Cristina: o Mercosul e a Celac já manifestaram seu respaldo ao seu governo (Agustin Marcarian/Reuters)
Da Redação
Publicado em 24 de junho de 2014 às 19h38.
Buenos Aires - Em uma corrida contra o relógio para evitar a moratória, o governo da Argentina espera que a Justiça dos Estados Unidos dê o próximo passo no litígio com os fundos especulativos, enquanto nesta terça-feira recebeu novos apoios internacionais para reforçar sua posição nas negociações.
O juiz nova-iorquino Thomas Griesa, responsável pela decisão que obriga à Argentina a pagar US$ 1,3 bilhão, mais juros, aos chamados "fundos abutre", tem agora a palavra após o pedido do Executivo argentino para que estabeleça medidas que lhe permitam pagar os credores reestruturados e seguir negociando.
Por enquanto, os fundos querelantes, que não aceitaram as trocas de dívida propostas pelas autoridades argentinas em 2005 e 2010, rejeitaram hoje a solicitação do governo de Cristina Kirchner, mas reiteraram sua vontade de dialogar se a Argentina demonstrar que está disposta a negociar de boa fé.
"Se a Argentina realmente for séria em sua intenção de negociar uma saída não há nenhum motivo para que as negociações não possam terminar antes de 30 de junho", disse hoje à Agência Efe Stephen Spruiell, porta-voz do fundo Elliott Management, um dos querelantes.
Com o objetivo de reforçar a postura argentina no conflito, o ministro da Economia, Axel Kicillof, se apresentará nesta quarta-feira em Nova York, na sede da Organização das Nações Unidas.
Convidado pelo Grupo dos 77 e a China, Kicillof exporá perante os representantes desse conjunto de países o problema da dívida externa na Argentina e as ações que o país levará adiante para pagar todos os credores.
Na busca da negociação com os fundos especulativos, o governo argentino reiterou hoje sua vontade de fazer frente a suas dívidas com a publicação, em vários jornais europeus, da carta divulgada no sábado passado pelo jornal americano "The Wall Street Journal", confirmaram à Efe fontes oficiais.
No texto, intitulado "A Argentina quer seguir pagando suas dívidas, mas não permitem", se explica a postura do Executivo contra a decisão do juiz Griesa que deixa o país à beira de uma moratória.
Em entrevista coletiva, o chefe de gabinete argentino, Jorge Capitanich, afirmou que o governo "vai esperar a resposta concreta de Griesa a respeito da notificação formal entregue ontem" antes de realizar qualquer nova abordagem ou avaliação.
Capitanich se recusou a avaliar a designação de um mediador - o advogado Daniel Pollack - para avançar nas negociações com os credores que processaram à Argentina pelo pagamento integral da dívida estatal, em moratória desde a crise econômica de 2001.
O Estado argentino tenta escapar da moratória que provocaria a aplicação das ordens "pari passu (em igualdade de condições)" incluídas na sentença de Griesa, pelas quais a Argentina deve saldar contas com os "fundos abutre" antes de poder pagar seus demais compromissos.
Os pagamentos estipulados com 92% dos credores que aceitaram - com consideráveis remissões - as trocas de dívida propostas pelo Estado argentino em 2005 e 2010 devem ser efetuados em 30 de junho.
Antes de cair em moratória, a Argentina terá um período de carência de 30 dias a contar a partir da data de vencimento.
Organizações internacionais como o Mercosul e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) já manifestaram seu respaldo ao governo de Cristina Kirchner.
Em comunicado, a União de Nações Sul-americanas (Unasul) também expressou hoje seu "pleno respaldo" à Argentina e sua rejeição "ao comportamento de agentes especulativos que põem em risco os acordos alcançados entre devedores e credores, afetando a estabilidade financeira global".