Economia

Após reunião de Haddad com Lula, equipe econômica fica à espera de aval para corte de gastos

Fazenda trabalha em um pacote de R$ 30 bilhões a R$ 50 bilhões

12.01.2023 - Presidente Lula em reunião com Ministro da Casa Civil, Rui Costa, Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e Presidenta da Caixa, Rita Serrano. Foto: Ricardo Stuckert/PR (Ricardo Stuckert/PR/Flickr)

12.01.2023 - Presidente Lula em reunião com Ministro da Casa Civil, Rui Costa, Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e Presidenta da Caixa, Rita Serrano. Foto: Ricardo Stuckert/PR (Ricardo Stuckert/PR/Flickr)

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Publicado em 29 de outubro de 2024 às 06h22.

Última atualização em 29 de outubro de 2024 às 06h27.

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Em uma semana-chave do governo para decidir o tamanho e as medidas que serão incluídas no pacote de corte de gastos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para uma reunião de duas horas no Palácio da Alvorada.

O encontro terminou sem falas e com uma foto publicada por Lula nas redes sociais, em um gesto ao ministro, que tem sido alvo de críticas de alas do PT e do próprio governo em razão dos esforços para cortar despesas.

O ministro tem apresentado ao presidente um conjunto de medidas que podem ser propostas pelo governo ao Congresso Nacional. Na lista discutida pela equipe econômica estão mudanças no seguro-desemprego e no fundo de financiamento para a educação básica (Fundeb), por exemplo.

O debate sobre o reajuste real do salário mínimo foi interditado pelo presidente, assim como alterações em benefícios permanentes. A equipe econômica trabalha em um pacote de R$ 30 bilhões a R$ 50 bilhões.

Haddad voltou ontem a Brasília depois de passar a semana passada em Washington, nos EUA, e votar domingo em São Paulo. No início de novembro, ele deve fazer uma visita a países europeus. A viagem deve ocorrer poucos dias antes do G20 no Brasil, que acontece na segunda quinzena de novembro no Rio.

Por isso, esta semana é considerada decisiva. Como será preciso aprovar mudanças na legislação, a estratégia foi aguardar o segundo turno das eleições municipais para aprofundar as discussões.

Enquanto não anuncia o próximo passo para o corte estrutural de gastos, o governo alinha o discurso em favor das medidas. Ontem, a ministra do Planejamento,
Simone Tebet, defendeu o corte de políticas públicas ineficientes. Segundo ela, o Brasil está fazendo o dever de casa, mas falta ter a coragem para cortar porque não existe “social sem fiscal”.

"Não existe social sem fiscal. Os números estão aí para mostrar que tudo que tinha que dar certo deu. Só falta uma coisa: temos que ter a coragem de cortar aquilo que é ineficiente. Erros, fraudes já foram cortados em 2023 porque eles eram frutos da pandemia. Agora, é hora de acabar com políticas públicas que são ineficientes", disse a ministra, durante evento da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) em São Paulo.

Tebet destacou que a redução de despesas é importante para aumentar o volume de investimentos no Brasil, sobretudo em infraestrutura:

"É preciso investimento privado no Brasil, só investimento público é insuficiente. Entre os países emergentes, nós estamos bem abaixo. Só conseguiremos alavancar isso fazendo o dever de casa, como estamos fazendo, garantido segurança jurídica, estabilidade".

Segundo a titular da pasta responsável pela revisão de gastos, o corte das políticas ineficientes não visa somente ao superávit nas contas públicas. Mas trazer maior eficiência ao gasto.

No mesmo evento, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, afirmou que o Brasil tem plenas condições de atingir o grau de investimento e que o governo precisa cortar gastos para reverter as expectativas pessimistas.

"Nós temos todas as condições de atingir o grau de investimento, e o governo tem que cortar gastos com seletividade, com critério, sem comprometer o crescimento do investimento, mas tem que cortar e reverter a expectativa", disse Mercadante.

‘Choque fiscal positivo’

No início do mês, a agência de classificação de risco Moody's elevou a nota de crédito do Brasil deixando o país a um passo do chamado grau de investimento — quando o país é considerado seguro, com baixo risco de calote, o que atrai mais recursos estrangeiros.

O discurso da necessidade de retomar esse selo tem sido encampado pela equipe de Haddad para blindar o ajuste e defendê-lo junto a Lula e ao Congresso.

Em evento em Londres, ontem, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a defender um choque fiscal para que o Brasil tenha juros estruturalmente mais baixos.

"Acredito que, se tivermos um choque fiscal muito grande, provavelmente conseguiremos sair com taxas mais baixas. Como esse processo vai acontecer eu não sei, e seria muito difícil dar um passo a passo do que eu acho que vai acontecer, mas acho que precisa ser algo que produza uma mudança de expectativa grande o suficiente para reverter a previsão de inflação e que impactasse a nossa reação de forma positiva", disse.

O corte de gastos mira, além de melhorar as contas públicas, garantir que o arcabouço fiscal pare de pé a partir de 2026, quando se calcula que as despesas obrigatórias passarão a consumir uma parte maior do Orçamento.

Encerradas as eleições municipais, o mercado agora aguarda o pacote de corte de gastos, com detalhes que lhe pareçam factíveis. A desconfiança em torno da política fiscal tem sido um dos maiores empecilhos para a Bolsa, os juros e a moeda brasileira.

O voto de confiança do mercado, em especial para Haddad, limitou ontem estresses na curva de juros, o que ajudou a manter o câmbio estabilizado. A Bolsa fechou em alta de 1,02%. Já o dólar encerrou quase estável, com variação de 0,06%, a R$ 5,70.

Pedro Serra, gerente de Research da Ativa Investimentos, afirmou que, apesar de ainda não se ter um plano sobre contenção de gastos, as recentes falas do ministro ajudaram a arrefecer o sentimento negativo do mercado:

"A expectativa em si de um anúncio de corte de gastos muda bastante a dinâmica fiscal que vinha sendo vista até agora", explica.

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