Economia

Ao fim de missão oficial, FMI afirma que dívida argentina é insustentável

Comunicado do FMI foi interpretado como boa notícia para a o país, já que o Fundo pede contribuição dos credores

Protestos contra FMI: dívida do país com o órgão é de cerca de 44 bilhões de dólares (Ricardo Cepp/Getty Images)

Protestos contra FMI: dívida do país com o órgão é de cerca de 44 bilhões de dólares (Ricardo Cepp/Getty Images)

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AFP

Publicado em 20 de fevereiro de 2020 às 07h09.

Última atualização em 20 de fevereiro de 2020 às 07h10.

São Paulo — A dívida da Argentina "não é sustentável", e o país requer que os credores privados contribuam para torná-la sustentável, concluiu nesta quarta-feira o FMI em um comunicado divulgado ao final de sua missão em Buenos Aires.

"É necessária uma operação de dívida definitiva, que gere uma contribuição apreciável dos credores privados, para ajudar a restaurar a sustentabilidade da dívida com uma alta probabilidade", afirmou a entidade.

"Nossa visão é que o superávit primário que seria necessário para reduzir a dívida pública e as necessidades de financiamento bruto a níveis consistentes com um risco de refinanciamento manejável e um crescimento do produto potencial satisfatório não é politicamente factível", explicou o organismo.

A dívida pública global do país superava os 311 bilhões de dólares em meados de 2019, mais de 90% do Produto Interno Bruto (PIB) argentino.

A dívida argentina com o FMI alcança os 44 bilhões de dólares. Dois meses após tomar posse, o presidente Alberto Fernández disse que a dívida atual é impagável e pede para o FMI e os credores renegociarem o prazo, o valor e os juros.

A Argentina havia quitado o total de sua dívida com o FMI em 2006, mas no governo de Mauricio Macri (2015-2019) assumiu o maior empréstimo de sua história, de 57 bilhões de dólares.

Com o país em recessão há quase dois anos e uma taxa de pobreza que chega a quase 40% da população, Fernández suspendeu as parcelas do FMI quando já somava-se 44 bilhões de dólares de endividamento.

Cientes da crise

A delicada situação pela qual o país sul-americano está passando já havia sido notada pela diretora-gerente da agência, Kristalina Giorgieva, em uma recente cúpula econômica no Vaticano, liderada pelo papa Francisco.

"Estamos cientes da difícil situação socioeconômica que a Argentina e sua população enfrentam e compartilhamos plenamente o objetivo do presidente Fernández de estabilizar a economia, proteger os mais vulneráveis da sociedade e garantir um crescimento mais sustentável e inclusivo", afirmou em um tom que antecipava o relatório desta quarta-feira.

O desemprego ultrapassa os 10%, os salários caíram e a inflação é uma das mais altas do mundo, de 53% ao ano.

O FMI considerou "muito produtivas" as reuniões com as autoridades argentinas "sobre seus planos e políticas macroeconômicas".

As primeiras medidas de Fernández buscaram aumentar os subsídios para pobres, aposentados e famílias em situação de vulnerabilidade, além de congelar impostos e combustíveis enquanto renegociavam a dívida, algo considerado por Fernández essencial para sair da crise.

O Fundo fez um diagnóstico sobre a evolução da economia desde o ano passado, destacando progresso.

"Desde julho de 2019, o peso se depreciou mais de 40%, o risco soberano aumentou perto de 1.100 pontos base, as reservas internacionais caíram cerca de US$ 20 bilhões e o PIB real retraiu mais do que o projetado", apontou o Fundo.

Enfatizou, no entanto, que "as reservas internacionais e o peso estabilizaram com o apoio dos controles de capital e do superávit comercial. A inflação e as expectativas de inflação caíram nos últimos meses".

Fernández prometeu ao eleitorado não pagar a dívida sem reativar a economia e acumular dólares para cancelar o passivo.

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