Caminhão na rodovia Fernão Dias, adminsitrada pela Arteris: fracasso do Brasil em atrair ofertas mostra que as empresas estão hesitantes em relação a projetos (Claudio Rossi/EXAME)
Da Redação
Publicado em 21 de outubro de 2013 às 15h38.
São Paulo/Rio de Janeiro - O CEO da Arteris SA, David Diaz, disse que os planos de leilões de rodovias do Brasil, parte do esforço de US$ 98 bilhões da presidente Dilma Rousseff para impulsionar o crescimento, são falhos porque as estimativas de tráfego são muito altas e as projeções de custo, baixas.
O fracasso do Brasil em atrair ofertas para a rodovia BR-262 mostra que as empresas estão hesitantes em relação a projetos potencialmente não-lucrativos, disse Diaz, que tornou-se CEO depois que a terceira maior concessionária de rodovias do país foi comprada no ano passado pela Brookfield Infrastructure Partners LP e pela Abertis Infraestructura SA. O governo pode ter que oferecer termos mais atrativos, disse ele.
“Para a BR-262, nós temos uma visão diferente sobre os custos do investimento e uma visão diferente do tráfego”, disse Diaz em uma entrevista em 17 de outubro no escritório da Bloomberg em São Paulo. “Nós queremos investimentos simples, sem uma porção de complexidades, em áreas onde já estamos operando, com um baixo nível de investimento e uma alta quantidade de tráfego”.
A BR-262 tornou-se símbolo do desafio do Brasil para encontrar operadores para investir R$ 46 bilhões (US$ 21,2 bilhões) nas concessões de rodovia. O governo teve que apresentar um retorno de 7,2 por cento para atrair ofertantes após a falta de interesse, em janeiro, em relação a uma oferta de 5,5 por cento. O único leilão bem-sucedido, o da rodovia BR-050, foi vencido no mês passado pelo Consórcio Planalto, um grupo de nove empresas de pequeno e médio porte.
Olimpíadas de 2016
As rodovias são a primeira parte do programa de infraestrutura de R$ 212 bilhões do Brasil, compreendendo estradas de ferro e portos que irão a leilão para eliminar os gargalos culpados de impedir o crescimento econômico.
Embora o governo tenha buscado deixar o trabalho encaminhado antes da Copa do Mundo, no ano que vem, e dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, a equipe de inspeção do Comitê Olímpico Internacional disse, após uma visita ao Rio, em agosto, estar preocupada de que possam ocorrer atrasos para deixar a cidade pronta. A Arteris opera nove concessões de rodovias no Brasil e quer “investir, investir, investir”, disse Diaz. A receita da empresa subiu 15 por cento no ano passado e 23 por cento em 2011.
Menos agressivo
“Se as administradoras de rodovias não virem o nível de retorno que buscam, não serão muito agressivas em suas propostas e os leilões não funcionarão, como aconteceu com a BR-262”, disse Felipe Silveira, analista da corretora Coinvalores. Os esforços da Arteris para reduzir o risco fazem sentido porque “seus acionistas controladores mudaram recentemente e eles estão tentando entender melhor os projetos de infraestrutura no Brasil”.
Quatro concessões de rodovia, de um total de nove, serão leiloadas até o final do ano. Isso ocorre após o número de novos veículos mais que dobrar de 2009 a 2012, para uma média anual de 3,5 milhões, segundo Luciano Coutinho, presidente do BNDES. A produção de veículos subirá para 5,7 milhões em 2017, contra uma estimativa de 4,3 milhões para este ano, prevê a Anfavea, a associação das montadoras.
“Existem enormes necessidades e a questão é quanto capital privado irá para essas necessidades, não a falta de capital privado”, disse Gabriel Goldschmidt, gerente sênior de infraestrutura e recursos naturais para a América Latina e o Caribe da International Finance Corp., em entrevista por telefone. “Não é que não haja interesse”.
“O financiamento do BNDES é muito atrativo”, disse Diaz, da Arteris. “É difícil os bancos privados oferecerem termos melhores”.
A taxa de retorno do governo e os estudos de tráfego são apenas dois componentes dos projetos das rodovias, escreveu a assessoria de imprensa do chefe da equipe de Dilma Rousseff em um comunicado por e-mail.
“A lucratividade é tudo. O governo estabelece um teto de preço, então nós fazemos nossos estudos e com esse teto de preço nós vemos se ele dá a lucratividade esperada”, disse Diaz. “O governo tem uma visão do PIB, do tráfego, dos custos, e nós temos outra”.