MONTADORA: taxa de desemprego deve continuar subindo / Germano Lüders (Germano Lüders/Exame)
Letícia Toledo
Publicado em 10 de junho de 2016 às 13h21.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h48.
De todas as montanhas que Michel Temer tem a escalar em seus 963 dias de mandato (caso sua permanência seja ratificada pelo Senado) o desemprego é certamente a que exige mais resistência. PIB, juros, inflação, produção industrial, crise fiscal, penúria dos estados, previdência – todos esses problemas podem começar a ser revertidos com uma canetada e um punhado de racionalidade. Reduzir o desemprego, por sua vez, exige tempo. E é justamente o que Temer não tem.
Segundo economistas consultados por EXAME Hoje, a expectativa é de que a taxa de desemprego continue crescendo, pelo menos, até meados de 2018. A consultoria LCA prevê que a taxa média de desemprego em 2017 seja de 12,9% e chegue a 13% em 2018. “A taxa de desemprego é um dos últimos indicadores a refletir uma crise e costuma ser um dos últimos a apresentar sinais de melhora”, diz o economista Rafael Bacciotti, da consultoria Tendências.
A consultoria estima que taxa de desemprego deve atingir 12% da população no próximo ano, antes de iniciar uma queda. O ex-presidente do banco centra americano, Ben Bernanke, dizia que era necessário crescer 2,5% apenas para manter a taxa de desemprego. Segundo o último boletim Focus, do Banco Central, a economia brasileira deve crescer 0,85% em 2017.
Por enquanto, as demissões ainda são regra no mercado de trabalho. Entre fevereiro e abril deste ano o número de desempregados aumentou 42% na comparação anual. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua divulgada na semana passada, a taxa chegou a 11,2% da população economicamente ativa do país no trimestre encerrado em abril – atingindo 11,4 milhões de pessoas. Foi o pior resultado da série, iniciada em 2012. Em abril o Brasil perdeu 62.844 postos de trabalho. Os setores que registraram maior queda foram comércio, construção civil e indústria.
O destravamento das concessões de aeroportos, ferrovias, rodovias e portos – previsto pelo governo Temer – pode estimular a recontratação no setor de construção já em 2017. No melhor cenário, calculado pelo economista Sérgio Vale, da MB Associados, um azeitado programa de concessões pode gerar um efeito que cascata que crie até 3 milhões de empregos até 2018.
O problema, para Temer, é que desemprego e anemia econômica estão diretamente relacionados. Sem emprego, as pessoas não têm dinheiro nem confiança para trocar de carro, comprar um vestido, tomar uma garrafa de vinho num restaurante. Enquanto o desemprego não começar a cair, portanto, a economia não tem como dar grandes saltos. Até 2018, portanto, a taxa servirá de âncora para uma (possível) arrancada do país.
Há uma boa notícia para profissionais que ocupam cargos gerenciais. Para eles, dizem especialistas em recrutamento, as contratações já estão acontecendo. Cresce sobretudo a procura por profissionais para cargos executivos com o perfil voltado para a expansão das empresas que vislumbram um crescimento nos próximos anos, após uma forte demanda por executivos com o perfil mais financeiro, de controle de gastos. “Aumentou a demanda por diretores financeiros, por exemplo, com um perfil mais inovador”, diz Ana Luiza Loureiro, da consultoria Plongê.
Só isso não basta para fazer o país retornar para a taxa de 6,5% de desemprego que tinha no fim de 2014. Mas pelo menos uma parcela dos brasileiros pode se dar bem já este ano.
(Letícia Toledo)