Economia

Angustiado com déficit, Mantega desmente consumo de caviar

A vigilância sobre os gastos públicos levou a questionamentos a respeito das refeições do ministro da Fazenda, que viu-se obrigado a se explicar


	Guido Mantega: a queda nos mercados brasileiros se ampliou depois que o governo reportou, na semana passada, um déficit de R$ 10,5 bilhões 
 (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Guido Mantega: a queda nos mercados brasileiros se ampliou depois que o governo reportou, na semana passada, um déficit de R$ 10,5 bilhões  (REUTERS/Ueslei Marcelino)

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Da Redação

Publicado em 7 de novembro de 2013 às 13h53.

São Paulo e Nova York - O crescente déficit orçamentário do Brasil está provocando uma onda de vendas em seus bônus internacionais de duas semanas, empurrando para cima o custo para assegurar sua dívida ao nível mais alto no mundo e levando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a explicar que ele não gasta o dinheiro do contribuinte em caviar ou camarão.

Os US$ 3,25 bilhões de bônus do país com vencimento em 2015 caíram 3,01 centavos desde que foram emitidos, em 23 de outubro, aumentando os rendimentos em 0,35 ponto percentual, para 4,66 por cento.

Os rendimentos da dívida do governo em mercados emergentes subiram uma média de 0,23 ponto percentual no mesmo período. Os swaps de crédito do Brasil subiram 11 por cento nos últimos 30 dias, o maior salto entre 73 países, segundo dados compilados pela CMA Ltd.

Os investidores estão ficando mais preocupados de que o Brasil sofra seu primeiro rebaixamento na nota de crédito em uma década depois que o país registrou o maior déficit de rendimento em quatro anos em 31 de outubro, o último sinal de que as contas públicas na maior economia da América Latina estão se deteriorando.

A Standard Poor’s colocou a classificação BBB do Brasil sob perspectiva negativa em junho, citando a dívida crescente e o crescimento lento.


“A preocupação de um rebaixamento da nota é muito mais evidente por causa da derrapagem fiscal”, disse Siobhan Morden, chefe de estratégia para a América Latina da Jefferies Group LLC em Nova York, em entrevista por telefone.

“O governo não está no controle das contas fiscais. É difícil restaurar a confiança no gerenciamento fiscal quando há inconsistência em toda a política e os dados mostram um deterioramento fiscal consistente”.

Vigilância de gastos

A vigilância sobre os gastos públicos inclusive levou a questionamentos a respeito das refeições de Mantega nesta semana, depois que a organização não-governamental Contas Abertas, que monitora as contas fiscais, revelou em 4 de novembro as opções do menu oferecido em voos oficiais.

O ministério respondeu com um comunicado dizendo que Mantega nunca escolheu o caviar e que ele paga por suas refeições quando come nos voos.

Um assessor de imprensa do ministério preferiu não fazer mais comentários.

A queda nos mercados brasileiros se ampliou depois que o governo reportou, na semana passada, um déficit de R$ 10,5 bilhões (US$ 4,6 bilhões) em setembro, superando o déficit de R$ 500 milhões previsto por 17 economistas em uma consulta da Bloomberg.


Como porcentagem do PIB, o déficit aumentou para 3,3 por cento nos 12 meses terminados em setembro, o maior desde 2009. O superávit primário, que exclui pagamentos de juros, encolheu para 1,6 por cento, menos que a meta do governo, de 2,3 por cento.

“O governo tem total controle da situação fiscal”, disse Mantega a repórteres ontem, em Brasília. “Nós apenas tivemos um ano difícil, porque a atividade econômica está se recuperando”.

Recursos do governo

Alberto Ramos, economista-chefe da Goldman Sachs Group Inc. para a América Latina, disse que as reservas estrangeiras do Banco Central, de US$ 376 bilhões, mostram que o governo tem recursos para enfrentar a crise do real.

“Não é como se essa história fosse terminar em lágrimas”, disse Ramos em entrevista por telefone. “Eles disseram o que tinham que dizer. Agora precisam percorrer o caminho”.

Os ativos brasileiros correm o risco de novos declínios se os EUA começarem a reduzir os estímulos, levando os investidores a deixarem os mercados emergentes, segundo Alejandro Urbina, que ajuda a gerenciar US$ 800 milhões em ativos na Silva Capital Management, em Chicago.

“O Brasil é visto como uma aposta fraca em mercados emergentes”, disse Urbina em uma resposta por e-mail a perguntas. “Após ter uma situação financeira forte no passado, o país agora está mostrando sinais de fraqueza. Está se tornando um crédito mais fácil de ser colocado à venda em comparação com outros”.

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