Economia

Ato "surrealista" estressa mercado e confunde expectativas

Economistas acreditam que decisão do presidente da Câmara dificilmente impedirá impeachment - mas dólar e bolsa vão continuar estressados com o imponderável

Congresso Nacional (Pedro França/Agência Senado)

Congresso Nacional (Pedro França/Agência Senado)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 9 de maio de 2016 às 14h24.

São Paulo - De acordo com economistas, a decisão do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), de anular a votação do impeachment pelos deputados cria turbulência, mas não deve mudar o rumo do processo.

"Deve atrasar um pouco o processo no Senado, mas é difícil imaginar a reversão de toda a decisão. Certamente a incerteza aumenta muito nesse momento", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Maranhão surpreendeu hoje ao acatar o pedido da Advocacia-Geral da União para anulação.

Ele alega que os partidos não poderiam ter fechado posição nem firmado orientação de bancada para o voto e que os deputados não poderiam ter declarado suas posições.

Alexandre Schwartsman, consultor e ex-Diretor de Assuntos Internacionais do BC, diz que a anulação não deve prosperar "mas é um bom sinal do motivo de sermos vistos como um Bananal".

A Bolsa, que já estava caindo no início da segunda-feira, afunda 3%.

O dólar, que voltou para o patamar de R$ 3,50 na sexta-feira, já tinha começado o dia em alta - seguindo tendência de outras moedas emergentes diante da fraqueza do petróleo e das commodities.

Depois da notícia, chegou a bater R$ 3,67 e agora voltou para R$ 3,55 (veja a reação). Na medida em que os detalhes e consequências da decisão ficam mais claros, a montanha russa deve continuar:

"Dizem que no mercado, se você não entender em 3 minutos o que aconteceu, é pra vender. O mercado tomou um susto e voltou. Agora tem que entender o que de fato vai acontecer, porque pode estressar ainda mais - e se de fato se confirmar, anular parte dos ganhos do mercado em 2016", diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. 

Em meados de abril, a Câmara aprovou com folga a abertura do processo. A votação do relatório no Senado estava prevista para esta quarta-feira. Se confirmada, já levaria ao afastamento temporário da presidente.

"Maranhão está ganhando tempo com uma virada surrealista, porque se colocar em votação de novo é bem provável que dê igual o primeiro resultado. Mas não se pode ignorar que há muita ponta solta", diz Perfeito.

A oposição diz que tomará duas medidas: um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) e um recurso ao plenário da Câmara.

O mercado já estava precificando o otimismo com Henrique Meirelles na Fazenda em um governo Temer.

O cenário-base é que ele aprovaria pelo menos algumas medidas para conter o crescimento da dívida pública, apesar de ninguém saber ainda o tamanho e comportamento da sua base de apoio.

"Mas a essa altura, imaginar que a presidente possa permanecer é pedir para a economia afundar mais rapidamente. É uma pena que esse tipo de coisa esteja acontecendo, pois apenas piora ainda mais a economia", diz Vale.

No Boletim Focus divulgado no início desta segunda-feira, a previsão de alta do PIB para 2017 subiu em 0,10 ponto percentual para 0,5%.

"Se colocar junto o [pedido de impeachment de] Temer, aí sabe-se lá Deus o que de fato pode acontecer. Também tem muito jogo de bastidores aí. Ainda há muitas dúvidas, e quem falar que sabe o que está acontecendo ou está mentindo ou está mal informado", diz Perfeito.

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