Economia

Área de soja deve cair pela 1º vez em 9 anos, diz entidade

A área plantada com soja deve ser reduzida em 300 mil hectares em 2015/16, disse a consultoria Agroconsult, e a queda pode ser ainda maior


	Agricultura: atual cenário de custos elevados e de escassez de crédito para o setor agrícola pesam, diz consultoria
 (Arquivo/Agência Brasil)

Agricultura: atual cenário de custos elevados e de escassez de crédito para o setor agrícola pesam, diz consultoria (Arquivo/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 25 de março de 2015 às 19h27.

São Paulo - A área plantada com soja no Brasil deve ser reduzida em 300 mil hectares em 2015/16, ante o recorde de 31,5 milhões de hectares de 2014/15, disse nesta quarta-feira a consultoria Agroconsult, e a queda pode ser ainda maior devido o atual cenário de custos elevados e de escassez de crédito para o setor agrícola.

A redução da área plantada, se confirmada, seria a primeira em nove anos no país que se tornou o maior exportador global da oleaginosa e o segundo maior produtor mundial, atrás apenas dos Estados Unidos.

A Agroconsult estima que, no atual contexto de cortes de gastos do governo federal e maior aversão ao risco por parte dos bancos privados, poderia haver um déficit de 10,7 bilhões de reais entre o volume de crédito disponível (84,1 bilhões de reais) e o necessário (94,8 bilhões de reais) para custear o plantio de soja, milho, algodão e trigo em 2015/16.

A escassez de recursos é um dos principais fatores que pode levar a uma redução ainda maior na área semeada com soja na próxima temporada.

O plantio de 2015/16 começa apenas em meados de setembro e outubro desde ano, mas muitas compras de insumos são realizadas já na metade do primeiro semestre.

Produtores e revendas de insumos têm reclamado de dificuldades para obter recursos no Banco do Brasil, principalmente no Centro-Oeste, para negociar fertilizantes e defensivos para a nova temporada.

“A conta não está fechando... pode ser uma redução (de área) maior”, disse o diretor da Agroconsult, André Pessôa, em evento em São Paulo. “Uma das consequências da incerteza, associada à questão de crédito, é que tem muitos produtores em dúvida sobre o que fazer.”

Os recursos necessários para o plantio das quatro culturas atingiu 83,5 bilhões de reais na safra 2014/15, sendo que 71 por cento deste volume foi financiado de alguma forma. Apenas 29 por cento veio de capital próprio, segundo a consultoria.

A Agroconsult trabalha com um cenário de queda de 20 por cento na oferta de crédito para a safra 2015/16, praticamente compensado pelo lucro embolsado pelos produtores em 2014/15. 

O aumento das despesas na nova temporada, mesmo com o plantio de uma área menor de soja, se explica pela elevação nos custos com insumos, muitos deles importados, cujos preços estão sendo fortemente afetados pela alta do dólar. 

No norte de Mato Grosso, por exemplo, o custo de produção de um hectare deverá saltar 13 por cento em relação à safra anterior, para 2.187 reais.

NEGÓCIOS TRAVADOS

O Banco do Brasil, principal financiador do agronegócio brasileiro e operador de linhas de crédito subsidiado pelo governo, indicou nesta quarta-feira que está sendo cuidadoso na concessão de crédito para a próxima safra.

Uma das consequências do crédito apertado neste momento, tanto por parte dos bancos públicos como privados, é a baixa comercialização de insumos.

“Essa situação é clara no cerrado (Centro-Oeste) e um pouco suavizada no Sul... Ainda tem muita decisão para o agricultor (do cerrado) tomar e o momento de incerteza pressiona toda a cadeia”, disse Mauro Alberton, diretor de estratégia de marketing de culturas e portfolio da Bayer, uma das principais empresas de agroquímicos no Brasil.

No Centro-Oeste as propriedades estão mais distantes dos centros de distribuição e normalmente são maiores, demandando grandes carregamentos de insumos. Por isso, dizem os especialistas, há uma necessidade maior de fechamento antecipado, no máximo até abril ou maio, dos negócios para o plantio da nova safra.

“Em função das incertezas e da escassez de crédito, é muito provável que uma boa parte dos produtores perca essa janela... Dá para resolver o problema, mas vai ficar muito mais complicado para a indústria, para o canal de distribuição e, para os produtores, pode significar custos mais altos”, destacou Pessôa.

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