Economia

Brasil eleva cota para importação de etanol de fora e Trump comemora

A medida vem logo após reunião do presidente americano com o chanceler brasileiro e Eduardo Bolsonaro, indicado para assumir a embaixada em Washington

Trump, Eduardo e Bolsonaro durante a reunião do G20 em Osaka, no Japão (Instagram/Reprodução)

Trump, Eduardo e Bolsonaro durante a reunião do G20 em Osaka, no Japão (Instagram/Reprodução)

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Reuters

Publicado em 2 de setembro de 2019 às 19h41.

Última atualização em 2 de setembro de 2019 às 19h49.

São Paulo - O governo brasileiro elevou para 750 milhões de litros, ante 600 milhões anteriormente, uma cota para importações anuais de etanol sem tarifa, que vigorará por 12 meses, segundo publicação no Diário Oficial da União durante o final de semana.

As importações ficam limitadas a 187,5 milhões de litros por trimestre, segundo portaria do Ministério da Economia e da Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais.

A medida, que deve favorecer principalmente os Estados Unidos, principais exportadores de etanol para o Brasil, veio após reunião do presidente norte-americano Donald Trump com o chanceler brasileiro Ernesto Araújo e o deputado federal Eduardo Bolsonaro, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a embaixada do país em Washington.

A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), que anteriormente chegou a defender o fim das importações sem tarifa, disse em nota que viu "uma grande vitória do governo brasileiro" na nova cota, uma vez que havia pressões pela liberalização total do mercado, com taxa zero para qualquer volume.

A associação citou "meses de tensão" antes do resultado das negociações e disse que o acordo final "demonstra firmeza do Brasil", uma vez que estabeleceu "condições para um incremento futuro do comércio bilateral de etanol".

No final de julho, a Unica defendeu que manter qualquer facilidade para importações favoreceria os Estados Unidos e prejudicaria a indústria de cana do Brasil, que havia se preparado para o final da cota para importações.

O governo brasileiro ainda não se manifestou oficialmente sobre a decisão em relação à cota de importações, mas segundo a Unica o novo limite foi estabelecido após negociações lideradas pela ministra da Agricultura, Teresa Cristina, com respaldo do presidente Jair Bolsonaro.

A decisão foi comemorada nesta tarde desta segunda-feira (02) por Trump no Twitter como "grande progresso para os nossos fazendeiros".

A guerra comercial entre Estados Unidos e China tem gerado restrições às exportações de produtores rurais do meio-oeste americano, uma de suas bases eleitorais.

Trump disse ainda que as usinas brasileiras também estavam comemorando a decisão, uma reação "aparentemente contra-intuitiva", por causa de negociações entre Brasil e EUA de um acordo comercial.

https://twitter.com/realDonaldTrump/status/1168644326982901763

Contrapartida

Segundo a Unica, as condições em troca da cota envolveriam "abertura do mercado americano de açúcar, um dos mais protegidos do mundo, e a implementação efetiva do E15 (mistura de 15% de etanol na gasolina, versus os 10% atuais) nos Estados Unidos". A associação, no entanto, não cita prazos para essas medidas.

A Unica disse que o tom proposto para as negociações pelo Ministério da Agricultura foi adotado por membros da equipe econômica, como o ministro da Economia, Paulo Guedes, e transmitido ao governo norte-americano pelo chanceler brasileiro Ernesto Araújo em "encontro que contou com a presença e influência de Eduardo Bolsonaro".

O filho do presidente Bolsonaro teve a indicação para a embaixada em Washington elogiada por Trump, mas a nomeação ainda não foi submetida ao Senado Federal.

Apesar da elevação da cota para importações, uma associação de produtores de biocombustíveis dos Estados Unidos criticou a decisão do governo brasileiro, que definiu como "desapontadora" porque "mantem barreira comercial protecionista contra o etanol dos EUA".

"A simbólica elevação da cota não ajuda em nada os consumidores brasileiros que enfrentam preços mais altos de combustíveis por causa da política discriminatória do Brasil", disse em nota a Renewable Fuels Association (RFA).

(Por Luciano Costa e Marcelo Teixeira)

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