Economia

Angola celebra 10 anos de paz, após 42 anos de violência

O presidente José Eduardo dos Santos é líder de um governo agora questionado, mas apresentado como o pacificador e reconstrutor do país

Favela em Luanda, capital angolana que foi parcialmente destruída por 42 anos de combates que se iniciaram com a revolta contra a colonização portuguesa em 1961
 (Cecile de Comarmond/AFP)

Favela em Luanda, capital angolana que foi parcialmente destruída por 42 anos de combates que se iniciaram com a revolta contra a colonização portuguesa em 1961 (Cecile de Comarmond/AFP)

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Da Redação

Publicado em 3 de abril de 2012 às 11h04.

Luanda - Angola celebra nesta quarta-feira o 10º aniversário do fim da guerra civil com manifestações e shows para a glória do presidente José Eduardo dos Santos, líder de um governo agora questionado, mas apresentado como o pacificador e reconstrutor do país.

Dos Santos, também chefe do governista Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), inaugurará um monumento à paz na cidade de Luena, capital da província de Moxico, no sudeste do país.

Luena é o local onde foi realizada a operação no dia 22 de fevereiro de 2002 que terminou com a morte de Jonas Savimbi, até então líder da União Nacional pela Independência Total de Angola (UNITA), em guerra com o governo e com o MPLA.

A morte de Savimbi permitiu colocar um ponto final em uma guerra civil de 27 anos e assinar no dia 4 de abril de 2002 um cessar-fogo em Luanda, a capital angolana já parcialmente destruída por 42 anos de combates que se iniciaram com a revolta contra a colonização portuguesa em 1961.

Após a independência, em 1975, o país afundou na guerra civil entre o MPLA, que tinha o apoio da União Soviética e de Cuba, e a aliança entre a UNITA e a Frente Nacional para a Libertação de Angola (FNLS), auxiliada pelos Estados Unidos e pelo regime sul-africano do apartheid.

Depois de ter transformado o país em um campo de batalha, as duas partes cederam à pressão internacional e assinaram um acordo de paz no dia 31 de maio de 1991, que permitiu realizar eleições em 1992, nas quais Dos Santos se tornou presidente do país.

Savimbi, no entanto, questionou o resultado das eleições e retomou as armas apoiando-se na exploração de diamantes para financiar a guerra, até que uma emboscada montada pelas forças regulares angolanas terminou com a morte do líder rebelde e pôs fim ao confronto.

Os conflitos deixaram meio milhão de mortos e provocaram o deslocamento de quatro milhões de pessoas em um país de aproximadamente 18 milhões de habitantes. O país ficou economicamente exausto e com a grande maioria de suas infraestruturas destruídas.


Dez anos depois do fim da guerra e apesar do desenvolvimento econômico, Angola ainda carrega os estigmas do conflito, e a paz ainda não chegou ao enclave de Cabinda, preso entre a República Democrática do Congo e a República do Congo (Congo-Brazzaville), foco de tensões separatistas.

Este país continua sendo um dos mais contaminados por minas terrestres em todo o mundo, e por outros restos explosivos da guerra.

Segundo o Observatório Internacional de Minas, cerca de 2,4 milhões de habitantes, equivalentes a 17% da população, vivem em uma zona de risco devido à presença de minas ainda enterradas.

"Outra herança da guerra é a ineficiência das políticas públicas, que não eram prioridade durante o conflito", disse Markus Weimer, especialista em Angola no instituto de pesquisas Chatham House, de Londres.

Toda uma geração de angolanos incapazes de ir regularmente à escola durante a guerra também afeta seriamente o nível de educação da população, acrescentou o especialista.

Para o sociólogo angolano João Baptista Lukombo Nzatuzola, a vida política continua sendo muito marcada pelo conflito armado, como a forte cultura da figura do chefe e a reticência ao debate interno nos partidos políticos.

"Podemos falar de um bloqueio mental diante do debate contraditório", disse, para mencionar a repressão às manifestações que começaram há um ano, nas quais jovens questionam o presidente, no poder há 33 anos.

Os jovens protestam para denunciar a ausência de democracia, a corrupção de funcionários públicos e a pobreza endêmica indigna de um país petrolífero. Em setembro estão previstas eleições legislativas.

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