Economia

As antilições do rock para os negócios

Como o Rock Pode Ajudar Você a Empreender Daniel Fernandes e Marco Bezzi. Editora Benvirá. 136 págs. Jardel Sebba Um dos modismos mais duradouros do setor editorial dedicado aos negócios são os livros que ensinam como o mundo ao seu redor pode ensiná-lo a empreender. O mundo, neste caso, geralmente se refere a artistas, esportistas […]

Os Beatles: diversão e revolução

Os Beatles: diversão e revolução

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Da Redação

Publicado em 5 de novembro de 2016 às 07h40.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h44.

Como o Rock Pode Ajudar Você a Empreender
Daniel Fernandes e Marco Bezzi.
Editora Benvirá. 136 págs.

Jardel Sebba

Um dos modismos mais duradouros do setor editorial dedicado aos negócios são os livros que ensinam como o mundo ao seu redor pode ensiná-lo a empreender. O mundo, neste caso, geralmente se refere a artistas, esportistas e celebridades de cujas respectivas vivências os autores tentam extrair lições para quem quer encarar os desafios do universo empresarial. A ideia acabou transformando-se num clichê, repetido com muita frequência e nem sempre com muito critério, mas ainda assim alguns de seus títulos ainda insistem em frequentar as listas de mais vendidos, o que sugere uma investigação mais apurada a respeito.

Há dois anos, os jornalistas Daniel Fernandes e Marco Bezzi resolveram juntar experiências em áreas distintas e criar um novo manual para o jovem empreendedor. Fernandes formou-se nas editorias de economia, enquanto Bezzi militou nas últimas duas décadas no jornalismo musical. Da união entre eles nasceu, no fim do primeiro semestre deste ano, Como o Rock Pode Ajudar Você a Empreender (Editora Benvirá), cujo subtítulo indica: “De David Bowie à Legião Urbana, ideias inovadoras de bandas consagradas para você abrir o seu negócio”. Ao longo de nove capítulos, os autores reúnem artistas de universos distintos da música popular e listam as experiências que viveram e como cada um deles pode ajudá-lo a ser um empresário melhor. Fizemos uma leitura crítica e separamos o que realmente pode ser útil da experiência dos artistas selecionados – e o que os autores não contaram sobre eles.

Artista: Bruce Springsteen

Principal lição: Trate cada pessoa do seu público como se o seu negócio dependesse dele – e ele depende. O músico americano sempre teve um carinho especial pelo público e esteve sempre cercado de músicos que tocam com ele há décadas. Além de música de excelente qualidade, Springsteen oferece carinho e cumplicidade a quem está à sua volta, no palco ou na plateia.

O que eles não contaram: Springsteen é a antítese da inovação. Quando ele e sua banda tocam o clássico Born to Run, por exemplo, nem uma mísera nota do solo de saxofone é diferente do que foi gravado 41 anos atrás. Quem já foi em alguns de seus shows sabe que até a hora em que ele cai no chão é rigorosamente igual. O impacto continua sendo enorme, principalmente porque Born to Run é uma das melhores canções já escritas na história da música popular, só para ficar no mesmo exemplo. Mas Springsteen fala com quem compra e ouve discos, e essas pessoas, ainda que saudáveis, longevas, cada dia mais bem conservadas, têm pelo menos quarenta anos de idade.

Artista: The Beatles

Principal lição: Você pode ser um ótimo compositor, guitarrista ou letrista, mas isso não faz de você um bom administrador. Quando a maior banda do mundo fundou sua empresa, a Apple Corps., em 1968, a sucessão de erros foi fundamental para o fim do grupo, dois anos depois. Um dos amigos malucos da banda só tomava decisões pelo I Ching. “Estabelecemos uma consciência nos negócios da Apple”, disse Paul McCartney durante uma coletiva de imprensa.

O que eles não contaram: A grande lição empresarial que os Beatles deixaram não precisaria de um capítulo, mas resume-se em uma frase: não use drogas durante o expediente. Parece piada, mas não é.

Artista: Legião Urbana

Principal lição: Aprenda a mudar e se adaptar aos novos tempos. Se a banda era inconsequente, passou por altos e baixos e perdeu seu frontman em 1996, não relute em mudar, adapte-se aos novos tempos e siga em frente com o seu legado.

O que eles não contaram: O maior aprendizado que a Legião Urbana deixa para os negócios e para a vida é que nada traz o passado de volta. Um segundo aprendizado importante é que, por pior que esteja a sua situação, nunca, em tempo algum, você deve convidar o Wagner Moura para cantar.

Artista: Guns’N’Roses

Principal lição: Quando os sócios de um negócio são pessoas muito diferentes, ou têm dificuldade para se manter na mesma sintonia, como foi o caso da banda americana, é importante estabelecer regras. Listar as competências de cada um, adotar princípios da governança corporativa e criar maneiras de proteger seu negócio.

O que eles não contaram: Simples: se você tem um sócio que tem uma metralhadora Uzi em casa e que na hora de fechar um negócio em Paris você liga e ele está na Antuérpia, caia fora rápido porque seu negócio tem chance zero de prosperar.

Artista: Kiss

Principal lição: A banda americana é mais famosa pelos empreendimentos do que pela música propriamente dita. A visão comercial de Gene Simmons sempre foi um case de marketing musical. Qualquer produto que você imaginar com a marca da banda já existe. Ou seja, a grande lição do Kiss é: diversifique.

O que eles não contaram: Dinheiro é importante, mas ser feliz também. O Kiss fez com que o negócio da banda seja fazer negócio. O momento mais mágico do cruzeiro marítimo que a banda promove todo ano (e cobra caro por ele) é o show à parte, com ingresso à parte, no qual eles tocam um disco clássico na íntegra. A ambição sem limites desvirtua. Se você é musico e trata seu público como mero consumidor, esquece que ele não sai de casa porque precisa comprar uma camiseta, mas porque ama a música.

Artista: Eric Clapton

Principal lição: Tido como Deus da guitarra, o musico inglês foi mandado embora de sua primeira banda. Arriscou-se com músicos muito diferentes dele. Passou por vícios em heroína e álcool, perdeu um filho de forma trágica, e sempre conseguir renascer das adversidades. Recomeçar e reinventar-se são as lições que a carreira de Clapton ensina a futuros empreendedores.

O que eles não contaram: Clapton não tem discos ruins: tem décadas inteiras simplesmente intragáveis. Por mais que tenha conseguido manter o público e o respeito como músico, Clapton tornou-se Clapton pela sua produção na primeira década como artista. Ou seja, sua última gravação realmente relevante foi lançada com a Guerra do Vietnâ ainda em curso.

Artista: Dead Fish

Principal lição: Que ter amigos jornalistas é importante para conseguir participar de livros… Não, brincadeira. Pode ser que você nunca tenha ouvido falar da banda de hardcore capixaba Dead Fish, e isso é perfeitamente normal. Mas eles são um bom exemplo de modelo de negócios. Quando eram pequenos, assinaram com uma gravadora e passaram a viver um esquema mainstream, no qual não se adaptaram. Ao voltar para a independência, conseguiram aplicar o melhor dos dois mundos. Em resumo: é preciso saber crescer.

O que eles não contaram: A história do Dead Fish não faz o menor sentido para quem nasceu depois da segunda metade dos anos 90, quando não existia mais o dilema de estar ou não em grandes gravadoras, porque elas simplesmente não tinham mais relevância. Ou seja, é uma bela história com uma bela lição de moral, mas ao estilo das parábolas de princesas, castelos e espadas, pertence a um mundo que não existe mais.

Artista: David Bowie

Principal lição: Esse é mais um que realmente tinha muito a ensinar. Foi pioneiro nos estilos musicais que pesquisou, correu riscos, foi o primeiro artista a abrir um canal de comunicação direto com os fãs na internet, nos anos 1990. Seus ensinamentos sugerem que você não perca a capacidade de se reinventar sempre que necessário, como ele fez, e que cuide sempre dos seus planejamentos e estratégias, como Bowie fazia.

O que eles não contaram: É fácil ser um estrategista quando você tem o melhor produto nas mãos. E Bowie tinha, por exemplo, em 1972 o melhor produto do mercado naquele ano, seu disco Ziggy Stardust. Se você tiver um produto tão superior que inclua a performance de David Bowie, as guitarras de Mick Ronson e letras como a de Five Years, vá em frente e siga as dicas. Se não, como é mais provável, pense na estratégia com mais cuidado. Ele é um raro caso no qual todo o planejamento deu certo principalmente porque, como músico, ele era um gênio. Ficava fácil.

Artista: Capital Inicial

Principal lição: Aprenda com o erro e saiba usar os desvios do caminho a seu favor. A banda de Brasília começou a perder o rumo já no primeiro contrato,  e passou os anos 80 numa espiral vertiginosa de drogas, sucesso e confusão. Quando decidiu voltar, no fim dos anos 90, colocou o profissionalismo acima de tudo e fez um sucesso sem precedentes até ali.

O que eles não contaram: Quando a banda vivia no fio da navalha, fez alguns bons discos. Quando voltou com seu plano de negócios embaixo do braço, parecia um bando de burocratas vestidos de adolescentes. O modelo, é importante que se diga, deu certo, e a banda nunca foi tão bem-sucedida financeiramente. Mas, se o seu negócio é criativo, isso nem sempre vai fazer você entrar para a história pelas portas certas.

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