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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h24.
Em duas semanas, a indústria nacional de vinho e os argentinos vão novamente se reunir. É quando termina o prazo para que o país vizinho aceite os limites às importações da bebida sugeridas pelo governo brasileiro.
"Tivemos um encontro no mês passado, inclusive com a presença de representantes de quatro ministérios. Não queremos prejudicar os produtores argentinos. Nosso objetivo é criar um ambiente comercial que seja igualitário e justo para todos", diz Hermes Zaneti, presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Viticultura, entidade que reúne produtores e comerciantes de vinho no país.
O alarido dos produtores brasileiros se fundamenta em um punhado de números. Em 1996, o Brasil importou 600 mil litros de vinho da Argentina. Em 2003, esse número já era de 5,8 milhões. Tudo indica que 2005 deva fechar com uma importação de 21 milhões de litros argentinos. "Isso não é importação. Isso é claramente uma invasão predatória", diz Zaneti.
Vinho barato
O motivo da presença de tanto vinho argentino nas prateleiras do país está no preço. Mesmo tendo uma qualidade similar, o produto brasileiro não entra no carrinho de compras por ser mais caro. Parte da culpa é dos supermercados, segundo o presidente da Câmara Setorial. "Eles impõem uma série de encargos ao vinho nacional, que chega a 50% do valor da bebida", diz.
Além disso, os produtores do país vizinho recebem uma série de incentivos do governo argentino, como empréstimos com juros de 3% ao ano. "É o que pagamos por mês", afirma Zaneti.
O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Carlos Oliveira, diz que a entidade é contra qualquer tipo de protecionismo. "A decisão de compra é do consumidor. Nosso papel é atender à demanda, com variedade de preços e produtos de qualidade", diz Oliveira. Ele está ciente de que os vinhos argentinos são beneficiados com incentivos do governo. "Sabemos disso e fazemos coro com os produtores nacionais para que as regras sejam as mesmas para todos. Mas essa é uma questão para o governo, e não para o comércio", completa.
Propostas à mesa
Algumas sugestões de mudança foram feitas ao país vizinho. Uma delas é impor um limite máximo para a importação de vinhos argentinos de 6 milhões de litros ao ano. As caixas com 12 garrafas acima de 40 dólares estariam isentas da cota. Já as caixas a menos de 15 dólares estariam totalmente vetadas das prateleiras nacionais.
"Queremos os argentinos como parceiros, pois temos espaço para crescermos juntos no Brasil", diz Zaneti. Segundo ele, o consumo de vinho no país é de 320 milhões de litros por ano muito abaixo da cachaça, que é de 1,3 bilhão de litros e da cerveja, de 8 bilhões de litros.