(Spencer Platt/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 5 de abril de 2020 às 08h00.
Última atualização em 6 de abril de 2020 às 21h10.
Economistas recorrem a um cardápio de sopa de letrinhas na tentativa de prever a recuperação da economia mundial do que deve ser a pior recessão desde pelo menos 2009 e, talvez, desde a Segunda Guerra Mundial.
Uma recuperação em V, na qual a retomada é tão rápida quanto a queda era a trajetória mais esperada no início, mas, agora, mais economistas começam a se preocupar com uma trajetória em U. Os mais pessimistas acreditam que o crescimento global pode seguir um caminho em L ou W, ou outro mais distorcido com pouca semelhança com as letras romanas.
“Existe uma relação complexa entre o caminho do vírus, a eficácia das políticas de contenção e suporte econômico e o comportamento do setor privado”, disseram economistas do JPMorgan Chase, liderados por Bruce Kasman, em relatório a clientes nesta semana. “Consequentemente, há uma enorme incerteza sobre o caminho a seguir, lembrando o ditado ‘prever é difícil, especialmente o futuro’”.
Confira como seria a recuperação em cada cenário:
O vírus desapareceria na Europa e nas Américas em abril ou maio, permitindo que as regras de distanciamento social sejam flexibilizadas. A demanda reprimida deslancha, puxada pelo grande estímulo fiscal e monetário já implementado. Fábricas e serviços são capazes de retomar as operações sem problemas. Os esforços de governos para impedir que as empresas demitam trabalhadores são bem-sucedidos e o desemprego diminui. As economias retornariam aos níveis de produção pré-crise no início de 2021.
A pandemia persiste até junho e as regras de distanciamento social levam tempo para serem flexibilizadas. Embora a demanda reprimida seja liberada, em parte pelo estímulo de governos e bancos centrais, consumidores demoram para voltar às lojas ou restaurantes. Isso porque fábricas e outras empresas demoram para retomar a capacidade total e nem todos os empregos perdidos na crise são recuperados. Alguns precisam pagar dívidas que se acumularam durante a crise. O comércio global também permanece lento, pois os parceiros comerciais também levam tempo para se recuperar. A recuperação finalmente se concretiza, mas apenas no fim de 2020 ou depois.
O vírus ainda circula no segundo semestre, o que obriga manter as regras de distanciamento social além de junho.
Mesmo que desapareça antes de meados do ano, ainda há uma chance de a recessão ser mais longa do que o previsto ou a recuperação demorar mais. Nesse cenário, as pessoas continuam reduzindo gastos com serviços - optando por manter seus home theaters - e resistem a tirar férias. As dívidas acumuladas antes ou durante a crise tornam-se difíceis de pagar, desencadeando uma espiral de inadimplência e recuperações judiciais que poderiam levar a uma crise de crédito. Os mercados de ações não conseguem se recuperar.
O vírus retorna. Acadêmicos do Imperial College, em Londres, alertaram que, se as medidas para controlar a pandemia forem reduzidas prematuramente, o vírus poderá retornar. Isso significaria a reimposição de restrições, o retorno da incerteza e o fechamento de locais de trabalho e prestadores de serviços novamente. O resultado seria uma recuperação seguida por nova recessão
Também conhecido como “logomarca da Nike”, esse cenário permite que empresas e gastos sejam retomados lentamente, à medida que os limites são flexibilizados com mais cuidado do que foram introduzidos. O nível de produção econômica permanece abaixo do nível de sua tendência pré-crise até 2021 e há a falta de espírito animal, pois consumidores permanecem cautelosos em gastar demais ou fazer viagens de longa distância, especialmente se tiverem que pagar dívidas.
Economistas não descartam que a recuperação possa parecer muito diferente de qualquer forma com as que estão acostumados.
Paralelamente a um caso base global para uma trajetória em ‘U’ nos próximos trimestres, Joachim Fels, assessor de economia global da PIMCO, alertou em nota no mês passado que “esse ‘U’ pode inicialmente ser sentido como um ‘I’, pois o crescimento econômico se retrai acentuadamente.”