Economia

Aplicações com impacto social miram no pequeno investidor

É possível investir em produtos que vão direcionar parte da receita para empresas ou projetos de cunho social

Fundo: "não é caridade. É lucro com propósito", defende chefe da área de investimentos em impacto social (foto/Reprodução)

Fundo: "não é caridade. É lucro com propósito", defende chefe da área de investimentos em impacto social (foto/Reprodução)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de julho de 2017 às 10h06.

São Paulo - A busca por experiências que vão além da simples compra de um bem ou serviço, e provoquem alguma mudança na sociedade, chegou ao mundo dos investimentos. Mais do que tirar o dinheiro da poupança e colocá-lo no Tesouro Direto ou em um CDB, aplicações mais conhecidas do brasileiro, é possível investir em produtos que vão direcionar parte da receita para empresas ou projetos de cunho social.

"Não é caridade. É lucro com propósito", defende Alexandre Azevedo, chefe da área de investimentos em impacto social da AZ Quest, primeira no Brasil a criar uma área voltada para investimentos de varejo com cunho social. O primeiro produto da área é o Fundo AZ Quest Azimut Impacto, que tem como público-alvo o pequeno investidor, com perfil mais conservador. O fundo investe em fundos tradicionais da gestora compostos por títulos de emissões bancárias, debêntures, juros, moeda e ações tanto no mercado doméstico quanto internacional.

Nessa aplicação, o investidor final fica com toda a rentabilidade e o viés de impacto é garantido pela gestora, que abre mão de 30% de sua taxa de administração líquida para direcionar esses recursos para aceleradoras e incubadoras de negócios de impacto social, que podem estar ligadas a educação, saúde, finanças e outras causas sociais. Os projetos que vão receber os 30% da gestora serão definidos pelo conselho da área, formado majoritariamente por profissionais ligados a negócios de impacto social.

O fundo foi lançado a mercado na última semana e tem aporte inicial de R$ 1 mil e taxa de administração de 1% ao ano. O fundo é classificado como multimercado, mas com volatilidade baixa, retorno de 105% do CDI e prazo de resgate de cinco dias.

Apesar de o investidor não estar envolvido nos riscos dos negócios de impacto, por não aplicar diretamente em uma empresa ou projeto da área, Walter Maciel Neto, CEO da Az Quest, entende que convencer as pessoas a "sair do CDB e optar por um investimento como esse, que proporciona mais do que rentabilidade, será um processo de convencimento, de gastar a sola do sapato".

Ele explica que o tema enfrenta vários obstáculos, inclusive regulatórios. Hoje, a única aplicação existente para investimento direto, sem passar pela gestora e outros intermediários, é o FIP (Fundo de Investimento em Participação). Os FIPs têm como público-alvo apenas os investidores profissionais, que possuem mais de R$ 10 milhões investidos.

Esse tipo de produto, porém, se "democratizou" sobretudo pela demanda dos mais jovens. A procura por investimentos de impacto têm surgido no mundo principalmente pela geração dos chamados millenials. Pesquisa do Bank of America (BofA) com investidores de maior renda mostra que 52% dos millenials (pessoas entre 21 e 36 anos) mostram maior interesse de investir em impacto, enquanto na geração X (entre 37 e 52 anos) esse número cai para 37%, e nos baby boomers (entre 53 e 72 anos), 29%. A pesquisa também revela que quatro em cada dez acreditam que as empresas com impacto positivo também desfrutam de um melhor desempenho financeiro.

Para garantir que um investimento é de impacto, Sérgio Lazzarini, professor do Insper, aconselha o investidor a perguntar ao fundo ou empresa quais parâmetros são adotados como baliza. Alguns fundos utilizam mecanismos padronizados de certificação, como o GIIRS e o selo do Sistema B, explica Lazzarini. Outros montam indicadores customizados de impacto para o seu negócio e podem passar ao investidor um relatório sobre o desempenho das empresas com base nesses indicadores.

Outras alternativas

Também é possível investir com viés de impacto social por meio de plataformas eletrônicas de investimento participativo - o "crowdfunding" de investimento, ou "equity crowdfunding" -, que também levantam capital para startups de impacto social. A Broota é uma dessas plataformas. Algumas aplicações começam a partir de R$ 2,5 mil, mas o investimento é de risco.

A Broota também é uma empresa com garantia do Sistema B, que certifica empresas que criam produtos e serviços voltados para resolver problemas socioambientais. A única empresa brasileira listada em Bolsa que está no Sistema B é a Natura. O Itaú também possui um portfólio de fundos de caráter socioambiental, que direcionam recursos para ações de empresas com boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa.

"Lucro social" existe?

O Global Impact Investing Network (GIIN) classifica os investimentos de impacto como aqueles feitos em empresas, organizações e fundos com a intenção de causar impacto social e ambiental ao lado de um retorno financeiro.

No Brasil, o assunto ganhou maior relevância após a divulgação das recomendações da Força Tarefa de Finanças Sociais para facilitar a conexão entre a oferta de capital e os negócios de impacto.

Entre as principais características do investimento de impacto social estão a intenção do investidor, o retorno e a gama de opções de ativos que podem se utilizar desse modelo.

Além de mostrar que o mercado financeiro não precisa existir só para o lucro, o objetivo desse tipo de investimento, segundo o GINN, é desafiar a noção de que as questões sociais e ambientais devem ser abordadas apenas por doações filantrópicas, apesar de se complementarem, como acredita Daniel Izzo, cofundador da Vox Capital, primeira empresa de investimentos de impacto social no Brasil.

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