Economia

Aparelhamento de Maduro fragiliza petroleira venezuelana

Foco crescente na política em detrimento do desempenho está contribuindo para uma deterioração rápida da indústria petrolífera da Venezuela

PDVSA: produção de petróleo venezuelana ruma para encerrar 2017 com um recorde negativo histórico (Howard Yanes/Bloomberg News./Bloomberg)

PDVSA: produção de petróleo venezuelana ruma para encerrar 2017 com um recorde negativo histórico (Howard Yanes/Bloomberg News./Bloomberg)

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Reuters

Publicado em 8 de agosto de 2017 às 11h59.

Caracas / Houston - Para sobreviver a meses de protestos nas ruas e a uma economia em queda livre, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, está tentando transformar a petroleira estatal venezuelana PDVSA em um bastião de apoio, degradando ainda mais uma companhia já vulnerável.

Indicados políticos estão ganhando influência à custa de executivos veteranos, e os funcionários estão cada vez mais pressionados a comparecer a eventos do governo e votar no governista Partido Socialista.

O foco crescente na política em detrimento do desempenho está contribuindo para uma deterioração rápida da indústria petrolífera da Venezuela, que abriga as maiores reservas mundiais de petróleo, e para uma fuga de talentos da empresa antes de nível internacional.

Entrevistas com duas dúzias de empregados atuais e antigos, com executivos estrangeiros do setor e com fornecedores mostram que a PDVSA está se esfacelando.

"Tudo é um desastre, e mesmo assim temos que aplaudir", disse uma funcionária da PDVSA, que pediu para permanecer anônima por medo de retaliação.

Depois de quatro meses de protestos com mais de uma centenas de mortos contra o impopular presidente venezuelano, a nova liderança da estatal está pressionando cada vez mais seu funcionalismo a participar de eventos do Partido Socialista, e às vezes exige cartas explicando ausências.

Gerentes disseram a seus funcionários que seriam multados a menos que votassem em 30 de julho na polêmica eleição da Assembleia Constituinte convocada por Maduro, que reescreverá a Constituição e foi denunciada por muitos como uma guinada rumo a uma ditadura.

Críticos vêm argumentando há tempos que a PDVSA -sigla para Petroleos de Venezuela SA-- vem sendo convertida no cerne corrompido do "socialismo do século 21" do ex-presidente Hugo Chávez à custa da antes florescente indústria petrolífera do país-membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

Agora a produção de petróleo venezuelana ruma para encerrar 2017 com um recorde negativo histórico, mas o governo de esquerda ainda depende muito da PDVSA como seu motor financeiro.

Isso obriga a administração a buscar um equilíbrio precário, e fontes dizem que as facções políticas estão cada vez mais envolvidas em disputas de poder dentro da empresa.

Uma equipe administrativa sênior indicada em janeiro, e que conta com muitos indicados políticos e militares, deixou o presidente da PDVSA, Eulogio Del Pino, um engenheiro graduado em Stanford, praticamente sem poder, de acordo com duas fontes de alto escalão da estatal e do governo, que falaram sob condição de anonimato por temerem represálias.

Enquanto isso, a infraestrutura da companhia está desmoronando, a produção dos poços atinge baixas históricas e as refinarias estão trabalhando em uma fração de sua capacidade.

Os funcionários da antes reluzente sede da PDVSA se queixam de que muitos elevadores não estão funcionando, que falta papel higiênico nos banheiros e que seus carros são invadidos no estacionamento. Papel e tinta são desviados para a impressão de cartazes políticos.

O governo vem negando há tempos as acusações de má administração, afirmando que existe uma campanha da direita para difamar o país e enfatizando o apoio da PDVSA a programas de bem-estar social.

Disputa de poder

Del Pino, um tecnocrata discreto que analistas do setor petrolífero veem como uma figura tranquilizadora, apesar da queda na produção sob seu comando, continua nominalmente à frente da PDVSA, apesar de ter perdido muitos de seus principais executivos em uma reformulação dos quadros em janeiro.

Mas o ministro do Petróleo, Nelson Martínez, ex-diretor da refinaria venezuelana nos EUA Citgo e aliado próximo de Maduro, negocia cada vez mais pactos de alto nível e viaja para congressos do setor representando a nação.

Entre os novos executivos proeminentes estão o diretor da divisão de negócios, Ysmel Serrano, que trabalhou para o atual vice-presidente da República, Tareck El Aissami, e o vice-presidente de Finanças, Simon Zerpa, jovem aliado de Maduro.

O influxo de executivos e administradores de nível médio inexperientes chama a atenção de executivos estrangeiros do setor, que dizem que às vezes passam horas esperando representantes da PDVSA e se queixam de que decisões simples são adiadas sem explicação.

"Na maioria das vezes, os executivos não respondem telefonemas ou emails. É surpreendente o quão jovens e despreparados alguns dos gerentes são", disse um representante de uma firma estrangeira que tem um contrato de fornecimento com a PDVSA.

Ele disse que o caos administrativo e operacional está piorando -- o tempo de espera para encher um navio-tanque, que era de 2 a 3 dias alguns anos atrás, chega a 30-40 dias.

Caso os Estados Unidos levem adiante a ameaça de impor sanções ao setor petrolífero da Venezuela, a debilitada PDVSA provavelmente teria dificuldade para reagir.

"Tanto a falta crescente de habilidade administrativa quanto a fragmentação da hierarquia dentro da PDVSA em feudos tornariam (uma reação) realmente difícil", disse Francisco Monaldi, especialista na indústria petrolífera venezuelana do Instituto Baker de Houston.

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