Néstor Kirchner: viagem para mediar o conflito entre Colômbia e Venezuela (.)
Da Redação
Publicado em 7 de agosto de 2010 às 09h30.
Bogotá - Os secretário-geral da Unasul, Néstor Kirchner, que viajou nesta sexta-feira a Bogotá para mediar o conflito entre Colômbia e Venezuela, foi surpreendido por uma inesperada denúncia do advogado de Álvaro Uribe contra Hugo Chávez perante o Tribunal Penal Internacional (TPI), o que ameaça ainda mais a crise diplomática.
Pouco depois que Kirchner chegou à capital colombiana procedente de Caracas, onde se reuniu com Chávez para mediar o conflito, o advogado de Uribe, Jaime Granados, confirmou a denúncia contra o governante venezuelano perante o TPI e um processo contra o Estado da Venezuela perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Esses fatos aconteceram poucas horas antes de Uribe deixar o poder que ostentou durante os últimos anos e ceder a Presidência colombiana a Juan Manuel Santos, seu ex-ministro da Defesa.
Em declarações à emissora televisiva "RCN", Granados explicou que a denúncia e o requerimento perante esses organismos internacionais respondem a uma violação dos direitos humanos por parte de Chávez, como pessoa natural, e da Venezuela, como Estado.
"Efetivamente, no dia de hoje (sexta-feira) remeti à sede de Haia do Tribunal Penal Internacional, ao escritório do procurador-geral dessa instituição, o doutor Luis Moreno Ocampo, a denúncia correspondente, e esperamos que ele aja", disse Granados.
Acrescentou que enviou também "a Washington, à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, um processo para efeitos de conseguir a reparação frente às gravíssimas situações de direitos humanos" por parte da Venezuela.
O advogado disse que essas violações dos direitos humanos também têm a ver com a suposta presença de guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do Exército de Libertação Nacional (ELN) em território venezuelano.
Tanto o processo quanto a denúncia responderiam ao suposto fato de os guerrilheiros prepararem ações terroristas em solo venezuelano para executá-las na Colômbia contra a população.
Perante estes fatos, o ex-presidente da Argentina e atual secretário-geral da Unasul manteve silêncio em sua chegada a Bogotá. Acredita-se que, em sua reunião com o presidente eleito, Juan Manuel Santos, que tomará posse neste sábado de seu cargo, se pronuncie.
A decisão de Uribe ameaça complicar ainda mais a crise com a Venezuela, que rompeu os laços diplomáticos no dia 22 de julho depois que a Colômbia denunciou perante a Organização dos Estados Americanos (OEA) a presença de guerrilheiros no país vizinho.
Apesar da ruptura, o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, deve assistir à posse de Santos neste sábado.
Esta presença representava um passo para encerrar a crise entre os países vizinhos, mas o processo e a denúncia apresentados nesta sexta pelo advogado de Uribe podem afetar o processo.
De fato, a presença de Maduro na posse de Santos foi vista com simpatia pela chanceler designada para o novo Governo, María Ángela Holguín.
"Esperemos algo bom, vamos ver", assinalou à agência Efe a diplomata, depois que uma fonte diplomática disse também que a presença de Maduro na posse de Santos é fruto de uma "iniciativa direta e pessoal" da própria María Ángela.
A nova chanceler foi embaixadora na Venezuela entre 2002 e 2004, período visto como positivo na gestão diplomática.
Por enquanto, também são desconhecidas as opiniões dos líderes latino-americanos. A grande maioria deles se encontra em Bogotá para assistir à posse de Santos.
Perguntados pelos jornalistas, os líderes preferiram não comentar a surpreendente decisão de Uribe às vésperas de uma mudança de Governo na Colômbia e no meio da pior crise diplomática do país com a Venezuela.
Santos e sua chanceler, além de tentar restaurar as relações com a Venezuela, deverão trabalhar para recompor os laços com o Equador, país que os rompeu em março de 2008.
A situação é complicada, apesar do otimismo que reina entre alguns países vizinhos, como o Brasil, como demonstrou o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu assessor especial para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.
O motivo, segundo Garcia, é o fato de a reunião realizada nesta sexta-feira, quando Lula e Kirchner se encontraram em Caracas com Chávez, ter sido "muito positiva", embora tenha dito que os avanços acontecerão "com calma" e que "o presidente Santos tem que ter seu tempo e não deve haver nenhuma pressão".