão do ex-presidente da estatal, general Joaquim Silva e Luna. O engenheiro José Mauro Coelho foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) à presidência da companhia, e tem dado entrevistas sinalizando que deve manter a política de paridade com o mercado internacional.
Além do balanço, o mercado aguarda que a Petrobras anuncie o pagamento de dividendos de até R$ 10 bilhões, como a EXAME mostrou.
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A alta dos combustíveis e seus impactos na inflação geral têm elevado a pressão na direção da Petrobras e do governo federal contra a PPI, Política de Paridade de Importação. O modelo faz com que os preços praticados pela Petrobras no Brasil acompanhem os do mercado internacional e é usado desde 2016, no então governo Michel Temer (MDB).
Os preços da Petrobras valem para suas refinarias, que representam cerca de 80% dos combustíveis consumidos no Brasil. O restante é importado, a preços de mercado.
"Foi dado o reajuste em 11 de março, mas quase imediatamente os preços da Petrobras já ficaram abaixo, porque houve novos aumentos [no mercado internacional]", diz Araujo, da Abicom, que defende que pode haver desabastecimento, uma vez que as importadoras compram combustível a preço internacional e não conseguem concorrer com a Petrobras.
Além da fatia referente à Petrobras, o preço final dos combustíveis depende também de outros componentes do preço, como tributos federais e estaduais, custos de distribuição e revenda, além do preço do etanol anidro (misturado à gasolina) e do biodiesel (misturado ao diesel).
Os combustíveis seguem sendo os grandes vilões da inflação, impactados pela alta no preço do petróleo com a guerra na Ucrânia e a reabertura da economia após o auge do coronavírus.
O barril de petróleo do tipo Brent, usado como referência pela Petrobras, era negociado na casa dos US$ 110 no fim da tarde desta quinta-feira. O preço superou o patamar dos US$ 100 no início da guerra na Ucrânia e segue alto desde então.
Segundo a última pesquisa de preços da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, de 24 a 30 de abril, os preços dos combustíveis ao consumidor no Brasil foram:
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O preço dos combustíveis também exerce pressão indireta sobre outros produtos, e a inflação brasileira tem chegado aos maiores patamares desde a consolidação do Plano Real.
Em 12 meses, os combustíveis subiram 30% no IPCA, um dos principais índices inflacionários, medido pelo IBGE.
Só na última prévia da inflação (o IPCA-15), calculada entre meados de março e meados de abril, a gasolina subiu 7,51% em um mês. Segundo o IBGE, o insumo foi o que mais impactou individualmente a cesta do IPCA-15 no mês, puxando toda a inflação para cima. Diesel (13,11%) e etanol (6,60%) também tiveram fortes altas.