Economia

Argentinos aprendem cedo a se preocupar com câmbio e amar o dólar

Falta de confiança no peso praticamente se tornou parte do DNA nacional depois de décadas de crises cíclicas e um peso enfraquecido gerando inflação

Dólar e Peso: peso perdeu cerca de 37% de seu valor perante o dólar neste ano (EAQ/Getty Images)

Dólar e Peso: peso perdeu cerca de 37% de seu valor perante o dólar neste ano (EAQ/Getty Images)

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Reuters

Publicado em 2 de dezembro de 2019 às 12h02.

Última atualização em 2 de dezembro de 2019 às 12h17.

Buenos Aires — Nicolás Videla, como milhões de argentinos, compra dólares sempre que consegue juntar alguns pesos e acompanha atentamente a volátil taxa de câmbio do país, a inflação galopante e as perspectivas políticas incertas.

Videla tem 12 anos de idade.

Os temores do aluno do ensino fundamental a respeito do peso são reveladores em um país no qual gerações viram suas poupanças destruídas por desvalorizações brutais e preços em elevação que as forçaram a se refugiar na moeda norte-americana.

A aversão ao peso está no cerne do desafio a ser enfrentado pelo próximo governo da Argentina, que pretende conter a inflação que vem devastando o poder de compra e elevando o custo de sua dívida externa.

"Conversamos sobre o dólar na escola. Sempre pergunto como ele está. Quando meus amigos me contam que aumentou em relação ao peso eles se queixam, porque os preços sobem quando isso acontece", disse Videla sentado ao lado de sua corretora de câmbio favorita: sua mãe.

"Quando ele tem pesos me pede para comprar dólares. Quando conversamos sobre finanças, ele nunca me pergunta quantos pesos tem. Ele quer saber em dólares", contou sua mãe, Sol Videla.

A falta de confiança de muitos argentinos em sua moeda é compreensível. O peso perdeu cerca de 37% de seu valor perante o dólar neste ano, e em 2018 despencou ainda mais rápido. Um dólar vale 60 pesos — no final de 2015, quando o presidente em fim de mandato Mauricio Macri tomou posse, eram cerca de 10 pesos por dólar.

Seu sucessor de esquerda, Alberto Fernández, assumirá o cargo em 10 de dezembro com uma inflação anual acima dos 50% e conversas tensas com credores e o Fundo Monetário Internacional (FMI) no horizonte a respeito da dívida soberana de mais de 100 bilhões de dólares.

Fernández disse que adotará um "pacto social" para fechar acordos com empresários, empregados, consumidores e prestadoras de serviço para ajudar a controlar os preços.

Não será fácil. A falta de confiança na moeda praticamente se tornou parte do DNA nacional depois de décadas de crises cíclicas e um peso enfraquecido gerando inflação.

"Os argentinos simplesmente não confiam em sua moeda. Eles se queimaram vezes demais", disse Alberto Bernal, estrategista-chefe de mercados emergentes da XP Investimentos de Nova York.

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