Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 14 de abril de 2024 às 10h53.
Última atualização em 14 de abril de 2024 às 12h08.
O ataque do Irã com mais de 300 mísseis e drones ao território de Israel e o aumento da tensão no Oriente Médio pode pressionar o preço do barril petróleo no mercado internacional e impactar os valores dos combustíveis no Brasil, como óleo diesel e gasolina. A avaliação é de especialistas ouvidos pela EXAME.
O petróleo subiu 1% na última sexta-feira e se aproximou de uma máxima em seis meses com a iminência de uma resposta do Irã ao ataque de Israel à embaixada do Irã em Damasco. No ano, o preço da commodity já subiu 17%, passando de US$ 77 para os atuais US$ 90, segundo dados da Bloomberg. O Irã é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com mais de 4,3 milhões de barris de óleo extraídos por dia.
Com o ataque de sábado, a previsão é que os valores dos barris subam na próxima semana. Segundo o economista e consultor André Perfeito, no curto prazo, o petróleo deve subir fortemente essa semana, com a valorização de commodities. Perfeito afirma que o conflito aumenta a defasagem dos combustíveis no Brasil em relação ao preço internacional e pressiona a Petrobras para realizar reajustes.
"É possível que o ataque tenha algum impacto nos preços, uma vez que não é só o barril que sobe, mas o dólar também", diz Perfeito. O economista acrescenta que é necessário entender os próximos movimentos de Israel e do Irã para entender qual será o impacto real desse conflito na economia. O G7, o Conselho de Segurança da ONU e o Gabinete de Guerra de Israel realizam reuniões neste domingo para discutir o conflito.
Na mesma linha, Sérgio Araujo, presidente-executivo da Abicom, associação que reúne os importadores de combustíveis, avalia que existe uma forte tendência do aumento do preço do petróleo e dos derivados.
"A região [Oriente Médio] é muito crítica na produção e transporte de petróleo. Um conflito dessa natureza eleva muito o risco de movimentações de navios, por exemplo", diz Araújo.
O presidente da Abicom afirma ainda que o Brasil está praticando preços abaixo do mercado internacional, e que a escalada do conflito deve pressionar a Petrobras para aumentar os seus preços.
"Hoje, os preços no mercado interno estão muito defasados em relação ao mercado internacional. Com o aumento do preço do petróleo no mercado internacional, a tendência é que a defasagem aumente e a Petrobras seja pressionada a aumentar os seus preços em um momento político muito delicado", conclui.
Segundo dados da Abicom, na sexta-feira, os preços cobrados pela estatal pela gasolina estavam 19%, cerca de R$ 0,66 por litro, menores em relação ao praticado no exterior. No caso do óleo diesel, a diferença nos preços está em 10%, em R$ 0,41 por litro. A Petrobras ainda não realizou nenhum aumento nos combustíveis em 2024.
O professor de economia do Insper, Roberto Dumas, afirmou que o contexto de outros conflitos, como a guerra entre Rússia e Ucránia, o conflito Israel e Hamas na Faixa de Gaza, os ataques dos rebeldes Huthis no Mar Vermelho e a tensão na Venezuela em ano eleitoral, já são fatores de stress para os preços do petróleo. Esse novo conflito piora o cenário.
"Precisamos ver como a Petrobras vai se comportar. Vai repassar o preço ao consumidor ou vai assumir a perda? A Petrobras é uma empresa e precisa maximar o lucro", explicou.
André Perfeito afirmou ainda que a alta do petróleo deve impactar a decisão de juros americano, que não cortaria os juros como esperado pelo mercado, o que deve impor um dólar mais forte em comparação com as demais moedas do mundo.
O economista afirma que a valorização no curto prazo da moeda norte-americana e a manutenção dos juros nos EUA, pode fazer o Banco Central brasileiro perder “perde graus de liberdade para cortar a Selic”. Por outro lado, ela avalia que empresas ligadas a commodities “podem se beneficiar”.
“Isto é que podemos pensar num primeiro momento e temos que avaliar o conjunto dos desdobramentos ao longo da semana”, alertou Perfeito.
Dumas, da Insper, vê que esse possível aumento pode pressionar a inflação americana, que já veio acima do esperado pelo mercado no último mês, e pode prejudicar a economia global.
"A queda de juros dos Estados Unidos que esperada para junho já foi adiada para setembro. E existem analistas que estão prevendo que não terá nenhum queda de juros nos Estados Unidos, o que vai resultar em um crescimento mundial menor e isso deve bater no Brasil", disse o economista da Insper.
Do lado do "benéficio", Perfeito diz ainda que o Brasil, como um exportador líquido de petróleo, não deve encarar um cenário tão destrutivo no médio prazo, uma vez que as commodities tendem a se apreciar em tempos de guerra.
“O Brasil está simplesmente longe demais deste conflito, tanto geograficamente quanto politicamente”, acrescentou Perfeito. “O Brasil pode se beneficiar no médio prazo e digo isso para evitar uma posição vendida acima do desejado em ativos locais.”