Em 2023 a balança comercial do Brasil registrou um superávit de US$ 98,8 bilhões (Germano Lüders/Exame)
Agência de notícias
Publicado em 5 de janeiro de 2024 às 16h13.
O forte resultado da balança comercial brasileira traz à memória o período de ouro das commodities, vivido no início dos anos 2000, e tem levado investidores a apostarem numa nova janela de valorização para o real.
O superávit do ano passado até o meio de dezembro já era o maior em mais de 30 anos. Neste ano foi além: a balança comercial do Brasil registrou um superávit de US$ 98,8 bilhões, o maior número já registrado na série histórica, que começou em 1989.
Em dezembro, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o saldo positivo foi de US$ 9,36 bilhões. Economistas ouvidos pela Bloomberg previam um superávit de US$ 7,7 bilhões no mês.
A notícia não poderia vir em melhor momento para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele lida com a perspectiva de uma desaceleração econômica e queda na arrecadação em 2024, quando precisará de recursos para bancar seu ambicioso plano de investimentos sem ameaçar a meta fiscal.
O sucesso econômico do Brasil durante os dois primeiros mandatos de Lula - de 2003 a 2010 - foi parcialmente ancorado num boom de commodities. Agora, mesmo com os preços das matérias-primas abaixo daqueles níveis, o volume das exportações do país cresceu com petróleo, soja e outros produtos agrícolas.
“Estamos vivendo um segundo período de bonança externa?”, dizem economistas do Bradesco, em relatório. “Além do petróleo, também estão crescendo as exportações de produtos agropecuários.” Eles escreveram que, nos 12 meses encerrados em outubro de 2023, o volume vendido de produtos agropecuários aumentou quase 30%.
A SPX Capital, que totaliza R$ 60,7 bilhões em ativos sob gestão, aposta em uma mudança estrutural que vai garantir superávits robustos pelos próximos anos.
A Verde Asset Management disse em carta a investidores em dezembro que abriu uma aposta otimista no real em relação ao dólar, com a leitura de que superávits anuais de US$ 100 bilhões ou acima provavelmente serão o “novo normal” para o país. O fundo justifica sua análise nos crescentes volumes exportados de petróleo e soja, que são os maiores componentes em valor da balança comercial brasileira.
A XP também espera que o real se fortaleça. Nesta semana, revisou suas estimativas para o câmbio de R$ 4,85 para R$ 4,70 baseado nas perspectivas de uma balança forte e na expectativa de cortes de juros pelo Federal Reserve.
“Houve uma mudança de nível na balança comercial brasileira” e os superávits devem seguir acima dos US$ 62 bilhões vistos em 2022, disse Rodolfo Margato, vice-presidente de pesquisa econômica da XP. Ele prevê superávit de US$ 86 bilhões em 2024.
O Brasil está colhendo os efeitos dos investimentos feitos na extração de petróleo nos últimos anos e do ganho de produtividade no agronegócio. Embora alguns fatores cíclicos tenham ajudado a balança comercial brasileira em 2023, “há elementos permanentes e estruturais que favorecem a produção de petróleo, soja e milho”, diz Margato.
O volume de exportações de soja aumentou 27% entre janeiro e novembro de 2023, para 98 milhões de toneladas, de 77 milhões de toneladas em 2022, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Em valor, as vendas de soja já representam 16,5% da receita total de exportação em 2023 até novembro, ante 14,7% para todo o ano de 2022.
As exportações de petróleo aumentaram quase 50% em volume nos últimos cinco anos, apesar das ambições de Lula de transformar o Brasil em um líder global em energia verde. Em novembro, o país foi convidado a aderir à aliança Opep+, num sinal da sua crescente relevância como fornecedor de petróleo.
À medida que as exportações aumentam, as contas externas do Brasil também melhoram. O déficit em conta corrente manteve-se estável em US$ 1,5 bilhão em novembro passado, em comparação com o ano anterior, impulsionado pelo superávit comercial que foi o maior da história para o mês.