Economia

Apressar trem-bala para Olimpíadas gera riscos inadmissíveis

Engenheiro especialista em transportes diz que obra não é prioridade e que os ganhos seriam menores do que os potenciais problemas gerados pela correria

Especialista diz que construção do trem-bala é complexa demais para ser apressada

Especialista diz que construção do trem-bala é complexa demais para ser apressada

DR

Da Redação

Publicado em 25 de novembro de 2010 às 21h38.

São Paulo - Ao lançar o projeto do trem-bala que vai ligar São Paulo ao Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que acha possível entregar a obra até as Olimpíadas de 2016. Lula afirmou que cogitou organizar o trabalho em dois ou até três turnos, aos sábados e domingos, desde que o objetivo fosse concluir o projeto com a melhor qualidade e no menor prazo. Entretanto, segundo o engenheiro especialista em transportes Creso Peixoto, apressar um projeto com esta complexidade vai gerar riscos "altíssimos e inadmissíveis".

Apesar de ser favorável ao projeto e reconhecer que seja possível concluí-lo até as Olimpíadas, Peixoto, que é professor do curso de engenharia da FEI, afirma que as características da obra a tornam inviável no curto prazo. "Este é um empreendimento que deve ser feito com calma para que não tenhamos perdas de recursos, nem de vidas durante a construção", afirma.

O engenheiro explica que a construção do trem-bala configura uma obra atípica. Por causa da alta velocidade dos veículos (acima de 200 km/h), será necessária uma linha resistente e praticamente sem curvas. Estas características do traçado, segundo Peixoto, aumentam a dificuldade de execução em algumas etapas do processo e multiplicam os custos.

Ele afirma que o quilômetro construído de uma ferrovia de alta velocidade custa 25 vezes mais do que em uma obra tradicional. "Os 33 bilhões de reais que serão gastos neste projeto seriam suficientes para construir, por exemplo, uma ferrovia regular ligando Florianópolis (SC) a São Luís (MA)", diz.

Além disso, Peixoto explica que a linha exigirá viadutos e túneis "gigantescos", principalmente no trecho que atravessa a Serra das Araras, antes de chegar à cidade do Rio de Janeiro. "Quando você constrói um trecho e inclui um túnel, multiplica o preço do quilômetro construído por 10. E nesta parte da serra, é provável que se façam muitos túneis", diz o professor da FEI.

Segundo o especialista, é justamente na região da Serra das Araras que estão os maiores riscos da obra. Ele afirma que a construção de um túnel nesta área requer o uso de um sistema de escavação similar ao empregado no trecho da linha amarela do metrô de São Paulo que desabou em janeiro de 2007.

"É um processo delicado. A gestão de incorporação do projeto pede rapidez, mas os gestores de riscos sabem que é preciso ir com calma. Um terreno com as características geológicas da serra dependem de um período de espera para que as estruturas rochosas se acomodem após cada corte. A obra não vai precisar de mais turnos ou empregados, e sim de calma, para que haja uma gestão de riscos eficiente", diz Peixoto.

Na opinião do professor da FEI, os altos riscos da obra não justificam apressar o processo, ainda que as pressões pela conclusão aumentem quando Copa e Olimpíadas se aproximarem. "Há outros problemas de infraestrutura muito mais urgentes. A questão dos aeroportos e da mobilidade urbana são bons exemplos. O trem-bala é um bom projeto, e o Brasil terá um em breve. Mas, a julgar pelos problemas que podem surgir com a pressa, este não é o momento."

Leia mais:  Sete países têm interesse no projeto do tem-bala

Acompanhe tudo sobre:EsportesFerroviasInfraestruturaOlimpíadasSetor de transporteTransporte e logísticaTransporte públicoTransportesTrem-balaTrens

Mais de Economia

Morre Ibrahim Eris, um dos idealizadores do Plano Collor, aos 80 anos

Febraban: para 72% da população, país está melhor ou igual a 2023

Petróleo lidera pauta de exportação do país no 3º trimestre

Brasil impulsiona corporate venturing para atrair investimentos e fortalecer startups